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Divulgação, alta bilionária e recuo: o que se sabe sobre Milei e a criptomoeda Libra

Na última sexta-feira, o ultraliberal promoveu um projeto baseado no investimento em uma criptomoeda chamada Libra para financiar pequenas empresas

Milei: após publicação, presidente argentino se vê em meio a uma crise

Milei: após publicação, presidente argentino se vê em meio a uma crise

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 16 de fevereiro de 2025 às 11h59.

Última atualização em 16 de fevereiro de 2025 às 12h23.

Uma publicação no X, antigo Twitter, desencadeou uma crise para o presidente da Argentina, Javier Milei. Na última sexta-feira, o ultraliberal promoveu um projeto baseado no investimento em uma criptomoeda chamada Libra para financiar pequenas empresas.

O ativo teve um aumento de 10 vezes em seu preço, mas despencou horas depois, em meio a acusações de fraude e pedidos de um impeachment da oposição.

O que dizia a postagem de Milei sobre a criptomoeda Libra

Segundo imagens reproduzidas pela imprensa argentina, Milei fez uma publicação no X, fixada em seu perfil por mais de cinco horas, com um link para uma iniciativa chamada "Projeto Viva La Libertad", que emulava seu slogan "Viva a liberdade, caral**".

"O mundo quer investir na Argentina. $LIBRA", dizia a mensagem do presidente publicada, com o nome do token, uma unidade de valor digital baseada na tecnologia blockchain que não é lastreada por dinheiro real.

A criptomoeda $LIBRA era "um projeto privado" que seria dedicado a "incentivar o crescimento da economia argentina, financiando pequenos negócios e startups argentinas".

Recuo de Milei

Após acusações da oposição de um suposto golpe ou esquema de pirâmide, o presidente argentino apagou a publicação que promovia a criptomoeda.

"Eu não estava ciente dos detalhes do projeto e após tomar conhecimento dele decidi não continuar a divulgá-lo", disse Milei no sábado, no X.

Pedido de investigação

Em meio à repercussão, o governo Milei anunciou uma "investigação urgente" sobre o lançamento de uma criptomoeda promovida pelo presidente.

O gabinete presidencial informou que decidiu encaminhar imediatamente o assunto ao Escritório Anticorrupção (OA) para determinar se houve conduta imprópria por parte de qualquer membro do governo nacional, incluindo o próprio presidente. As empresas envolvidas com a criptomoeda também serão investigadas.

Qual o tamanho do rombo?

Segundo o jornal La Nacion, quase 80% do ativo $LIBRA estava nas mãos de poucos detentores antes do apoio de Milei. O site para promoção da moeda divulgada por Milei foi criado instantes antes da publicação do presidente argentino.

Seguindo a mensagem de Milei, o valor da criptomoeda saltou de US$ 0,45 para um pico de US$ 4,978, e os detentores originais começaram a vender com lucro de milhões, mas o valor do ativo despencou. Toda a operação durou cerca de duas horas e envolveu um volume de aproximadamente US$ 4,5 bilhões, segundo o veículo argentino.

Em entrevista ao jornal Clarin, Mariano Biocca, diretor-executivo da Câmara Argentina de Fintech, disse que ainda não é possível precisar qual foi o valor do prejuízo para quem investiu na criptomoeda. Ele alertou ainda que o caso pode impactar a confiança na indústria cripto argentina.

Um dos responsáveis pela moeda diz que devolverá o dinheiro

Hayden Davis, CEO da Kelsier Ventures, uma das empresas envolvidas na criptomoeda, disse, em um vídeo publicado no X, que é consultor de Milei sobre tokenização e prometeu devolver o dinheiro aos investidores que tiveram prejuízo.

O jovem empresário se encontrou com Milei há duas semanas na Casa Rosada para "acelerar o desenvolvimento tecnológico argentino e fazer da Argentina uma potência tecnológica mundial".

“Como custodiante — e não proprietário — desses fundos, não me sinto confortável em transferi-los para os associados de Milei ou para a equipe do KIP. Em vez disso, após consultar especialistas, proponho reinvestir 100% dos fundos sob meu controle, até US$ 100 milhões, no Libra Token e queimar todo o fornecimento adquirido. A menos que uma alternativa mais viável seja apresentada, pretendo iniciar a execução deste plano nas próximas 48 horas”, disse.

Davis afirmou que era responsável por garantir a liquidez do projeto, criticou a decisão de Milei de excluir a publicação e disse que os investidores se sentiram traídos.

“É crucial reconhecer que os investimentos em memecoins são baseados na confiança e no endosso de figuras públicas. Quando Milei e sua equipe excluíram suas postagens, os investidores que compraram o token contando com o apoio deles se sentiram traídos. Isso desencadeou uma onda de vendas motivada pelo pânico, agravando ainda mais a situação. A perda repentina de confiança teve um impacto catastrófico na estabilidade do mercado de tokens”, afirmou o empresário americano.

Além de Davis, a imprensa argentina aponta que Julian Peh, CEO da empresa de tecnologia KIP Protocol, e Mauricio Novelli, representante do KIP Protocol na Argentina, também estão entre os nomes envolvidos na criação da criptomoeda. Todos os nomes tiveram encontros anteriores com Milei.

Oposição vai pedir impeachment de Milei

Os deputados do partido União pela Pátria anunciaram, no sábado, que vão apresentar um pedido de impeachment contra Javier Milei pelo escândalo desencadeado por sua promoção da criptomoeda Libra.

Por meio do X, os legisladores da União pela Pátria consideraram que este é "um escândalo sem precedentes".

"A participação de Milei em crime de fraude com criptomoedas é gravíssima", disseram os deputados, antes de confirmar que seguirão adiante "na apresentação do pedido de impeachment contra o presidente".

Figuras da oposição denunciaram a medida, incluindo a ex-presidente (2007-2015) e líder do peronismo Cristina Kirchner, que, em sua conta no X, chamou Milei de "golpista de criptomoedas" e disse que ele operava "como um gancho para um golpe digital".

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