Joe Biden: eventual vitória por assentos da Geórgia no Senado pode dar o controle aos democratas (Joshua Lott/The Washington Post/Getty Images)
Filipe Serrano
Publicado em 4 de janeiro de 2021 às 06h00.
Última atualização em 4 de janeiro de 2021 às 11h03.
A política dos Estados Unidos começou o ano de 2021 aquecida. Nesta segunda-feira (4), tanto o presidente eleito Joe Biden quanto o presidente Donald Trump devem participar de eventos de campanha no estado da Geórgia para apoiar os candidatos democratas e republicanos que disputam duas vagas no Senado americano.
As viagens de Biden e Trump ocorrem um dia depois de o jornal Washington Post divulgar áudios de um telefonema recente de Trump com autoridades da Geórgia em que o presidente faz pressão por uma recontagem dos votos da eleição presidencial em novembro para reverter o resultado a seu favor.
A revelação das gravações gerou críticas ao presidente republicano e pode ter impacto na eleição da terça-feira (5) para as duas vagas no Senado.
O que está em jogo é o controle da casa legislativa por republicanos ou democratas, e o resultado pode “determinar o percurso do governo Biden”, nas palavras do ex-presidente Barack Obama.
Os democratas esperam conquistar os dois assentos na Geórgia para igualar o número de votos dos senadores republicanos (50). Nessa situação, o desempate é dado pelo presidente do Senado, um posto que nos Estados Unidos é ocupado pelo vice-presidente. Isso daria aos democratas uma leve vantagem. A vice-presidente eleita Kamala Harris poderia ajudar a aprovar projetos do governo Biden.
Na eleição de novembro, os democratas mantiveram o controle da Câmara dos Representantes (equivalente à Câmara de Deputados) – embora por uma margem menor. Mas o controle do Senado ficou em aberto por causa da disputa dos dois assentos na Geórgia, que foram para o segundo turno porque nenhum dos candidatos no estado teve mais de 50% dos votos.
Se os democratas tiverem sucesso na terça-feira, uma vantagem no Senado pode ajudar Biden a ter apoio do Congresso para aprovar os projetos de estímulos fiscais e medidas de combate ao aquecimento global. Do contrário, os republicanos podem barrar as propostas legislativas de Biden.
A Geórgia foi um dos estados decisivos para a vitória de Biden em novembro. O presidente eleito teve 49,5% dos votos no estado contra 49,3% de Donald Trump, e venceu com uma diferença de apenas 11.779 votos. Foi a primeira vitória de um candidato democrata no estado desde a eleição de Bill Clinton em 1992.
A Geórgia era considerada um estado republicano. Mas mudanças demográficas, a maior participação da população nas eleições e a possibilidade de votar antecipadamente e por correio mudaram o cenário em 2020.
A expectativa dos democratas é que as mesmas forças que ajudaram a eleger Biden no estado possam assegurar a vitória dos dois assentos no Senado.
O caminho não será fácil. As pesquisas eleitorais mostram que os candidatos ao Senado virtualmente empatados. O atual senador republicano David Perdue tem 47,4% das intenções de voto contra 49,2% do democrata Jon Ossoff, na média das pesquisas calculada pelo site FiveThirtyEight. Na segunda disputa, a atual senadora republicana Kelly Loeffler aparece nas pesquisas eleitorais com 47,2% dos votos contra 49,5% do candidato Raphael Warnock, do partido Democrata.
Os democratas precisam garantir a vitória dos dois assentos para conquistar a maioria no Senado, o que torna a disputa ainda mais dura. A consultoria Eurasia calcula que as chances de sucesso para os democratas são de 30% a 35%.
A eleição para o Senado na Geórgia ocorre em uma semana agitada na política americana. Na noite de domingo, a presidente da Câmara Nancy Pelosi se reelegeu para o comando da casa para a próxima legislatura. No dia 6, quarta-feira, o Congresso se reúne para contar os votos do Colégio Eleitoral. O processo é o último passo necessário para confirmar o resultado da eleição e costuma ser apenas uma formalidade, mas desta vez alguns políticos do partido Republicano, aliados de Trump, ameaçam votar contra a confirmação de Biden. Ainda que cumpram a promessa, o número não deve ser suficiente para mudar o resultado da eleição. Como se vê, Biden tende a enfrentar uma oposição forte no seu governo que ainda nem começou. Por isso, obter o controle do Senado é ainda mais importante para ele.