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Da Redação
Publicado em 12 de julho de 2012 às 13h47.
Damasco - A primeira deserção de um embaixador sírio significa um duro revés para o regime de Bashar al-Assad, já ameaçado por um projeto de resolução apresentado perante o Conselho de Segurança da ONU que contempla mais sanções se Damasco não puser fim aos seus ataques.
Em Damasco, um comunicado do ministério sírio das Relações Exteriores anunciou que "Nawaf Fares foi destituído de suas funções e não tem nenhuma relação com nossa embaixada em Bagdá, nem com o ministério". Além disso, as autoridades sírias ameaçaram colocá-lo à disposição da justiça por suas declarações.
Na noite de quarta-feira, Fares convocou o exército a "integrar imediatamente as fileiras da revolução", depois de ter desertado, em um comunicado divulgado pela rede de televisão do Qatar Al-Jazeera.
Segundo Bagdá, Fares encontra-se atualmente no Qatar, um emirado particularmente hostil ao regime de Assad.
Sua deserção significa um duro golpe para o regime sírio, dias depois da de Manaf Tlass, um general próximo ao presidente Assad.
Fares foi nomeado em seu cargo no dia 16 de setembro de 2008, depois de quase 30 anos de ruptura de relações diplomáticas devido ao apoio de Damasco ao Irã em sua guerra contra o Iraque.
Membro da grande tribo sunita dos Uqaydat, implantada no leste do país, Fares começou como policial antes de trabalhar com os temidos serviços secretos, chegando a ser um dos chefes do partido Baath, governador e, por último, diplomata.
Este currículo provoca a desconfiança dos militantes, que se sacrificam há 16 meses pela revolução, e alguns consideram que pode se tratar de uma manobra dos ocidentais para selecionar personalidades aceitáveis para dirigir a transição.
"Sei que esse homem é um criminoso", afirmou Rami Abdel Rahman, chefe do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). "É muito similar à história de Manaf Tlass (...) os serviços secretos ocidentais buscam selecionar personalidades que poderão ser utilizadas para o período transitório".
"Queremos viver em uma democracia e em um Estado de Direito e não se pode construir uma democracia com pessoas que têm tanto sangue nas mãos e que durante muito tempo foram cúmplices do regime", comentou um militante da região central de Hama.
Em terra, as tropas sírias bombardearam intensamente o povoado de Treimsa, na província de Hama, e a violência causou a morte de oito pessoas em todo o país.
No total, cinco civis e três rebeldes morreram até o meio-dia, segundo o OSDH, que informou na véspera sobre a morte de 37 civis, 34 soldados e 14 rebeldes.
Diante desta violência, os países ocidentais apresentaram na quarta-feira na ONU um projeto que ameaça o regime sírio com novas sanções se não cessar seus ataques com armas pesadas.
No texto, os europeus e os Estados Unidos dão dez dias a Damasco para retirar suas tropas e deixar de utilizar armas pesadas nas cidades rebeldes, sob pena de sanções econômicas.
O debate desta resolução começará nesta quinta-feira, segundo fontes diplomáticas.
Por sua vez, a organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch
(HRW) suspeita que as forças do regime sírio utilizam bombas de fragmentação de fabricação soviética nas regiões montanhosas de Hama.
Segundo a organização, dois vídeos publicados on-line no dia 10 de julho mostram "os restos de bombas de fragmentação e a embalagem de uma bomba de fabricação soviética encontrados aparentemente em Jabal Shahshabu, uma região montanhosa a nordeste de Hama".
Um militante local afirmou à HWR que esta região foi bombardeada pelo exército e pela aviação durante duas semanas. Segundo ele, esta região montanhosa é um bastião dos rebeldes que se refugiaram em muitas grutas.