Estados Unidos: o memorando democrata foi publicado semanas depois de o presidente Donald Trump publicar a versão republicana (miflippo/Thinkstock)
EFE
Publicado em 25 de fevereiro de 2018 às 09h24.
Washington -- Os democratas do Comitê de Inteligência da Câmara de Representantes dos Estados Unidos publicaram no último sábado sua versão do relatório sobre as atividades de vigilância do Departamento de Justiça e do FBI vinculadas à investigação sobre a possível ingerência russa nas eleições presidenciais de 2016.
O memorando democrata, de 10 páginas, foi redigido pelo representante Adam Schiff, da Califórnia, o principal democrata no comitê, e sua publicação acontece semanas depois de o presidente Donald Trump publicar a versão republicana do mesmo, na qual os conservadores alegavam abusos por parte dos investigadores em matéria de vigilância.
O texto democrata acusa os republicanos do comitê de errar ao afirmar que uma investigação do FBI sobre os possíveis vínculos da campanha de Trump com a Rússia resultou a partir do chamado expediente Steele, que supostamente continha afirmações não verificadas sobre os vínculos do agora presidente com a Rússia.
O documento, que inclui abundantes omissões, pretende mostrar que as provas encontradas pelo FBI contradizem o testemunho dado pelo ex-assessor de política externa da campanha de Trump, Carter Page, perante o Comitê de Inteligência da Câmara.
Na sua refutação agora pública, os democratas acusam os republicanos de tentar difamar injustamente o FBI e o Departamento de Justiça.
Os líderes republicanos argumentaram que Page foi injustamente atacado porque a informação do autor do dossiê, o ex-espião britânico Christopher Steele, nunca foi apresentada perante o tribunal de vigilância por ter sido paga pelos democratas.
Mas, de acordo com o memorando dos democratas, os vínculos de Page na Rússia já tinham chamado a atenção das agências federais.
O FBI questionou Page sobre seus "contatos de inteligência russos" em março de 2016, segundo o memorando, o mesmo mês em que foi nomeado assessor de campanha de Trump, e meses antes que Steele fosse contratado para realizar investigações sobre Trump ou se contatasse pela primeira vez com o FBI.
O relatório afirma que o FBI conseguiu corroborar partes do expediente Steele a respeito de Page.
O texto também argumenta que os republicanos se equivocaram ao afirmar que a Lei de Vigilância de Inteligência Estrangeira (FISA) foi usada para espionar a campanha Trump, e afirma que o Departamento de Justiça solicitou uma ordem de vigilância semanas depois que Page abandonasse a campanha.
O documento também afirma que o presidente do Comitê de Inteligência da Câmara de Representantes, Devin Nunes (republicano da Califórnia), não leu muitos dos documentos secretos subjacentes que os democratas asseguram que contradizem suas afirmações.
"O memorando da maioria do Comitê, que se baseia seletivamente em informação classificada altamente confidencial, inclui outras distorções e tergiversações que contradizem os documentos classificados subjacentes", diz o memorando.
"A grande maioria dos membros do Comitê e da Câmara não tiveram a oportunidade de revisá-los, e o presidente Nunes decidiu não lê-los", acrescenta.
O presidente Trump tinha bloqueado a publicação do memorando dos democratas no início deste mês, o que levou os democratas a publicar sua versão do memorando com omissões da informação mais delicada.
Legisladores de ambos partidos argumentaram que o povo americano merecia conhecer a versão de ambos partidos, mas Trump se negou a isso.
A Casa Branca reagiu à publicação do memorando dos democratas, dizendo que não responde às perguntas colocadas pelo documento original do Partido Republicano publicado no início deste mês.
"Este documento politicamente motivado não responde às preocupações colocadas pelo memorando da maioria republicana sobre uma investigação partidária sobre um candidato, repleta de acusações não corroboradas, como uma base para solicitar a um tribunal que aprove a vigilância de um ex-sócio de outro candidato, no cúmulo de uma campanha presidencial", declarou a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders. EFE