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Descontentamento toma conta da China na esteira das rebeliões árabes

Protestos violentos acontecem há várias semanas no país e mostram a revolta crescente contra casos de corrupção e abuso de poder

Imagem mostra carros depredados durante protesto em Xintang, quando centenas atacaram policiais com paus e pedras.
 (AFP)

Imagem mostra carros depredados durante protesto em Xintang, quando centenas atacaram policiais com paus e pedras. (AFP)

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Da Redação

Publicado em 15 de junho de 2011 às 17h16.

Pequim - A China se vê sacudida há várias semanas por violentos protestos que colocam em evidência a revolta crescente de boa parte da população contra o governo, com direito a cenas de 'terror' na região de Cantão, de acordo com os moradores.

Os distúrbios foram desencadeados por casos de corrupção, abuso de poder e expropriações ilegais de terras por parte de autoridades locais, o que destoa da imagem de "sociedade harmoniosa" preconizada pelo presidente Hu Jintao, num momento em que o regime comunista tenta evitar ao máximo o contágio das rebeliões populares dos países árabes.

"A irritação se propagou em muitas categorias sociais. Há um contexto global de tensões entre o governo e a população", afirma Zheng Yongnian, pesquisador da Universidade Nacional de Cingapura.

Na semana passada, centenas de pessoas atacaram com paus e pedras os policiais que brigavam com uma dupla de vendedores ambulantes em Xintang (província de Guangdong, cuja capital é Cantão, sul), informou a agência Nova China (Xinhua).

Centenas de policiais com blindados foram posicionados na zona e 25 pessoas foram presas no incidente.

Fatos similares ocorreram na semana passada em outra localidade da mesma província, depois que um operário que participava em um protesto por aumentos salariais recebeu foi ferido com uma faca.

Em Lichuan (província de Hubei, centro), uma manifestação de 1.500 personas em função da morte de um líder local resultou em choque com as forças de segurança.

Segundo os analistas, o governo chinês fez da estabilidade social prioridade absoluta e recorrerá a todos os meios, inclusive a violência, para deter as manifestações, o que, naturalmente, deverá piorar a situação.


Na região de Cantão, metrópole ao sul da China, moradores relataram "cenas de terror" nos distúrbios registrados nos últimos dias, duramente reprimidas pela polícia, com direito a automóveis incendiados e depredados.

"Era aterrorizante, nunca havia visto nada igual", afirma Chao, de 27 anos, proprietário de uma loja de 'jeans' no distrito de Xintang, a uma hora e meia de carro de Cantão.

"Eram milhares de manifestantes. Incendiaram um prédio, viraram carros da polícia e queimaram as viaturas. Então chegaram centenas de policiais, que começaram a agredir as pessoas com barras de ferro", acrescentou Chao, que não quis revelar o nome completo.

A região já havia sido cenário no fim de semana de violentos incidentes, após uma confusão entre um casal de imigrantes - vendedores ambulantes - e oficiais das forças de segurança.

Os distúrbios começaram após a circulação de boatos de que um camelô havia sido morto pela polícia.

A manifestação foi dispersada pela polícia, que fechou as estradas ao tráfego e prendeu 25 pessoas. Centenas de oficiais foram enviados à região, assim como veículos blindados.

A televisão de Hong Kong exibiu imagens de veículos incendiados e da ação policial.

Nesta quarta-feira, as ruas de Xintang estavam em aparente calma, mas muitas lojas e restaurantes permaneciam fechados.

Os vestígios dos incêndios eram visíveis, mas os moradores, com medo, se recusavam a comentar a situação.

"O ambiente é tenso e estamos todos um pouco nervosos. Supostamente não deveríamos falar", disse Yu, um trabalhador do setor têxtil de 42 anos, que também não revelou o nome completo.

Para tentar abafar a crise, a polícia local exibiu o homem que foi alvo dos boatos no fim de semana. Ele afirmou que ele, a mulher e o bebê que esperam estavam bem.

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