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Eleições na Argentina: em debate quente, Massa pressiona Milei sobre economia e relações com Brasil

Candidatos fizeram único embate público deste segundo turno neste domingo

Debate na Argentina: candidatos se enfrentaram na Universidade de Buenos Aires (AFP)

Debate na Argentina: candidatos se enfrentaram na Universidade de Buenos Aires (AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 12 de novembro de 2023 às 22h01.

Última atualização em 14 de novembro de 2023 às 14h20.

Sergio Massa tinha uma estratégia clara no debate deste domingo: colocar o foco nas propostas de Javier Milei e, assim, explorar falhas e inconsistências do rival. Em boa parte do programa, isso funcionou.

Os dois candidatos, que disputam a Presidência da Argentina, fizeram o único debate do segundo turno neste domingo, 12. O programa teve seis blocos temáticos, e logo no primeiro, a economia, Massa apertou Milei com perguntas diretas: "Pretende acabar com subsídios? Acabar com o Banco Central? Vai dolarizar a economia?".

Milei pareceu surpreendido "Não é algo de sim ou não", afirmou. Massa insistiu e o rival confirmou que pretende acabar com o Banco Central e dolarizar a economia, mas sem detalhar os planos. Disse ainda que manteria inicialmente os subsídios, que barateiam itens como o transporte público e a conta de luz, e que a privatização das reservas de gás e petróleo de Vaca Muerta são "uma questão provincial".

Massa retrucou que o Zimbábue dolarizou sua economia e a Micronésia acabou com o Banco Central. Milei se exaltou e voltou a atacar o sistema político, que chama de casta, mas ficou sem tempo. O modelo do debate previa seis minutos para cada candidato por bloco temático, e Massa gerenciava melhor a sua cota. Ao final, teve quase dois minutos para falar, enquanto o rival tinha poucos segundos. Com isso, o fato de que Massa é o atual ministro da Economia mal foi explorado por Milei.

A temperatura foi aumentando, com os candidatos tentando falar ao mesmo tempo em várias ocasiões. Ao menos duas vezes, os moderadores tiveram de intervir e pedir calma. Ambos se acusaram de mentirosos diversas vezes.

Relações com o Brasil

No segundo tema, sobre as relações da Argentina com o mundo, Massa voltou a apertar o rival sobre suas declarações, como as críticas ao Brasil e à China. Milei disse que as relações comerciais ficariam a cargo do setor privado, e que se houvesse problema com os países, o comércio poderia ser triangulado, passando por um terceiro país.

Sobre o Brasil, manteve a postura de que não se importa muito com o tema. "Qual o problema se eu não falar com Lula? Alberto Fernández não falava com Bolsonaro", disse Milei. Massa respondeu que ele mesmo, como ministro, se reuniu com o presidente brasileiro, e insistiu que as relações comerciais dependem de negociações entre os países, enquanto Milei repetia que defendia um comércio livre e sem restrições, com escolha livre das empresas.

Ainda neste tema, houve espaço para Massa questionar Milei sobre os ataques ao Papa Francisco. O libertário disse que respeita o pontífice e o receberia na Argentina com honras de chefe de Estado.

Neste bloco, houve espaço ainda para uma comparação curiosa, entre a ex-primeira-ministra britânica Margareth Thatcher e jogadores de futebol. Massa questionou o rival por idolatrar a líder britânica mesmo ela tendo comandado uma vitória militar contra a Argentina em 1982. "Com este critério, quando Mbappé, com os gols que ele fez na final, teria que desprezá-lo porque fez gols contra nós. Uma coisa não tem que ver com a outra. Houve uma guerra e a perdemos", respondeu, emendando que defende a soberania argentina sobre as ilhas Malvinas, ou Falklands, que são um domínio britânico.

No terceiro tema, sobre educação e saúde, Milei afirmou que pretende manter ambas gratuitas, e ressaltou que isso é uma questao que não compete apenas ao governo federal, mas também a províncias e municípios. O libertário também disse que não pretende colocar cobranças em universidades públicas.

Depois de 50 minutos sem pausa, houve um intervalo. Na volta, os dois candidatos pareciam mais comedidos. Ao debater o tema trabalho, Massa prometeu gerar 2 milhões de empregos, enquanto Milei acusou o ministro de integrar um governo corrupto, que cria regras e limitações econômicas para favorecer amigos. O ministro retrucou que se o rival tinha alguma denúncia, que iria com ele ao tribunal para formalizá-la na segunda-feira. Massa disse ainda que não tinha amigos empresários, o que gerou risadas na plateia.

Na reta final, nos blocos sobre segurança pública e democracia, Milei fez mais alguns ataques a Massa, como o de que o governo atual fez um crime de "lesa-humanidade" ao estabelecer regras de restrição na pandemia.

No conjunto do debate, Massa se mostrou um debatedor mais controlado e afiado nas perguntas e respostas, enquanto Milei encontrou menos espaço para se impor, embora tenha dado várias alfinetadas curtas no rival.

A lei argentina proíbe a divulgação de pesquisas na semana antes da eleição, de modo que não haverá estudos públicos sobre os efeitos do debate na corrida eleitoral. Os últimos estudos apontaram empate técnico entre os dois, com ligeira vantagem para Milei.

Os argentinos votam no segundo turno no próximo domingo, dia 19, e a posse do novo presidente está marcada para o dia 10 de dezembro.

A íntegra do debate, em espanhol, pode ser assistida abaixo:

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