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“Diga não ao papa”: Francisco será recebido com protestos na Irlanda

Milhares de irlandeses prometem "dizer não ao papa", o boicote à missa para a qual reservaram ingressos, mas não irão participar

Papa Francisco: pontífice viaja à Irlanda neste final de semana e terá de lidar com o declínio da influência católica no país (Max Rossi/Reuters)

Papa Francisco: pontífice viaja à Irlanda neste final de semana e terá de lidar com o declínio da influência católica no país (Max Rossi/Reuters)

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AFP

Publicado em 23 de agosto de 2018 às 10h28.

O Papa Francisco terá que se esforçar no fim de semana na Irlanda para que os cidadãos do país voltem a ter fé em sua Igreja, cuja influência, que já foi enorme, não para de cair com os escândalos de pedofilia e a evolução dos costumes.

A Irlanda que o papa vai encontrar mudou profundamente desde a última visita de um pontífice ao país, a de João Paulo II em 1979. Naquela época, a Igreja Católica irlandesa era um fator chave na vida do país.

Por não ter conseguido antecipar as mudanças socioeconômicas do país e por sua defesa de ideias ultraconservadoras, a Igreja irlandesa perdeu influência ano após ano.

Também paga as consequências da gestão desastrosa do escândalo dos padres pedófilos, que tiveram suas ações acobertadas em alguns casos por nomes importantes do clero. As agressões, reveladas no início dos anos 2000 aconteceram durante décadas e afetaram 14.500 crianças.

Em um claro sinal da emancipação da sociedade irlandesa a respeito da Igreja, o país legalizou em 2015 o casamento entre pessoas do mesmo sexo, elegeu um primeiro-ministro gay, Leo Varadkar, em 2017, e legalizou o aborto, em maio passado.

A visita do papa será uma oportunidade para que os irlandeses façam um balanço sobre o lugar e o papel da Igreja Católica em sua sociedade.

"Minha esperança é que o papa leve a Igreja da Irlanda a mudar", afirmou no domingo o arcebispo de Dublin, Diarmuid Martin.

"O papa deve falar francamente sobre nosso passado e também sobre nosso futuro".

Oficialmente, o pontífice viaja a Dublin para encerrar o Encontro Mundial das Família.

Mas Francisco aproveitará a oportunidade para reuniões discretas com vítimas de abusos sexuais, informou o Vaticano, que precisa administrar um novo escândalo após a publicação, na semana passada, do relatório sobre uma investigação de agressões sexuais de integrantes da igreja contra mil crianças nos Estados Unidos.

Nos seis discursos previstos, o papa "terá muitas possibilidades, muitas oportunidades" de abordar a questão dos abusos, indicou o Vaticano.

- "Não basta pedir desculpas" -

O principal momento da visita acontecerá no domingo, com uma missa no Phoenix Park de Dublin, onde são esperadas 500.000 pessoas, 10% da população irlandesa.

Um número importante, mas três vezes inferior à quantidade de pessoas que estavam no mesmo local para ouvir João Paulo II em 1979, naquela que provavelmente foi a maior concentração popular da história do país.

Para o ministro da Agricultura, Michael Creed, o afastamento da Igreja dos temas públicos do país é uma evolução positiva.

"Antes, a Igreja controlava a política social com a ajuda de um governo submisso e de uma população temerosa, mas o sombrio capítulo dos abusos e sua dissimulação cavou uma brecha profunda entre vários fiéis e a Igreja".

"A história recente da Igreja na Irlanda viveu momentos sombrios", reconhece o arcebispo de Dublin.

"Espero que (o papa) fale com bondade, mas também com firmeza. Não basta pedir desculpas. As estruturas que permitem ou facilitam os abusos devem ser desmanteladas para sempre", completou.

A visita de Francisco provocou movimentos de rejeição impensáveis em 1979. Milhares de internautas irlandeses atenderam no Facebook a uma campanha para "dizer não ao papa", com o boicote à missa no Phoenix Park. Eles reservaram ingressos, mas não utilizarão as entradas.

Os organizadores do protesto pacífico prometem um ato distinto em Dublin, com a participação da associação de apoio aos sobreviventes de abuso "One in Four".

"A visita do papa é muito penosa para vários sobreviventes. Desperta emoções antigas: vergonha, humilhação, desesperança, revolta", declarou a diretora da associação, Maeve Lewis.

"O mínimo que merecem durante esta visita papal é um compromisso claro de que a Igreja Católica tem a intenção de enfrentar os abusos de crianças por clérigos".

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