Mundo

Divulgação de carta ao Papa provoca temor de "Vatileaks"

Nesta carta, os 13 cardeais, figuras conhecidas de vários continentes, contestam a organização do Sínodo


	Bispos e cardeais saem do sínodo no Vaticano: "Este é um novo Vatileaks. Uma carta particular pertencente ao Papa. Como foi publicada?", reagiu um dos signatários
 (Reuters / Max Rossi)

Bispos e cardeais saem do sínodo no Vaticano: "Este é um novo Vatileaks. Uma carta particular pertencente ao Papa. Como foi publicada?", reagiu um dos signatários (Reuters / Max Rossi)

DR

Da Redação

Publicado em 13 de outubro de 2015 às 14h07.

A divulgação, em circunstâncias misteriosas, de uma carta privada ao Papa Francisco assinada por 13 cardeais conservadores denunciando o funcionamento do Sínodo sobre a família elevou a tensão nesta terça-feira no Vaticano, com um dos signatários evocando o espectro de um novo "Vatileaks".

"Quem vazou está tentando entorpecer o Sínodo dos bispos", lamentou o porta-voz do Vaticano, o padre Federico Lombardi.

Na carta confidencial datada de 5 de outubro, os 13 cardeais, figuras conhecidas de vários continentes, contestam a organização do Sínodo, explicando temer que os progressistas sejam beneficiados.

O texto foi divulgado na segunda-feira pelo vaticanista Sandro Magister, um dos críticos do pontificado de Francisco, excluído da sala de imprensa em junho por ter divulgado o texto da encíclica "Laudato se" antes de sua publicação oficial.

A divulgação causou confusão e desconfiança entre os 400 participantes da assembleia, entre bispos e cardeais de todo o mundo.

"Este é um novo Vatileaks. Uma carta particular pertencente ao Papa. Como foi publicada?", reagiu um dos signatários, o cardeal alemão Gerhard Ludwig Müller, guardião da doutrina em Roma, exigindo que os responsáveis pelo vazamento sejam revelados.

Em 2012, documentos confidenciais dirigidos ao papa Bento XVI foram vazados à imprensa. Seu mordomo, Paolo Gabriele, foi condenado por transmitir estes documentos. Posteriormente, foi perdoado.

O cardeal australiano George Pell, todo-poderoso secretário para a Economia, admitiu ter assinado a carta, afirmando que o texto publicado continha imprecisões e que a lista dos signatários não era precisa.

"As assinaturas estão erradas, mas sobretudo o conteúdo está equivocado. A maior parte do conteúdo não corresponde a realidade. Não sei por que divulgaram isso e quem vazou o texto assim", acrescentou.

Estranhamente, quatro cardeais erroneamente citados formalmente negaram ter assinado o texto, em particular o cardeal de Paris, André Vingt-Trois, um dos vice-presidentes do Sínodo, e o cardeal de Budapeste, Peter Erdo, seu relator-geral.

Na segunda-feira, o porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, pediu aos jornalistas que fossem cautelosos com o texto e seus supostos signatários.

A carta se concentra na proibição da comunhão para divorciados novamente casados, que eles consideram algo inegociável. Também questiona indiretamente a neutralidade da comissão que o Papa encarregou de elaborar o documento final do Sínodo.

"Quem difundiu a carta provocou um transtorno indesejado pelos signatários", assegurou o porta-voz do Vaticano.

"Não há o que contestar. É possível tecer comentários sobre a metodologia do Sínodo, que é nova. Mas, uma vez adotada esta metodologia, é necessário comprometer-se com sua aplicação da melhor maneira possível", acrescentou.

Por sua vez, o cardeal Donald Wuerl, arcebispo de Washington e membro da comissão, no entanto, garantiu ao jornal britânico The Tablet que não viu "a manipulação que eles falam. Participo de sínodos desde 1990 e este é um dos mais abertos".

Atualizado 14h07.

Acompanhe tudo sobre:Igreja CatólicaPaíses ricosPapa FranciscoPapasVaticano

Mais de Mundo

Votação antecipada para eleições presidenciais nos EUA começa em três estados do país

ONU repreende 'objetos inofensivos' sendo usados como explosivos após ataque no Líbano

EUA diz que guerra entre Israel e Hezbollah ainda pode ser evitada

Kamala Harris diz que tem arma de fogo e que quem invadir sua casa será baleado