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Dilma enfrentará vários desafios econômicos

Economistas e líderes de associações comentam as perspectivas para o governo de Dilma Rousseff

Indústria siderúrgica: associações esperam mudanças no setor industrial (Kiko Ferrite/EXAME)

Indústria siderúrgica: associações esperam mudanças no setor industrial (Kiko Ferrite/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 1 de novembro de 2010 às 16h12.

São Paulo - A candidata do PT, Dilma Rousseff, foi eleita neste domingo presidente da República, derrotando José Serra (PSDB) no segundo turno da eleição.

Veja a seguir comentários de economistas e líderes de associações setoriais sobre os desafios que esperam a nova presidente.

  • Tony Volpon, chefe de pesquisa para mercados emergentes nas Américas, da Nomura Securities:

"O mercado gostaria de ver uma mudança na política fiscal, com certeza. Houve nesta última semana alguns sinais nesse sentido... falando em ter uma meta para a relação dívida/PIB, que seria bastante positivo na medida em que essa meta levaria a uma queda da taxa de juro.

Acho que o principal desafio é manter a taxa de crescimento alta tendo um modelo de investimento mais ligado ao mercado, e não ligado ao BNDES. Claramente o BNDES já está ficando muito grande, e se crescer mais até pode criar um risco sistêmico para a economia.

Você não tem que ter um corte de gastos, você precisa ter uma queda na taxa de crescimento dos gastos. O Brasil não enfrenta a situação da Grécia, da Inglaterra, onde eles estão fazendo um corte de gastos nominal. No Brasil, basta gerenciar a taxa de crescimento (dos gastos) que acho facil ter uma meta de superávit primário de 3,3 por cento. Mas sem descontos, sem antecipação de receitas, sem várias artimanhas contábeis."

  • Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee):

"Esperamos mudanças profundas na política industrial. Nosso setor vem sofrendo um processo de desindustrialização e há uma necessidade urgente de mudanças na política cambial. São necessárias medidas efetivas para compensar a valorização do real, o que vem acontecendo desde o início do governo Lula e que têm se refletido nos indicadores do setor... Acredito que a presidente estará bem assessorada para fazer essas mudanças.

Vejo a eleição de Dilma como algo positivo, mas também algo preocupante se ela permitir que os radicais do PT tenham voz ativa no governo."

  • Luiz Guilherme Piva, diretor da LCA Consultores:

"É uma vitória que representa essencialmente a aprovação da maioria da população ao atual governo... Não é qualquer crescimento econômico, é um crescimento econômico que gera emprego, renda, ascenção econômica e social de camadas bem numerosas da sociedade.

Os desafios agora são maiores. Um deles é confirmar essa capacidade de aproveitar o bom momento interno e externo e manter a economia crescendo. Obviamente com algumas calibragens... E isso impõe um manejo cuidadoso e atento das variáveis principais da política fiscal, da política cambial e da política monetária. Acho que nenhum desses três pontos oferece nenhuma armadilha de curto prazo.

O norte é manter um patamar satisfatório de crescimento com distribuição de renda. Qualquer tentativa --que eu acho que não vai existir-- que sacrifique crescimento e distribuição de renda seria muito mais perigosa para o governo e para a estabilidade do mercado do que uma barbeiragem em alguma variável econômica."


  • Melvyn Fox, presidente da Associação Brasileira de Materiais de Construção (Abramat):

"Foi muito importante ter o segundo turno para esclarecer muitos pontos. E o resultado não foi uma surpresa. A presidente Dilma terá condições para elevar o crescimento econômico e social. Muitas ações importantes, como o 'Minha Casa, Minha Vida 1 e 2', a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e mais recursos para financiamentos devem ter continuidade. E esperamos até um crescimento. Não será exatamente fácil porque ainda existe crise em termos mundiais e o Brasil ainda tem que mostrar que está preparado para enfrentar este período, mas o país está no trilho certo."

  • Elizabeth de Carvalhaes, presidente da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa):

"O novo governo deve tomar sérias medidas que permitam ao Brasil consolidar a sua competitividade internacional. Esperamos medidas imediatas que sempre foram prorrogadas. O setor de papel e celulose tem 20 bilhões de dólares para investir nos próximos 7, 8 anos, mas a competitividade não se faz sozinha: é preciso uma urgente redução de impostos sobre investimentos. Nosso setor paga 17 por cento de impostos sobre investimentos, enquanto nossos competidores não fazem a tributação. Se o Brasil pretende continuar crescendo, é fundamental que esses impostos sejam eliminados.

Como exportadores defendemos o câmbio livre, mas o governo tem que se preocupar em garantir condições para a valorização do real."

  • Rui Prado, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso:

"Acredito que está muito claro o que precisa ser feito, e aí a Dilma como presidente ela tem que realizar as obras de infraestrutura, incluvise várias delas estão anunciadas, com exceção das hidrovias, o que é muito importante para o nosso país.

Do ponto de vista de política agrícola, é preciso o fortalecimento e o subsídio ao seguro rural, com vistas a dar segurança de renda ao produtor, e isso se faz pela implementação do Fundo de Catástrofe, fazer com que isso aconteça. Mais crédito aos produtores, juros compatíveis com a atividade, e a renegociação do endividamento de uma forma definitiva. Outro ponto muito importante é a produção sustentável... E para isso é preciso haver celeridade na votação do novo código ambiental."

  • Cláudio Bernardes, presidente em exercício do Sindicato da Habitação (Secovi-SP):

"Enquanto ministra, a Dilma sempre teve uma visão muito otimista do setor de construção. O programa 'Minha Casa, Minha Vida' teve um papel muito importante com subsídios para atender as camadas mais pobres, e precisa continuar até que o déficit habitacional seja zerado. A Dilma reconheceu a construção como uma alavanca forte para o desenvolvimento e deve continuar nesta linha, pautada no crescimento da construção civil. Agora, o que interessa é unir forças para fortalecer o Brasil"

  • Cesário Ramalho, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB):

"Penso que a presidente tem que fazer algo que o Lula não fez: fazer com que a agricultura tenha uma papel político semelhante ao papel econômico que ela tem. Se o governo não valorizar politicamente a agricultura do país, vamos continuar com esses problemas a vida inteira.

Tivemos uma campanha pouco elucidativa, uma campanha em que se debateu pouco os problemas nacionais. Mas tenho convicção que vamos superar isso, e a oposição vai ficar com o obrigação de fazer realmente uma oposição, coisa que no governo Lula não existiu.

Verdadeiramente, não sabemos qual o entendimento o novo governo terá em relação à agricultura (...) A prioridade do próximo presidente deveria ser o câmbio. A maior preocupação é o problema do câmbio."


  • Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Safra de Investimento:

"Como as principais pesquisas já mostravam a candidata Dilma liderando na disputa eleitoral, é bastante provável que o mercado de imediato não sinta nenhuma grande alteração.

As atenções continuarão voltadas para quem serão os ministros, qual será o gabinete da presidente Dilma, e também qual deve ser a composição do Banco Central.

Espera-se que haja uma desaceleração no ritmo de gasto do governo central. Nos últimos dois anos houve uma aceleração bastante grande.

Talvez o primeiro sinal de uma política fiscal mais austera, já no Congresso entre novembro e dezembro, seja a manutenção daquela regra informal do salário mínimo... O (crescimento do) PIB (em 2009) foi zero, então se tiver ajuste zero em termos reais para o mínimo, vai ser a primeira sinalização de uma política fiscal mais restritiva."

  • Robson Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI):

"A Dilma tem um conhecimento muito grande de toda a máquina do governo, tendo sido a principal assessora do presidente Lula e coordenadora dos programas de investimento em infraestrutura.

Ela conhece as necessidades do país, conhece o que tem de ser feito e tem vocação para gestão. A expectativa é de que ela faça um grande governo. Há grandes desafios pela frente: lidar com o câmbio, reforma tributária, reduzir o impacto dos impostos sobre a exportação, infraestrutura.

É difícil eleger apenas uma prioridade, há diversas ações e todas têm de ser atacadas."

  • Paulo Safady Simão, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC):

"Desde 2004, o setor da construção vem se recuperando e tem papel de destaque na economia. Batemos recordes em geração de emprego e volume de investimentos e crescemos em progressão geométrica. E queremos continuar contribuindo para o desenvolvimento do Brasil.

O setor de construção vai crescer mais de 12 por cento neste ano, contra mais de 7 por cento do PIB do Brasil. Construímos uma série de programas importantes, como 'Minha Casa, Minha Vida', e temos participação no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Esperamos de Dilma a continuidade e aperfeiçoamento dos projetos... Estou muito otimista."

  • Paulo Petrassi, sócio-gestor da Leme Investimentos:

"Acho que mexe pouco no mercado (financeiro)... Não vejo nada em volatilidade no câmbio ou na bolsa.

Agora (o mercado) acompanha a composição da equipe --a cada dia é uma novidade. Principalmente Banco Central e Ministério da Fazenda e Casa Civil.

Acho que o principal (desafio), de cara, é o fiscal... Ano que vem o PIB vai crescer menos, (então) acho que tem que ter um corte de gasto bem definitivo para poder passar com tranquilidade."

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