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"Diplomacia dos 140 caracteres" de Trump agita política externa

Como candidato presidencial, Trump revolucionou a campanha eleitoral com o uso veemente do Twitter para atacar seus rivais políticos

Donald Trump: bastaram 138 caracteres para ameaçar reverter um dos maiores legados de Obama (Drew Angerer/Getty Images)

Donald Trump: bastaram 138 caracteres para ameaçar reverter um dos maiores legados de Obama (Drew Angerer/Getty Images)

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EFE

Publicado em 29 de dezembro de 2016 às 10h53.

Washington - Ainda sem tomar posse, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, agitou a política externa do país com suas intempestivas mensagens no Twitter, um estilo que já se conhece como "diplomacia dos 140 caracteres".

De Cuba até a China, passando por Rússia e Oriente Médio, Trump não teve papas na língua ao se pronunciar sobre a atualidade internacional em sua rede social favorita, para o terror das chancelarias no mundo todo.

Com tweets espontâneos, o magnata imobiliário rasgou em pedaços os manuais da diplomacia tradicional, mais inclinados a dedicar horas e horas de análise no mais alto nível do governo antes de emitir comunicados sobre política externa.

Como candidato presidencial republicano, Trump revolucionou a campanha eleitoral com o uso veemente do Twitter para atacar sem piedade seus rivais políticos ou jogar mais lenha na fogueira de polêmicas intermináveis.

Longe de moderar sua "obsessão tuiteira" após bater a democrata Hillary Clinton nas eleições de 8 de novembro, o multimilionário, já como presidente eleito, usou a rede social para propor medidas que poderiam levar a uma nova ordem mundial.

A primeira vez em que Trump tuitou um comentário relevante sobre política externa desde que venceu as eleições foi no dia 28 de novembro, quando avisou que freará a aproximação a Cuba promovida por Barack Obama se Havana não oferecer a Washington um "melhor acordo".

Bastaram 138 caracteres para ameaçar reverter um dos maiores legados de Obama, embora o empresário nova-iorquino, que tem 18 milhões de seguidores no Twitter, não tenha incluído vídeo ou link algum para esclarecer o que seria esse "melhor acordo".

A China também esteve na mira do Twitter do presidente eleito, que no início de dezembro criticou o gigante asiático por "desvalorizar" sua moeda e "construir um grande complexo militar" nas disputadas águas do mar do Sul da China.

O comentário aconteceu pouco depois das críticas das autoridades de Pequim a Trump por conversar por telefone com Tsai Ing-wen, presidente de Taiwan (território que a China considera seu), que ligou para lhe dar os parabéns pela vitória nas eleições.

A conversa, confirmada pelo magnata em um tweet, rompeu quase quatro décadas da sensível política externa dos EUA em relação à China e obrigou a Casa Branca se pronunciar para lembrar que o único governo chinês que Washington reconhece desde 1979 é o de Pequim.

O distanciamento da China coincide com uma aparente aproximação à Rússia de Vladimir Putin, que enviou na semana passada uma entusiasmada carta de felicitação natalina com o desejo de "restaurar" as relações bilaterais.

Trump, que escreveu mais de 34 mil tweets desde que abriu sua conta em 2009, publicou a carta na última sexta-feira, justamente o dia em que aplaudiu o líder russo por declarar que Hillary Clinton e o Partido Democrata perderam as eleições de forma "humilhante".

"Vladimir Putin disse hoje sobre Hillary e os Democratas: 'Na minha opinião, isto é humilhante. É preciso ser capaz de perder com dignidade'. Tão verdade!", escreveu o magnata.

Também pelo Twitter, Trump defendeu na semana passada "fortalecer e expandir" a capacidade nuclear dos EUA até que "o mundo tenha consciência" sobre as armas atômicas, ideia que, posta em prática, poderia desencadear uma corrida armamentista mundial.

Nem a ONU se livra de sua compulsão: "As Nações Unidas têm um grande potencial, mas agora são só um clube para as pessoas se reunirem, conversarem e se divertirem. Que triste!", escreveu nesta segunda-feira.

O comentário veio após a decisão adotada na sexta-feira pelo Conselho de Segurança para exigir de Israel o fim de seus assentamentos nos territórios palestinos, aprovada graças a uma abstenção dos EUA muito criticada - mais uma vez no Twitter - por Trump.

"Resista Israel, 20 de janeiro está cada vez mais próximo", tuitou o magnata em alusão à data na qual será empossado como presidente dos Estados Unidos.

A menos que o multimilionário modere seu uso da rede de microblogging quando puser os pés na Casa Branca, a "diplomacia dos 140 caracteres" pode se transformar em uma dor de cabeça para o Departamento de Estado, que gerencia a política externa do país.

"Este estilo pessoal aparentemente impulsivo torna muito difícil que a burocracia do Departamento de Estado interprete Trump e siga seu exemplo", advertiu Shamila N. Chaudhary, especialista do centro de estudos New America.

No entanto, não parece que o empresário dos cassinos vá calar sua "voz tuiteira" quando assumir a presidência, segundo seu futuro porta-voz na Casa Branca, Sean Spicer, que adiantou nesta segunda-feira que sua "Twittermania" será uma parte "fascinante" de sua presidência.

"Acho que seu uso das redes sociais em particular (...) vai ser algo nunca visto antes. Ele tem esta linha direta com o povo americano", acrescentou Spicer.

À espera de sua posse, Trump continua debruçado no Twitter enquanto a imprensa o lembra que, 50 dias após ganhar as eleições, segue sem comparecer a entrevistas coletivas, algo inédito em um presidente eleito há décadas.

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