Em Karachi pelo menos 12 pessoas morreram e mais de 100 ficaram ferida (Aamir Qureshi/AFP)
Da Redação
Publicado em 21 de setembro de 2012 às 20h34.
Milhares de muçulmanos foram às ruas em todo o mundo todo nesta sexta-feira de forma pacífica para participar das manifestações pelo "Dia de amor a Maomé", mas no Paquistão a data acabou marcada por protestos violentos que deixaram pelo menos 14 mortos.
Segundo a rede de televisão local "Express", os incidentes mais sangrentos aconteceram nas cidades de Peshawar (norte) e Karachi (sul), onde grupos atacaram estabelecimentos comerciais e alguns cinemas em protesto pela divulgação do vídeo anti-Islã e de novas charges do profeta Maomé, consideradas uma blasfêmia.
Fontes da polícia local informaram à Agência Efe que em Karachi - a capital econômica do Paquistão - pelo menos 12 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas. Em Peshawar, um manifestante e um funcionário de uma rede de televisão morreram.
O Paquistão, assim como a maioria dos países muçulmanos, reforçou as medidas de segurança hoje depois que o jornal satírico francês "Charlie Hebdo" publicou na última quarta-feira caricaturas ofensivas ao Islã.
A origem da revolta que se espalha pelo mundo muçulmano há dez dias é o estranho vídeo de 14 minutos de duração, divulgado através da internet, que ridiculariza o profeta Maomé.
Sua divulgação despertou a ira de milhares de muçulmanos que, aos gritos de "morte aos blasfemos", invadiram na semana passada a embaixada americana no Cairo e o consulado na cidade líbia de Benghazi, em um ataque que resultou na morte do embaixador Chris Stevens.
Na sexta-feira passada, cerca de dez pessoas perderam a vida em incidentes violentos similares em frente às representações diplomáticas americanas em Túnis (Tunísia) e Cartum (Sudão). No Líbano, um manifestante também morreu em um protesto no norte do país.
No entanto, a condenação unânime dos governos ocidentais, aliada ao pedido de prudência das autoridades muçulmanas - políticas e religiosas - parece ter tido um efeito positivo neste dia.
No Egito, somente dois grupos pequenos de manifestantes se reuniram em torno das sedes diplomáticas francesas no Cairo e em Alexandria, onde expressaram sua indignação contra as charges e exigiram que os responsáveis pela publicação sejam levados à Justiça.
A manifestação mais numerosa aconteceu na cidade libanesa de Baalbek, onde milhares de pessoas convocadas pela organização xiita Hezbollah exclamaram contra o vídeo e os desenhos polêmicos.
Durante a concentração, uma bandeira israelense foi queimada, enquanto palavras de ordem como "Morte aos Estados Unidos e Israel" eram entoadas. Também havia muitas bandeiras do Hezbollah e retratos do presidente sírio, Bashar al Assad.
"Eles querem manchar a imagem do Islã. Podemos dizer que são idiotas porque tentaram causar um conflito entre muçulmanos e cristãos, e conseguiram o contrário, já que nos unimos mais ainda", destacou o presidente do Conselho Consultivo do Hezbollah, o xeque Mohammed Yazbek.
Os protestos também ocorreram em países europeus como a Alemanha, onde o anúncio da revista "Titanic" de publicar novas charges, aliada à decisão do grupo radical islamofóbico "Pro Deutschland" de projetar o suposto filme integralmente, dispararam todos os alarmes.
A passeata mais numerosa aconteceu em Freiburg, onde mais de mil pessoas, inclusive mulheres e crianças, saíram às ruas levando cartazes com os dizeres: "Não à liberdade de blasfêmia"; "Nosso profeta Maomé é tabu".
A mobilização correu de forma pacífica, assim como nas localidades de Münster (oeste) e Cuxhaven (norte), em que participaram centenas de pessoas.
Horas antes, o governo alemão pediu à comunidade muçulmana, estimada em 3,5 milhões de pessoas no país, a não se deixar levar pelas provocações.
Mesmo assim, duas mesquitas de Göttingen (norte) apareceram com caricaturas do profeta pintadas em seus muros, assim como a sede de uma organização islâmica.
A polícia deteve um jovem de 26 anos que confessou ser o autor das pinturas, abriu uma investigação a respeito do caso e anunciou que as medidas especiais de segurança serão mantidas durante todo o fim de semana.
Washington também decidiu ampliar hoje o alerta diante da possibilidade de grupos islâmicos convocarem protestos em frente as suas embaixadas em diversos países, como China, Azerbaijão, Nigéria e Bangladesh.
O Departamento de Estado também mencionou possíveis protestos no Mali, onde, inclusive, foi ativado o alerta terrorista devido ao aumento nas atividades do grupo terrorista Al Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI).