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Demissão de diretor do FBI por Trump é comparada a “Watergate”

Decisão foi criticada por republicanos e democratas e gerou comparações com esse que foi um dos maiores escândalos da história da política americana

O presidente americano, Donald Trump: demissão de James Comey, diretor do FBI, gerou críticas (Yuri Gripas/Reuters)

O presidente americano, Donald Trump: demissão de James Comey, diretor do FBI, gerou críticas (Yuri Gripas/Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 10 de maio de 2017 às 12h45.

Última atualização em 10 de maio de 2017 às 12h47.

São Paulo – Em um movimento surpreendente, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trumpdemitiu o diretor do FBI, James Comey, que conduzia uma investigação sobre a relação entre a campanha presidencial republicana e agentes do governo russo.

Em Washington, a notícia rendeu críticas ao presidente, além de comparações com um escândalo histórico: o “Watergate”, de 1972. O caso culminou com a renúncia do então presidente, Richard Nixon, que demitiu o procurador que investigava um arrombamento do comitê do Partido Democrata, caso depois ligado à sua campanha pela reeleição.

Para Jean Dean, assessor da Casa Branca durante a presidência de Nixon, o ato de Trump “é muito nixoniano”. “Poderia ter sido uma dispensa discreta, mas se tornou uma demissão raivosa”, disse ele ao jornal The Washington Post.

Entre membros do Congresso e aliados de Trump, o clima também é de choque. “Desde Watergate nosso sistema jurídico não era tão ameaçado”, disse Richard Blumenthal, senador democrata de Connecticut.  “Em algum lugar, Nixon está sorrindo”, publicou no Twitter Roger Stone Jr., que atuou como conselheiro do presidente.

Demissão

Comey foi informado da sua dispensa pela imprensa, enquanto se reunia com funcionários do órgão. No Twitter, Trump alega que o diretor havia “perdido a confiança de praticamente todos em Washington” e que encontraria alguém que “devolverá o prestígio ao FBI”.

O ato vem depois de o FBI ter enviado uma carta ao Congresso pedindo que um depoimento de Comey sobre o caso dos e-mails de Hillary Clinton fosse corrigido.

Na carta enviada a Comey, divulgada pelo jornal The New York Times, no entanto, Trump não cita esse episódio especificamente, tampouco explica a razão da dispensa, apenas alega ter concordado com as recomendações do procurador-geral, Jeff Sessions.

O presidente segue explicando que a dispensa acontece embora Comey tenha dito diversas vezes que Trump não estaria sob investigação. “Você não tem condições de liderar o Escritório com efetividade”, escreveu Trump.

Nomeado ao cargo pelo ex-presidente Barack Obama, Comey tinha pouco mais de seis anos de mandato como chefe do FBI e é o terceiro funcionário do alto escalão do mundo das leis a ser demitido por Trump. Antes dele, Preet Bharara foi dispensado do cargo de Procurador do Distrito Sul de Nova York, e Sally Yates foi despedida quando atuava como procuradora-geral interina.

O novo nome a ocupar o cargo irá passar pelo crivo do Senado.

Repercussão

Membros do Congresso, democratas e republicanos, levantaram dúvidas sobre as verdadeiras razões por trás da demissão de Comey e agora pedem a instauração de uma comissão especial que conduza as investigações sobre a campanha de Donald Trump, sua relação com a Rússia e possíveis interferências no processo eleitoral.

“Se a administração tinha objeções sobre a forma como Comey lidou com o caso de Hillary, tinha objeções no minuto em que o presidente pisou na Casa Branca, mas não o demitiram na época. Por que isso aconteceu agora? ”, perguntou o democrata Chuck Schumer em coletiva de imprensa divulgada pelo jornal The Guardian.

“Sabemos que o FBI está investigando a interferência russa nas nossas eleições”, disse ele a repórteres, “será que essas investigações estão chegando muito perto do presidente? ”

Justin Amash, congressista republicano do Michigan, classificou trechos da carta de Trump como “bizarros” e disse que irá apoiar a criação dessa comissão. “Estou tentando encontrar uma explicação racional para o timing da demissão”, disse o senador republicano Jeff Flake, “mas não consigo”.

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