Analistas enxergam os resultados com cautela e dizem que é cedo para fazer qualquer projeção para a eleição presidencial do ano que vem (Leandro Fonseca/Exame)
Agência de notícias
Publicado em 9 de novembro de 2023 às 09h17.
Após uma sequencia de pesquisas que colocam o republicano Donald Trump à frente do presidente Joe Biden, os democratas celebraram vitórias significativas em eleições locais nesta quarta-feira, 8. Em Ohio, um plebiscito incluiu o direito ao aborto na Constituição do Estado e legalizou a maconha. Em Kentucky, reduto conservador, o democrata Andy Beshear foi reeleito governador. E em Virgínia, os democratas obtiveram maioria nas duas Casas legislativas.
O aborto foi apenas um dos muitos fatores nas disputas que ocorreram na noite de terça-feira, testando o humor e a satisfação dos eleitores com ambos os partidos. O desafio dos democratas era superar um presidente impopular. O dos republicanos, justificar o caos que eles criaram no Congresso e a fidelidade que mantêm a Trump, figura polarizadora para os moderados que carrega mais de 90 acusações criminais no currículo.
Analistas enxergam os resultados com cautela e dizem que é cedo para fazer qualquer projeção para a eleição presidencial do ano que vem. No entanto, a vitória dos defensores do direito ao aborto e o fato de os republicanos terem feito campanha para banir o procedimento em vários Estados mostra que o tema é capaz de mobilizar a base democrata e os eleitores moderados.
Na Virgínia, um Estado-chave na eleição presidencial, os republicanos fizeram campanha em favor de uma proposta para proibir a o aborto após 15 semanas de gravidez. O governador Glenn Youngkin, um republicano moderado e popular, mergulhou na campanha. Como resultado, ele perdeu a maioria na Câmara dos Deputados do Estado e não conseguiu retomar o Senado estadual das mãos dos democratas.
Foi assim também que Beshear conseguiu se reeleger governador de Kentucky, um dos Estados mais conservadores dos EUA. Ele passou a campanha atacando a posição antiaborto de seu rival republicano, Daniel Cameron. No fim, Beshear venceu com 5 pontos porcentuais de vantagem.
Pesquisas de boca de urna mostraram que um em cada cinco republicanos e quase dois terços dos eleitores independentes apoiam o direito ao aborto, uma indicação de como o tema é popular em todas as linhas partidárias.
Isso ajuda a explicar as duas vitórias obtidas em Ohio. "Eu não gosto da ideia de ter um velho homem branco dizendo o que eu posso fazer", disse Kate Wagner, de 51 anos, eleitora republicana que rompeu com o partido no Estado. "Eles nunca estiveram nessa posição."
A Proposição 1 - que inclui o direito ao aborto na Constituição de Ohio - foi aprovada por uma margem de 10 pontos porcentuais. A legalização da maconha também passou com folga (56% a 44%). O Estado se tornou o 24.º dos EUA liberar a Cannabis.
O aborto também esteve no centro de outras disputas eleitorais. A campanha por uma vaga na Suprema Corte do Estado da Pensilvânia atraiu mais de US$ 17 milhões em gastos com publicidade na TV, com muitos dos anúncios abordando o direito ao aborto. O vencedor, o democrata Daniel McCaffery, dizia em um de seus anúncios: "Nossas liberdades estão sob ataque - os direitos dos trabalhadores, os direitos reprodutivos das mulheres, o direito de voto".
Desde que a Suprema Corte dos EUA derrubou a famosa decisão Roe vs. Wade, que protegia o direito ao aborto em nível federal, em 2022, a questão dos direitos reprodutivos das mulheres foi deixada a cargo de cada Estado.
Diante do sucesso, os democratas sinalizaram que farão do aborto uma questão fundamental na corrida presidencial de 2024. Os pré-candidatos republicanos estão divididos sobre a questão - Trump voltou atrás e não defende mais a proibição total do procedimento.
Nos últimos meses, os democratas iniciaram esforços para colocar o aborto na cédula em vários Estados em 2024, incluindo alguns cruciais como Arizona, Nevada e Pensilvânia. Eleitores já aprovaram medidas de proteção ao direito reprodutivo em Kansas, Califórnia, Kentucky, Michigan, Montana e Vermont.
Os conservadores, no entanto, argumentaram que o resultado das urnas não deveria ser visto como um teste para 2024. "Acho que as pessoas estão exagerando o significado disso em nível nacional", disse Kristi Hamrick, vice-presidente do Students for Life of America, um dos maiores grupos antiaborto dos EUA. "Cada luta é única." (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)