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Dia da Mulher na Rússia é marcado por ausência de reivindicação

A comemoração na Rússia é considerada como "a festa das mulheres", "a melhor festa do ano" e outras classificações que a afastam de um caráter político

Dia das Mulheres: os veículos de imprensa divulgam, além disso, pesquisas sobre como o Dia da Mulher é visto e celebrado por algumas das mais poderosas e populares mulheres do país (Getty Images)

Dia das Mulheres: os veículos de imprensa divulgam, além disso, pesquisas sobre como o Dia da Mulher é visto e celebrado por algumas das mais poderosas e populares mulheres do país (Getty Images)

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EFE

Publicado em 8 de março de 2017 às 12h39.

Moscou - Na Rússia, um dos países que marcaram o Dia Internacional da Mulher com os princípios da Revolução de 1917, a data se transformou com o tempo, até paradoxalmente se tornar uma espécie de segundo Dia dos Namorados.

Enquanto a ONU e os movimentos sociais e feministas classificam este 8 de março como um dia de luta pela igualdade, a ausência de reivindicação, exceto raras exceções, é a tônica na Rússia, onde restaurantes e floriculturas lucram com o feriado nacional.

"A metade forte da humanidade tem que enfrentar hoje enormes dificuldades. Na véspera da festa mais bela do ano, o 8 de março, os mercados e lojas de flores vivem a tradicional agitação", dizia na terça-feira a locutora do "Canal 1" da televisão estatal, uma crônica sobre as grandes compras de flores pelos homens.

É que enormes filas são formadas nas floriculturas para que os homens possam felicitar as esposas, namoradas, mães ou colegas de trabalho.

O Dia Internacional da Mulher é descrito na Rússia como "a festa das mulheres", "a melhor festa do ano" e outras classificações que o afastam de qualquer caráter político ou reivindicativo.

"Na minha opinião, nos últimos 15 anos se observa um giro conservador muito grave no que diz respeito aos direitos e liberdades das mulheres", afirmou a jornalista e feminista Natalia Bitten em entrevista publicada pela agência "Nation News".

"Infelizmente, as organizações de mulheres 'de tipo soviético' e inclusive as novas organizações se mostram totalmente incapazes de se envolver na questão da igualdade da mulher", acrescentou.

A artista e feminista Ekaterina Nenasheva denunciou que a polícia deteve nesta quarta-feira sete participantes de um protesto minoritário em pleno centro de Moscou, perto do Kremlin.

Em sua página no Facebook, Nenasheva escreveu que entre as detidas está uma fotógrafa do jornal independente "Novaya Gazeta", e publicou um vídeo onde é possível ver ativistas erguerem um enorme cartaz com a mensagem "200 anos de poder masculino, abaixo!".

Frente a essas ações minoritárias, a tônica geral do 8 de março é apresentar a data como "o dia em que os homens demonstram seu amor e carinho a suas mulheres, mães, filhas, amigas".

Como é tradicional, o presidente russo, Vladimir Putin, parabenizou as mulheres pela festa, desta lendo alguns versos do poeta russo Konstantin Balmont.

"A mulher está conosco quando nascemos. A mulher está conosco em nossa última hora. A mulher é o estandarte quando lutamos. A mulher é a alegria quando os olhos se abrem", recitou o chefe do Kremlin.

Os veículos de imprensa divulgam, além disso, pesquisas sobre como o Dia da Mulher é visto e celebrado por algumas das mais poderosas e populares mulheres do país.

Segundo uma pesquisa do Centro Russo de Estudos de Opinião Pública (VTSIOM), 65% dos homens presenteia as mulheres de seu entorno mais próximo com flores, seguidas de perfumes, chocolates, pequenas lembranças ou ingressos para shows.

Entre os entrevistados, 66% (homens e mulheres) descreveram o dia 8 de março como "uma festa feminina", frente a 18% que o consideram "a festa do início da primavera", e apenas 9% que o classificam como "o dia internacional de solidariedade das mulheres trabalhadoras".

A porta-voz oficial do Ministério do Interior, Irina Volk, disse que sempre espera o dia 8 de março "porque é a festa de todas as mulheres, da primavera, das flores, do estado de ânimo maravilhoso e alegre", ao ser perguntada em um programa da emissora "Rádio 1".

A apresentadora de televisão Lera Kudriavtseva se dispunha a passar a festa de forma clássica: "acho que meu marido e eu vamos comer ou jantar tranquilamente em algum restaurante. Cada um que o celebre como quiser. Há quem passeie fazendo barulho, ou quem o comemore de maneira romântica".

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova, mostrou ser menos tradicional ao dizer que não pensava em tirar o dia livre.

"Não tenho nenhum plano concreto para o 8 de março porque tanto a vida como o trabalho são imprevisíveis. Mas, de todos modos, espero esta festa todos os anos. Embora a passe em meu posto de trabalho, tento fazer com que seja um dia especial", afirmou.

Foi em 23 de fevereiro de 1917 - 8 de março segundo o novo calendário - quando as trabalhadoras têxteis de Petrogrado, a então capital do Império russo e atual São Petersburgo, organizaram uma greve que se estendeu e levou à Revolução de fevereiro e à abdicação do czar Nicolau II.

Após a Revolução de outubro desse ano, os bolcheviques declararam o 8 de março como festa oficial na URSS, embora só tenha deixado de ser jornada de trabalho em 1965.

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