Redator na Exame
Publicado em 27 de dezembro de 2024 às 12h20.
Última atualização em 27 de dezembro de 2024 às 12h20.
O impacto devastador de desastres naturais e condições climáticas extremas está transformando a realidade do mercado imobiliário nos Estados Unidos, agravando a crise de acessibilidade à moradia.
Incêndios florestais, furacões e enchentes não apenas destroem casas, mas também aumentam os custos de reconstrução, alteram o perfil das comunidades e intensificam desigualdades preexistentes, de acordo com informações divulgadas pela CNN.
Um exemplo marcante é o incêndio Marshall, no Colorado, ocorrido em dezembro de 2021. Considerado o incêndio mais caro da história do estado, ele destruiu mais de mil residências e deixou um rastro de US$ 2 bilhões (R$ 12,36 bilhões) em danos. Três anos depois, enquanto algumas casas foram reconstruídas, muitas são agora maiores e mais caras, excluindo moradores antigos incapazes de arcar com os custos de reconstrução ou de viver em áreas que sofreram uma valorização drástica.
Allison Bequette, cujo lar de 30 anos foi consumido pelo fogo, é um exemplo de como esses eventos afetam diretamente os residentes. Sua casa foi substituída por uma residência de luxo vendida por US$ 1,45 milhão (R$ 8,96 milhões), valor muito acima do que ela poderia arcar. Com o seguro não cobrindo os custos totais de reconstrução, Bequette decidiu se mudar para o sul do Colorado.
Essa exclusão não é isolada. Em um levantamento, pelo menos 19 proprietários na mesma área venderam suas propriedades por valores inferiores a US$ 375 mil (R$ 2,31 milhões), frequentemente abaixo do preço original de compra. Compradores como a Homebound Technologies, uma empresa focada em reconstruções após desastres, lucraram ao construir casas maiores e mais valiosas, deixando antigos moradores sem opções acessíveis.
Os desastres exacerbam desigualdades já existentes. Enquanto proprietários com seguros insuficientes enfrentam dificuldades para reconstruir, os inquilinos, frequentemente os mais vulneráveis economicamente, sofrem com aumento nos aluguéis e assistência insuficiente. Estudos mostram que, após furacões nos estados da costa leste, os aluguéis aumentaram significativamente devido à perda imediata de unidades habitacionais e aos atrasos na reconstrução.
A disparidade também se reflete nos auxílios pós-desastres, que frequentemente favorecem proprietários em detrimento de inquilinos. Além disso, eventos extremos têm acelerado processos de gentrificação em áreas afetadas, como mostrado em estudos sobre comunidades impactadas por furacões na Flórida e Louisiana.
As transformações nos bairros afetados muitas vezes geram resistências locais. No Colorado, debates sobre como reconstruir comunidades após desastres, como o incêndio Marshall e as enchentes de 2013, revelaram uma postura "NIMBY" ('Não no meu quintal', em inglês), dificultando a construção de habitações acessíveis.
Enquanto isso, as novas construções refletem os altos custos de materiais e demandas de mercado, resultando em moradias inacessíveis para antigos residentes. Em áreas como Boulder County, essas mudanças pressionam ainda mais as comunidades vizinhas, elevando os aluguéis e custos habitacionais.
Especialistas sugerem iniciativas para mitigar os impactos dos desastres no mercado imobiliário, incluindo fundos direcionados para inquilinos, moratórias em despejos e a criação de programas de recuperação habitacional mais inclusivos. No Colorado, medidas recentes buscam fechar lacunas de seguro, reduzir custos de reconstrução e melhorar a preparação para desastres futuros.
Para pessoas como Bequette, o impacto dos desastres vai além das perdas materiais. Mudanças forçadas de vida, rupturas comunitárias e desafios emocionais deixam cicatrizes duradouras. Enquanto políticas públicas e soluções inovadoras buscam lidar com essas crises, a necessidade de ações preventivas e suporte abrangente permanece urgente.