Tobruk, na Líbia (Marco Longari/AFP/AFP)
EFE
Publicado em 6 de maio de 2018 às 12h41.
Beirute, 6 mai (EFE).- O Comitê de Parentes de Desaparecidos e Sequestrados durante a Guerra Civil Libanesa (1975-1990) luta para que suas reivindicações sejam finalmente consideradas nas eleições legislativas deste domingo, quando acontece o primeiro pleito no país desde 2009.
O número estimado de sequestrados ou desaparecidos durante o conflito na Líbia é de 17 mil, sendo que milhares seguem em paradeiro desconhecido. Por isso, o comitê criou uma "lista eleitoral" simbólica na qual aparecem os sumidos, como uma forma de honrar sua memória e reivindicar o direito à justiça.
A presidente do órgão, Wadad Halwani, disse à Agência Efe que essa lista é a única das 77 que concorrem no pleito que inclui "candidatos" desaparecidos, procedentes de todas as comunidades religiosas que convivem no Líbano e de todas as regiões do país, ainda que na realidade não possa ser escolhida.
"Só votaremos naqueles candidatos que se comprometeram, por escrito, a aprovar no parlamento o projeto de lei que elaboramos em 2001 e que segue nas gavetas desta instituição", disse Halwani, em referência a uma proposta que está sendo estudada por uma comissão parlamentar.
Os familiares dos desaparecidos, assim como ONGs e outras vozes, pedem que se recolham e conservem amostras de DNA, que se forme um órgão oficial de investigação, além de declarar o dia 13 de abril como dia nacional em memória destas vítimas, já que foi nesta data que o conflito começou em 1975.
"Não queremos saber quem desapareceu com eles, mas sim que os libaneses reflitam sobre a guerra e aprendam as lições para que o conflito nunca se repita", explicou Halwani.
"Os políticos atuam como se nada tivesse acontecido e como se não se importassem com uma nova guerra", denunciou.
No caso de Halwani, seu marido desapareceu em 1982 e ela assegura que sua dor continua até hoje, ainda que tenha aceitado a ideia de que provavelmente ele esteja morto.
"Acredito que esteja morto. Se não o mataram, é certo que não conseguiu sobreviver (...), mas existem mães que não pensam igual e criam expectativas de que poderão voltar a ver seus filhos", acrescentou.
Abir Halaui, outra ativista que luta pelos desaparecidos, assegura que "a maioria (dos libaneses) busca esquecer o que aconteceu, não pensar nisso e seguir em frente", mas para ela "a guerra nunca acabará enquanto não se descobrir o que houve com essas pessoas".
"Existem 17 mil desaparecidos e os familiares têm o direito de saber o que ocorreu com eles", frisou.
Por isso, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) também está no Líbano apoiando a causa e exige há anos das autoridades locais respostas e a aprovação da lei específica sobre o assunto.
Antes das eleições, o CICV intensificou a campanha na qual apoia o direito das famílias de saber o destino de seus entes queridos e divulgou um vídeo no qual é possível ver parentes votando nos desaparecidos e introduzindo fotos deles nas urnas, em vez das cédulas eleitorais.
Além disso, a organização humanitária lembra que os ausentes não poderão votar hoje, publicando fotos antigas com nome, como e quando desapareceram, muitos deles há mais de 30 e até 40 anos.
Uma candidata que concorre por Beirute na lista cidadã Kuluna Watani (Todos pela pátria, em português), Laury Haytayan, declarou à Efe que para ela "é muito importante o tema dos desaparecidos, pois continua sendo uma ferida aberta da guerra, que não acabou".
"Agora não existem combates e nem violência, mas nada foi feito para terminar com algumas questões pendentes, falar das consequências do conflito armado e fazer justiça", finalizou.