Sergei Filin (D), diretor artístico do Teatro Bolshoi: "pensei que iam atirar em mim. Eu me virei para fugir, mas fui agarrado e pegou em meu rosto", contou o ex-bailarino (Yuri Kadobnov/AFP)
Da Redação
Publicado em 18 de janeiro de 2013 às 10h50.
Moscou - O diretor artístico do Teatro Bolshoi, o bailarino Serguei Filin, foi hospitalizado com graves queimaduras no rosto e nos olhos depois que um desconhecido lançou ácido contra ele na quinta-feira em Moscou, um incidente que evidencia as ferozes lutas internas no teatro mais famoso da Rússia.
Um desconhecido atacou o coreógrafo na noite de quinta-feira, jogando ácido em seu rosto quando ele se encontrava na entrada do edifício de sua casa no centro de Moscou.
"Pensei que iam atirar em mim. Eu me virei para fugir, mas fui agarrado e pegou em meu rosto", contou o ex-bailarino com a cabeça vendada a uma equipe da cadeia Ren-TV, falando em seu quarto no hospital.
Filin teve queimaduras de terceiro grau e seus olhos foram afetados.
"O estado de Serguei é grave, mas sua vida não corre perigo. O mais importante é salvar sua vista". declarou à AFP Katerina Novikova, a porta-voz do Bolshoi.
Segundo a televisão russa, os médicos apenas se pronunciarão sobre o dano em seus olhos dentro de duas semanas.
A polícia moscovita abriu uma investigação por lesões intencionais e afirmou que trabalha com a suspeita de uma motivação profissional.
A porta-voz do teatro, uma amiga próxima ao bailarino, enfatizou que Filin estava recebendo ameaças desde o momento em que foi nomeado diretor artístico do Bolshoi.
"Desde que ocupou o cargo, Serguei era permanentemente ameaçado e seus antecessores também", disse à televisão.
Com estas declarações, Filin deu a entender que este ataque provavelmente está relacionado a rivalidades profissionais.
"Nunca pensamos que a guerra pelos papeis poderia chegar a este nível criminal. Sempre achamos e sempre quisemos acreditar que as pessoas do mundo do teatro tinham um mínimo de moral. É por isso que esta história é terrível", afirmou aporta-voz do teatro.
Recentemente, desconhecidos furaram os pneus do carro do diretor artístico e seu correio eletrônico, assim como sua conta na rede social Facebook, foram hackeados.
O mundo do balé não aparentou ficar surpreso com este ataque a Serguei Filin.
"O diretor artístico toma decisões muito importantes sobre a remuneração dos artistas, sobre quem interpretará cada papel", declarou à emissora de rádio Eco de Moscou uma ex-bailarina do Bolshoi, Anastasia Volochkova, que sublinhou a "crueldade do mundo do balé".
"Há uma luta terrível pelos papeis, pela ascensão", explicou.
O coreógrafo Alexei Ratmanski, ex-diretor artístico do Bolshoi, considerou que o ataque contra Filin "não foi uma casualidade".
Ratmanski criticou especialmente a "prática repugnante do pagamento de aplausos [...] os traficantes e revendedores de entradas, os fãs meio loucos dispostos a esganar os rivais de seus ídolos".
A causa de tudo isto é o desaparecimento progressivo da ética do teatro, acrescentou.
Contudo, o historiador do balé Vadim Gaievski lembrou à AFP que as intimidações não eram uma novidade no Bolshoi e explicou que, no período soviético, a famosa bailarina Galina Ulanova recebeu uma carta de alguém ameaçando quebrar suas pernas.
Filin, de 42 anos, começou a dançar no Bolshoi em 1998, antes de se tornar, em 2008, o diretor artístico de outro teatro musical moscovita, o Stanislavski e Nemirovich-Danchenko, que se transformou em um dos palcos mais prestigiados da Rússia.
Em março de 2011, sustituiu Yuri Burlaka no cargo de diretor artístico do Bolshoi.