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Dezesseis anos depois, Bálcãs enfrentam seu passado

Aproximadamente 8 mil homens muçulmanos, adultos e adolescentes, foram assassinados pelas forças sérvias da Bósnia em julho de 1995, no espaço de poucos dias

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 11 de julho de 2011 às 22h40.

Srebrenica - Cerca de 20.000 pessoas se reuniram nesta segunda-feira no memorial de Potocari, perto de Srebrenica, para recordar as vítimas do massacre na região do leste da Bósnia, há 16 anos, pelas forças sérvias.

"Não há palavras para explicar este Mal inexplicável e irracional, o ódio sem limites para com pessoas que tiveram como única falta, no olhar dos agressores, o fato de serem muçulmanas", declarou o membro muçulmano da presidência colegiada da Bósnia, Bakir Izetbegovic.

"Com o tempo, as outras feridas também cicatrizaram, mas Srebrenica jamais", acrescentou o líder dos muçulmanos da Bósnia, antes do enterro dos restos das 613 vítimas do massacre, o pior cometido na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Aproximadamente 8 mil homens muçulmanos, adultos e adolescentes, foram assassinados pelas forças sérvias da Bósnia em julho de 1995, no espaço de poucos dias. A matança foi classificada como genocídio pela justiça internacional.

Izetbegovic afirmou, no entanto, que os Bálcãs têm agora, "enfim, líderes dispostos a enfrentar o passado".

O líder muçulmano parabenizou o presidente sérvio Boris Tadic por ter cumprido a promessa feita, no ano passado, em Srebrenica, na data dos 15 anos do massacre, de prender Ratko Mladic, o ex-chefe militar dos sérvios da Bósnia. 

"Há 16 anos um genocídio foi cometido em Srebrenica (...) Um crime que a Europa jamais acreditou que pudesse ocorrer no continente" depois das atrocidades da Segunda Guerra Mundial, declarou por sua vez o presidente croata, Ivo Josipovic.


O embaixador americano em Sarajevo, Patrick Moon, advertiu contra qualquer tentativa de negação do massacre ou de sua extensão, em alusão a tentativas de alguns dirigentes dos sérvios da Bósnia de questionarem a classificação de genocídio para designar o que aconteceu em julho de 1995.

"Cada vez que eles negam o que não pode ser negado, entravam o caminho para a justiça, o perdão e a reconciliação", concluiu o diplomata.

Nas visitas ao cemitério de Potocari, onde já repousam 4.500 vítimas, os parentes se perdem entre as estelas brancas, à procura dos seus desaparecidos.

Alguns se ajoelham diante de um túmulo aberto e rezam.

Vahid Smajic, com os olhos vermelhos de chorar, prepara-se para enterrar o pai e o tio.

"O corpo de meu pai me foi entregue ano passado. Uma parte de meu tio foi descoberta há sete anos e aguardo os outros ossos para enterrá-lo", confia ele.

Isso acontece com muitos que esperam há vários anos para poder reconstituir os restos de seus próximos dos quais, às vezes, não resta mais do que algumas ossadas.

Kada Hotic fala sobre os tormentos que passou quando foi enterrar algumas partes de seu filho.


"Um mufti (líder religioso muçulmano) e um padre católico rezaram comigo e isso me reconfortou".

Ahmed Sehic, um jovem de 26 anos, está enterrando o pai. Estou aliviado de poder fazê-lo: "a partir de agora, saberei onde está e poderei vir rezar. Graças a Deus, hoje, seus restos vão encontrar a paz".

Uma senhora com o rosto coberto, sentou-se sozinha ao lado de um túmulo. É aí que descansam seu marido e os dois filhos".

"Eu falo com eles. Não me respondem. Mas espero que Deus os faça ouvir-me e saber que sua mãe vem sempre aqui".

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