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Deportações viram negócio lucrativo sob Trump e movimentam bilhões nos EUA, diz jornal

De janeiro a maio de 2025, gastos da Casa Branca com empresas envolvidas na expulsão de imigrantes cresceram 50% em relação ao mesmo período no ano passado

Detento em cela do Centro de Confinamento de Terrorismo, em El Salvador ( Marvin RECINOS / AFP)

Detento em cela do Centro de Confinamento de Terrorismo, em El Salvador ( Marvin RECINOS / AFP)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 28 de maio de 2025 às 10h35.

A campanha de deportação em massa do governo do presidente americano, Donald Trump, elevou em 50% os gastos com empresas privadas que atuam no sistema de expulsões, revelou uma reportagem do Wall Street Journal publicada na terça-feira. Segundo o jornal americano, a Casa Branca já gastou mais de US$ 13 bilhões (R$ 73,4 bilhões) com contratos do tipo na última década, e a expectativa é que eles cresçam em meio ao avanço da ofensiva do republicano contra os imigrantes.

A história do venezuelano Andry Blanco Bonilla, de 40 anos, acompanhada pelo WSJ, ilustra a cadeia do negócio bilionário por trás da caça a imigrantes. Após mais de um ano sendo transferido entre detenções do complexo sistema de imigração americano, Blanco foi deportado juntamente com outros mais de 200 estrangeiros para uma prisão de segurança máxima em El Salvador. Sua trajetória mostra como empresas lucram em praticamente todas as etapas do processo — da detenção à remoção — e agora esperam faturar ainda mais.

A detenção

O processo de remoção de Blanco começou em fevereiro de 2024, quando um agente do Serviço de Imigração e Controle de Alfândega (ICE) suspeitou de suas tatuagens durante uma checagem de rotina em Dallas e o acusou de envolvimento com gangues.

Sem antecedentes criminais, Blanco foi levado para o centro de detenção Prairieland, no Texas, operado pela LaSalle Corrections. O governo americano paga cerca de US$ 17 milhões (R$ 96 milhões) por ano para manter a unidade.

Na semana seguinte, ele foi transferido para o centro de detenção Bluebonnet, também no Texas, gerenciado pela Management and Training Corp. A empresa privada opera cinco unidades no país e já recebeu mais de US$ 240 milhões (R$ 1,3 bilhão) em contratos desde 2014, segundo dados federais. O custo diário por detento varia entre US$ 48 (R$ 271) e US$ 106 (R$ 598), e a capacidade do centro é de 1.062 pessoas.

Durante a estada, Blanco recebeu três refeições por dia, fornecidas por empresas como B&H International e My Own Meals. Só em alimentação, o governo gastou mais de US$ 4 milhões (R$ 22 milhões) nos últimos anos. Produtos de higiene e atendimento médico também estão incluídos: empresas como Arora Group e Amergis Healthcare Staffing receberam mais de US$ 24 milhões (R$ 135 milhões) desde janeiro para fornecer cuidados médicos nos centros de detenção.

Blanco ligava para a mãe, Carmen Bonilla, três vezes por semana. Em maio de 2024, após dois meses detido, ele participou de uma audiência remota com um juiz de El Paso e recebeu ordem de deportação. Acabou liberado em julho, já que a Venezuela não estava aceitando deportações e havia um limite legal para o tempo de detenção.

Retorno e deportação

Ele retomou a vida em Dallas até fevereiro de 2025, quando foi chamado novamente ao ICE e detido. Disse à mãe que havia sido enviado a Oklahoma, mas o centro de detenção principal do estado não tinha registro dele. Com cerca de cem unidades de detenção no país, operadas por sete grandes empresas ou governos locais, rastrear a localização dos detentos é um desafio para advogados e familiares.

Semanas depois, Blanco foi levado ao centro de detenção em El Valle, no Texas. Segundo advogados ouvidos pelo WSJ, a prática de transferir frequentemente os migrantes vem se intensificando sob o governo Trump.

Em 15 de março, Blanco e outros 260 migrantes foram deportados para o Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot), em El Salvador. Acusados de envolvimento com a gangue Tren de Aragua, classificada como organização terrorista no início deste segundo mandato, foram presos sem o devido processo legal. Na época, as deportações ocorreram no período de poucas horas em que a Lei do Inimigo Estrangeiro de 1798 — invocada anteriormente apenas em períodos de guerra — ficou vigente antes de ser suspensa por um juiz federal.

Segundo o WSJ, os EUA estão pagando US$ 6 milhões (R$ 33 milhões) por ano ao governo salvadorenho pela detenção desses homens.

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