Demóstenes apresentou sua defesa diante do Conselho de Ética do Senado, que pode cassar o seu mandato pelos vínculos com Cachoeira (Pedro França/Agência Senado)
Da Redação
Publicado em 29 de maio de 2012 às 20h53.
Brasília - O senador brasileiro Demóstenes Torres admitiu nesta terça-feira sua ''amizade'' com o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, mas negou ter participado de seus negócios, motivo pelo qual é objeto de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).
Demóstenes apresentou sua defesa diante do Conselho de Ética do Senado, que pode cassar o seu mandato pelos vínculos com Cachoeira, suposto chefe de uma máfia do jogo ilegal com ramificações em todo o país e tentáculos na política nacional.
Além de admitir a amizade, o senador reconheceu que o empresário o presenteou e pagava as contas de um telefone com o qual se comunicavam quase diariamente. Demóstenes, inclusive, disse que pagou os ''fogos de artifício'' usados no casamento de Cachoeira, mas rejeitou qualquer participação em seus negócios.
Apesar de estar envolvido em assuntos de suposta corrupção e de financiamento ilegal de campanhas eleitorais pelo menos desde 2004, Demóstenes disse que não sabia das atividades ilegais de Cachoeira.
Além disso, o senador desqualificou o conteúdo de centenas de gravações feitas pela Polícia de suas conversas telefônicas com Ramos. Segundo o acusado, as escutas não foram autorizadas pela justiça e foram ''alteradas, trucadas e editadas'' a fim de incriminá-lo.
Em algumas das gravações, para as quais a Polícia disse ter autorização judicial, é possível escutar o senador alertar o contraventor sobre operações que as autoridades estavam preparando contra a rede de jogo ilegal.
O senador Humberto Costa, relator do Conselho de Ética, afirmou que o interrogatório de cerca de cinco horas ao qual Demóstenes foi submetido ''não convenceu'' e deixou claro os indícios da cumplicidade do senador com os negócios de Cachoeira.
Nesta quarta, será discutida a possibilidade de convocar a testemunhar vários governadores que teriam algum tipo de relação com as empresas de Cachoeira. Entre os suspeitos estão os governadores do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, e dos estados de Goiás, Marconi Perillo, e do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.
No último caso, as investigações apontam às relações de Cabral com a empresa construtora Delta, que nos últimos anos ganhou contratos milionários em diversos estados do Brasil, especialmente, no Rio de Janeiro.
Segundo suspeita da Polícia, Delta teria servido para lavar parte do dinheiro obtido pela máfia do jogo e se utilizava a influência política de ''Cachoeira'' para obter vantagens em licitações públicas.
No meio do escândalo, há um mês a empresa anunciou a venda da empresa Delta ao grupo J&F, no qual o Estado tem uma participação de 30% através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).