Trump - Pennywise: diretor de filme comparou presidente americano a personagem (Yuri Gripas/Reuters - It: A Coisa/Divulgação/Exame)
AFP
Publicado em 3 de setembro de 2019 às 16h48.
Última atualização em 3 de setembro de 2019 às 16h49.
Pennywise, o palhaço assassino que espreita nos esgotos e se alimenta do pânico das crianças, talvez seja a criação mais maligna que já surgiu da mente de Stephen King.
Mas Andy Muschietti, o diretor argentino da adaptação cinematográfica de "It", em seus dois capítulos, polemizou ao afirmar que a macabra criação de King tem muito em comum com uma figura da vida real: o presidente Donald Trump.
"Ele faz exatamente a mesma coisa que o palhaço", diz à AFP. "O palhaço está tentando dividir 'os perdedores' o tempo todo, colocá-los uns contra os outros e enfraquecê-los", afirma, referindo-se ao apelido do grupo de pré-adolescentes inadaptados que são os heróis de "It".
"É assim que ele vence, tenta dominá-los e destruí-los".
Traçar paralelismos entre este ícone do terror e o inquilino da Casa Branca provavelmente surpreenderá muita gente.
Mas para além do palhaço assassino, o romance de King era já uma exploração das entranhas obscuras dos Estados Unidos, acredita Muschietti, abordando temas sinistros mas tragicamente reais como o abuso conjugal e o incesto.
A sequência "It - Capítulo Dois", que estreia na quinta-feira na América Latina e na sexta-feira na Espanha e nos Estados Unidos, percorre as partes finais do romance, nas quais as crianças, que agora cresceram e são bem-sucedidas fora de sua pequena cidade, precisam voltar para enfrentar Pennywise novamente.
O filme recria uma famosa cena do romance na qual um jovem gay sofre um ataque homofóbico selvagem de uma gangue, que se baseou em um incidente da vida real em Bangor, uma cidade do estado de Maine (nordeste), onde vive King.
Uma popular adaptação do romance como minissérie de TV em 1990 a havia omitido, mas Muschietti considerou que a cena era crucial para fazer "um filme que está conectado com os tempos que vivemos".
"Vivemos em uma cultura de medo, com líderes que tentam dividir as pessoas, para nos controlar, dominar e fazer que nos enfrentemos entre nós", afirma o diretor.
King, aberto crítico de Trump, não pôde pretender fazer a analogia de Muschietti em 1986, o ano de publicação de "It", embora tenha criado para seu romance anterior, "The Dead Zone" (1979), o personagem de um outsider populista destinado a ocupar a presidência dos Estados Unidos.
Muschietti conta que o mestre do terror foi um apoio à direção das adaptações cinematográficas, e inclusive fez uma participação na sequência.
"É muito respeitoso com as adaptações", disse o cineasta, que mostrou o roteiro a King antes da filmagem. "Na verdade fui eu que me aproximei dele".
A experiência esteve longe de se parecer com a de Stanley Kubrick, cuja adaptação do romance "O Iluminado" em 1980 lhe rendeu críticas de King por se afastar da trama original.
"Sentiu-se insultado, mas mudou muito desde então", opina Muschietti.
Muschietti disse que sua própria forma de trabalhar mudou muito desde seu bem-sucedido filme de 2013 "Mama", que assim como "It - Capítulo Dois" foi produzido por sua irmã Barbara e protagonizado por Jessica Chastain.
"Aprendi a relaxar um pouco mais e desfrutar o processo, que é uma coisa que não fiz em meu primeiro filme, compreensivelmente, suponho", diz.
Em 2017, "It - Capítulo Dois" arrecadou 700 milhões de dólares, tornando-se o filme de terror de maior bilheteria de todos os tempos.
A sequência, segundo Muschietti, contou com um orçamento de entre 60 e 70 milhões. E alguns prognósticos acreditam que a arrecadação de bilheteria pode atingir um bilhão.
"Não quero pensar muito nisso, prefiro ter expectativas baixas para começar", disse, antes de admitir que a duração de quase três horas do filme é mais ambiciosa.
"É maior, é uma história mais longa e mais rica, é um pouco mais intensa em cada cena... é como uma punhalada no coração".