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Destino do ex-chefe de campanha de Trump está nas mãos do júri

Manafort é acusado de usar declarações falsas para conseguir empréstimos bancários e de evadir impostos que ganhou assessorando políticos pró-russos

Ex assessor de Trump, Paul Manafort (Jonathan Ernst/Reuters)

Ex assessor de Trump, Paul Manafort (Jonathan Ernst/Reuters)

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AFP

Publicado em 16 de agosto de 2018 às 15h50.

Após 12 dias de depoimentos, o júri começou nesta quinta-feira (16) as deliberações no julgamento de Paul Manafort por fraude, ex-chefe de campanha de Donald Trump, o primeiro processo resultante da investigação do procurador especial Robert Mueller sobre a interferência russa nas eleições de 2016.

No muito midiático julgamento que acontece em um tribunal de Alexandria, perto de Washington, o juiz T.S. Ellis fez um resumo do caso ao júri, composto por seis homens e seis mulheres, após o qual estes se retiraram para considerar as 18 acusações que enfrenta o ex-assessor de vários ex-presidentes republicanos.

Ainda está incerto quando pode haver um veredicto.

Manafort, de 69 anos, é acusado de apresentar declarações falsas para conseguir empréstimos bancários e de evadir impostos por dezenas de milhões de dólares que ganhou assessorando políticos pró-russos na Ucrânia entre 2005 e 2014.

O caso surgiu da investigação levada à frente por Mueller sobre a ingerência russa para favorecer Trump nas eleições de 2016, mas Manafort não é acusado de nenhum crime relacionado com a sua breve participação na campanha eleitoral do presidente.

Contudo, o julgamento é considerado uma prova importante para a investigação de Mueller, que Trump denunciou muitas vezes como uma "caça às bruxas" motivada por questões políticas, negando que tenha havido um conluio com Moscou para derrotar a candidata presidencial democrata Hillary Clinton.

Um mentiroso obstinado

Durante o julgamento, os promotores descreveram os diversos esquemas supostamente usados por Manafort para evitar pagar impostos e ocultar contas bancárias no Chipre.

Os advogados de defesa, por sua vez, fizeram de tudo para produzir dúvidas sobre a credibilidade da testemunha "estrela" da Promotoria, Rick Gates, número dois de Manafort que aceitou colaborar com o governo e se voltou contra seu ex-chefe.

"Este caso está infestado de mentiras", disse ao júri o promotor federal Greg Andres em suas alegações finais na quarta-feira. "O senhor Manafort mentiu e voltou a mentir", destacou.

Andres disse que Manafort, que pode passar décadas na prisão, apresentou declarações de impostos falsas entre 2010 e 2016 para ocultar seus rendimentos na Ucrânia das autoridades fiscais dos Estados Unidos.

O dinheiro foi depositado em 31 contas bancárias estrangeiras, das quais Manafort não informou nem a seu contador nem o Serviço de Rendas Internas (IRS) americano, disse.

Manafort também apresentou declarações falsas para obter milhões de dólares em empréstimos bancários quando teve problemas financeiros, disse o promotor.

Ladrão e infiel

Durante três dias de depoimento, Gates, de 46 anos, que reconheceu ter roubado centenas de milhares de dólares a Manafort e ter tido uma aventura extraconjugal há uma década, descreveu ao júri como ajudou seu chefe a proteger os seus rendimentos do fisco dos Estados Unidos.

A defesa, que não convocou nenhuma testemunha própria, tentou apresentar Gates como um mentiroso e ladrão, assinalando que havia chegado a um acordo de culpa com o governo na esperança de receber uma sentença mais branda por seus crimes.

Richard Westling, um dos advogados de Manafort, disse que o governo não havia demonstrado a culpa de Manafort além de uma dúvida razoável.

A Promotoria apresentou evidências de anos de abundantes gastos de Manafort enquanto evadia impostos: milhões de dólares em casas de luxo, automóveis, tapetes antigos e roupa, incluindo uma jaqueta de píton de 18.500 dólares. Mas Andres disse que o caso "não se trata de sua riqueza".

"O senhor Manafort conhecia a lei e a violou de todas as formas", assinalou.

Manafort, que trabalhou nas campanhas presidenciais dos republicanos Gerald Ford, Ronald Reagan, George H.W. Bush e Bob Dole, foi chefe da equipe de Trump de maio a agosto de 2016. Foi obrigado a pedir demissão em meio a questionamentos sobre o seu trabalho para o ex-líder pró-russo da Ucrânia Viktor Yanukovych.

Diferentemente de Gates e de vários outros acusados por Mueller, Manafort não se declarou culpado e insistiu em ir a julgamento, uma arriscada estratégia que, segundo analistas, sugere que espera obter um indulto presidencial.

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