Mundo

Dezenas de migrantes morrem em ataque a centro de detenção na Líbia

O ataque atribuído às forças do marechal Khalifa Haftar, deixou mais de 100 feridos e que provocou duras condenações internacionais

Líbia: o ataque pode claramente constituir um crime de guerra, disse o enviado da ONU (Ismail Zitouny/Reuters)

Líbia: o ataque pode claramente constituir um crime de guerra, disse o enviado da ONU (Ismail Zitouny/Reuters)

A

AFP

Publicado em 3 de julho de 2019 às 12h12.

Última atualização em 3 de julho de 2019 às 14h59.

Mais de 40 migrantes foram mortos em um bombardeio contra um centro de detenção na periferia de Trípoli, um ataque atribuído às forças do marechal Khalifa Haftar e que provocou duras condenações internacionais.

O ataque "pode claramente constituir um crime de guerra", disse nesta quarta-feira (3) o enviado da ONU na Líbia, Ghassan Salamé.

"Matou (...) pessoas inocentes forçadas a estar neste refúgio por causa de suas condições de vida pavorosas", acrescentou ele em um comunicado.

Na terça-feira à noite, um ataque aéreo fez um buraco de cerca de três metros de diâmetro no centro desse hangar em Tajura, na periferia leste de Trípoli. Vários corpos jaziam no chão, segundo um fotógrafo da AFP.

De acordo com um comunicado da Missão de Apoio da ONU à Líbia (MANUL), no qual Ghassan Salamé foi citado, o balanço desse ataque é de "pelo menos 44 migrantes" mortos e mais de "130 gravemente feridos".

"Esse ignóbil e sangrento massacre é uma das consequências mais terríveis e trágicas do absurdo dessa guerra", acrescentou Salamé.

O enviado da ONU apelou à comunidade internacional para "condenar este crime e impor sanções apropriadas aos autores desta operação em flagrante violação" dos direitos humanos.

É a segunda vez que esse centro de migrantes de Tajura, onde vivem mais de 600 pessoas, é atingido desde que o marechal Khalifa Haftar, homem forte do leste do país, lançou uma ofensiva em abril para controlar a capital.

Em um comunicado, o Governo de União Nacional (GNA), com sede em Trípoli e reconhecido pela ONU, denunciou o que chamou de "crime odioso" e o atribuiu "ao criminoso de guerra Khalifa Haftar".

Em sua nota, o GNA acusou as tropas de Haftar de terem cometido um ataque "premeditado" e "preciso" contra o centro de migrantes.

A autoria do ataque não foi reivindicada, mas a mídia que apoia Haftar mencionou a iminência de uma "série de ataques aéreos" na área de Trípoli e Tajura, onde o centro de migrantes está localizado.

Em Tajura, ficam vários centros militares controlados pelo governo.

ONU pede investigação independente

O ataque provocou várias reações da comunidade internacional.

Ainda nesta quarta, o Conselho de Segurança da ONU se reunirá em caráter de urgência e a portas fechadas para tratar do tema, disseram diplomatas. A reunião será realizada a pedido do Peru, país que exerce a presidência do órgão em julho.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, "pede uma investigação independente sobre as circunstâncias" do ataque, declarou seu porta-voz, Stéphane Dujarric.

"É preciso garantir que os autores sejam levados à Justiça", frisou, destacando que "as Nações Unidas haviam dado a localização exata do centro de detenção às partes" em conflito para evitar que fosse um alvo.

Guterres está "indignado", acrescentou seu porta-voz.

Este episódio "destaca a necessidade urgente de fornecer abrigos seguros para todos os refugiados e migrantes até que seus pedidos de asilo sejam atendidos, ou eles sejam repatriados de maneira segura" para seu país de origem, completou Dujarric.

"O secretário-geral reitera seu apelo por um cessar-fogo imediato na Líbia e o retorno a um diálogo político" para resolver o conflito, concluiu.

A União Europeia (UE) também pediu uma investigação imediata sobre o ataque.

"A UE se soma ao apelo das Nações Unidas para que se faça uma investigação imediata sobre os responsáveis por este ataque terrível", afirmou a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, em um comunicado conjunto com os comissários Johannes Hahn e Dimitris Avramopoulos.

O ataque "é uma lembrança do custo humano do conflito na Líbia, assim como da vulnerável situação dos migrantes presos na espiral de violência no país", disseram os europeus.

Na mesma nota, também defenderam "a necessidade de um cessar-fogo" e garantiram que a UE "continuará dando seu pleno apoio à ONU e ao enviado especial do secretário-geral das Nações Unidas para conseguir um acordo político".

"Infelizmente, muitos outros estão em risco e devem ser transferidos para lugares seguros rapidamente para que possam receber ajuda e serem evacuados", completam.

O alto comissário da ONU para os refugiados (Acnur), Filippo Grandi, advertiu no Twitter sobre "três mensagens-chave: os migrantes e refugiados NÃO podem ser presos, os civis NÃO podem ser alvos, a Líbia NÃO é um lugar seguro para devolver" os migrantes.

"Estamos horrorizados com essas mortes", disse à AFP Charlie Yaxley, porta-voz do Acnur.

O porta-voz expressou a "extrema preocupação" da organização sobre os "rumores" que apontam que o local servia de "depósito de armas".

A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) reagiu no Twitter a "esses terríveis acontecimentos" e pediu a "imediata evacuação dos refugiados e migrantes presos em centros de detenção em Trípoli".

Agências da ONU e organizações humanitárias reiteraram que os migrantes resgatados do mar não podem ser devolvidos para a Líbia, em função do caos institucional no país.

Esta situação se tornou mais crítica desde o início da ofensiva de Haftar para controlar Trípoli.

Apesar da constante instabilidade, a Líbia continua sendo um país de trânsito para migrantes que fogem de conflitos armados, ou da instabilidade, em outras regiões da África e do Oriente Médio.

O presidente da comissão da União Africana, Musa Faki Mahamat, "condenou fortemente" o ataque e pediu uma "investigação independente para garantir que os responsáveis pela morte horrível desses civis prestem contas".

A Itália expressou sua "consternação" e condenou o "bombardeio cego de áreas civis".

Acompanhe tudo sobre:ExplosõesImigraçãoLíbiaMortes

Mais de Mundo

Qual visto é necessário para trabalhar nos EUA? Saiba como emitir

Talibã proíbe livros 'não islâmicos' em bibliotecas e livrarias do Afeganistão

China e Brasil fortalecem parceria estratégica e destacam compromisso com futuro compartilhado

Matt Gaetz desiste de indicação para ser secretário de Justiça de Donald Trump