"Dificilmente se sai da crise sem aumentar o consumo, o investimento e o nível de crescimento da economia" disse a presidente (John Thys/AFP)
Da Redação
Publicado em 3 de outubro de 2011 às 13h42.
Bruxelas - A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta segunda-feira em Bruxelas que mais medidas de austeridade trazem apenas mais desemprego e recessão, e, pelo contrário, são necessários mais investimentos para sair da estagnação, como demonstrou a crise da dívida dos anos 1980.
"Destaquei que a nossa experiência demonstra que, no nosso caso, ajustes fiscais extremamente recessivos só aprofundaram o processo de estagnação e de perda de oportunidades e de desemprego", afirmou Dilma em sua primeira coletiva de imprensa em Bruxelas, poucas horas antes do início da V cúpula Brasil-União Europeia.
"Dificilmente se sai da crise sem aumentar o consumo, o investimento e o nível de crescimento da economia", acrescentou a presidente após se reunir no Palácio Egmont com o primeiro-ministro da Bélgica, Yves Leterme.
Estas foram as receitas que a América Latina utilizou para sair "crise da dívida latino-americana" após os anos 1980, explicou.
A presidente brasileira também agradeceu o apoio da Bélgica à aspiração do país de se tornar membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, para o qual precisa superar a oposição de algumas potências como os Estados Unidos, que criticam algumas posições adotadas pelo governo brasileiro.
A cúpula tem início na noite desta segunda-feira às 19h45 (14h45 de Brasília) com um jantar em homenagem à Dilma, oferecido pelo presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, e pelo presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy.
As soluções e os planos europeus para sair da crise da dívida europeia serão o eixo central da cúpula, como forma de preparação para a reunião do G20 prevista para os dias 3 e 4 de novembro na cidade francesa de Cannes.
Barroso deve conversar com Dilma sobre a decisão europeia de impor uma taxa sobre as transações financeiras à União Europeia, com a qual pretende arrecadar 55 bilhões de euros anuais, e sobre os planos de ajuda para resgatar a Grécia.
De qualquer forma, várias fontes europeias consultadas pela AFP disseram que não esperam receber uma "ajuda direta" do Brasil, que integra o grupo dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
O bloco de potências emergentes declarou-se disposto a "considerar, se for necessário, um apoio via FMI ou outras instituições financeiras internacionais, para enfrentar os desafios à estabilidade financeira mundial".
Durante a cúpula, a UE e o Brasil, interlocutor privilegiado dos europeus e um ator de peso no cenário internacional, também avaliarão o pedido de adesão de um Estado palestino à ONU, que recebeu um forte apoio brasileiro.
Brasil e União Europeia tentarão progredir nas negociações entre o Mercosul e a UE antes da rodada de negociações de início de novembro no Uruguai, para as quais ainda devem superar vários obstáculos no setor agrário, sobretudo os temores de produtores franceses de uma avalanche nas importações de carne.
Na terça-feira, a presidente participará do V Fórum Empresarial Brasil-União Europeia, que se desenvolve em paralelo à cúpula, e inaugurará o Festival Europalia, que neste ano tem o Brasil como principal protagonista.
O Brasil também pretende aprofundar o comércio e o investimento bilateral com os europeus. O Brasil é o quarto principal destino dos investimentos europeus e o sexto maior investidor na Europa, e no primeiro semestre de 2011 tornou-se o nono sócio comercial da UE.