Presidente Donald Trump cumprimenta o secretário de Estado americano, Rex Tillerson em 28/02/2017 (Jim Lo Scalzo/Reuters)
EFE
Publicado em 4 de março de 2017 às 11h33.
Washington -- Com baixo número de funcionários, incomodado e excluído das primeiras reuniões internacionais de Donald Trump: assim está na atualidade o Departamento de Estado dos Estados Unidos, uma poderosa agência "ignorada" por uma Casa Branca decidida a assumir as rédeas da política externa.
Quase um mês após sua chegada ao cargo, o secretário de Estado, Rex Tillerson, segue praticamente sozinho na cúpula da sede diplomática, dado o atraso da Casa Branca na hora de indicar cargos políticos do alto escalão que ajudem esse ex-empresário sem experiência governamental a dirigir a política externa dos EUA.
Mais preocupante, para alguns observadores, é o fato de que Tillerson não compareceu às reuniões de Trump com os líderes de Japão, Canadá e Israel no último mês, o que gerou uma impressão em Washington de que o titular das Relações Exteriores é um elo frágil na nova Administração.
"Tillerson é basicamente invisível, não está sendo incluído em reuniões e ligações telefônicas importantes. Em geral, o Departamento de Estado está sendo ignorado", disse à Agência Efe Gordon Adams, professor de política externa na American University.
Apesar de seu papel ativo na delicada diplomacia com o México, Tillerson acabou excluído em outras importantes deliberações, como a mudança de política da Casa Branca com relação ao Estado palestino e a linha dura adotada em relação ao Irã, informou recentemente o jornal "Politico".
O ex-chefe da companhia petrolífera Exxon se viu obrigado a competir com duas figuras muito mais próximas do presidente, Steve Bannon e Jared Kushner, que, inclusive, recebeu de Trump a incumbência de reiniciar o processo de paz entre israelenses e palestinos.
"Há um instinto muito forte na Casa Branca de assumir o controle direto da política externa", opinou Adams.
Tillerson sofreu outro revés em meados de fevereiro, quando a Casa Branca rejeitou nomear como subsecretário de Estado Elliott Abrams, um veterano dos círculos diplomáticos republicanos que ele tinha recomendado para o posto, devido às críticas que esse candidato tinha feito a Trump durante a campanha.
Esse desencontro fez o processo de indicação de nomes para o alto escalão do Departamento de Estado "atolar", "porque se você não está de acordo sobre o número 2, não pode avançar" na nomeação de postos inferiores que dirigem a política para cada região do mundo, explicou à Efe o ex-diplomata Steven Feldstein.
"É algo muito preocupante", acrescentou Feldstein, que até 20 de janeiro foi subsecretário adjunto de Estado dos EUA para Democracia e Direitos Humanos e agora é analista no centro de estudos Carnegie Endowment for International Peace.
No Departamento de Estado, integrado em boa parte por diplomatas de carreira que se mantêm na agência mesmo com a mudança política na Casa Branca, segue havendo muita "inquietação" em torno do que pode representar a presidência de Trump, de acordo com Feldstein.
Isso se deve, em parte, à "inconformidade em relação à renúncia em tempo recorde do principal assessor de segurança nacional (de Trump), Michael Flynn", e as dúvidas sobre "quanta influência tem um assessor político como Bannon, que pode assumir o Conselho de Segurança Nacional", apontou o ex-diplomata.
Também há uma sensação geral de que "a Casa Branca é quem verdadeiramente conduz a política externa, que organiza as ligações e se relaciona com chefes de Estado e, potencialmente, deixa de fora o Departamento de Estado", acrescentou Feldstein.
Outro problema, para muitos observadores, é o discreto perfil público de Tillerson, que não deu nenhuma entrevista ou fez qualquer pronunciamento à imprensa desde que chegou ao poder.
O Departamento de Estado está há cinco semanas sem entrevistas coletivas diárias, uma tradição que, além de afinar a cobertura jornalística, servia a muitos governos para esclarecer dúvidas sobre a postura dos EUA sobre diferentes temas.
"Em toda a minha carreira, nunca vi passar tanto tempo (sem entrevistas coletivas diárias)", afirmou Feldstein.
Isso pode ser explicado, segundo o ex-diplomata, por um excesso de cautela de Tillerson e pela falta de experiência no governo, ou até por uma "desorganização" geral como resultado do atraso da Casa Branca em nomear cargos políticos para o departamento.
Seja como for, "quanto mais esperarem para nomear pessoas nessas posições-chave, mais provável será" que temas como a falta de interação com a imprensa "se transformem em problemas", advertiu Feldstein.
A lentidão na hora de preencher esses postos inquietou também alguns governos de todo o mundo, que esperam ansiosos a nomeação de um embaixador que explique em suas capitais as frequentemente confusas posturas diplomáticas da nova Casa Branca.
Trump só nomeou quatro embaixadores - para ONU, Reino Unido, China e Israel - o que "definitivamente" representa "um problema", segundo Adams, já que o magnata está há mais de um mês no poder.