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De heróis do Vale do Silício a vilões por espionagem

"Quando as companhias ganham bilhões de dólares, provavelmente, não são mais tão idealistas", disse Roger Kay, analista da Endpoint Technologies Associates

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 11 de junho de 2013 às 19h51.

Os idealistas que fundaram algumas das companhias de tecnologia mais bem sucedidas do mundo estão envolvidos na polêmica provocada pelo vasto programa confidencial de vigilância do governo americano denominado PRISM, denunciado como "orwelliano", em referência à sociedade de controle descrita na obra de George Orwell.

Ironicamente, as empresas acusadas de fazer parte deste gigantesco Big Brother começaram com ideais nobres, como o do Facebook de tornar o mundo "mais aberto e conectado", ou do Google de "organizar a informação do mundo e torná-la universalmente mais acessível e útil".

"Quando as companhias ganham bilhões de dólares, provavelmente, não são mais tão idealistas", disse Roger Kay, analista da Endpoint Technologies Associates, que acompanha o setor desde os primórdios da internet.

"Tiveram que tomar decisões para ganhar dinheiro ao invés de proteger os direitos dos usuários", acrescentou.

Segundo Joseph Hall, do Centro para a Democracia e a Tecnologia (CDT, na sigla em inglês), com sede em Washington, empresas como Google, Facebook e Apple acabaram abrigando grande quantidade de dados para tentar "capitalizar" suas grandes bases de dados e, portanto, se tornaram alvos importantes para as forças de ordem.

"O movimento rumo à nuvem (da internet) é significativo", disse Hall. "Todos estes dados estão disponíveis porque se consegue rapidamente uma grande capacidade de processamento e armazenamento", acrescentou.

Hall explicou que depois da oferta pública de suas ações, as companhias sofrem "muita pressão para fazer coisas que são diferentes de suas missões idealistas. Têm que criar rendimento para os acionistas".

No âmbito do programa PRISM, revelado na semana passada, a Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos pode emitir diretrizes a empresas da internet pedindo acesso a e-mails, fotos, chats online, arquivos e vídeos, entre outras funções, postados na internet por usuários estrangeiros.


Algumas das maiores empresas do Vale do Silício estão envolvidas neste programa, entre elas Microsoft, Yahoo, Google, Facebook, Apple, PalTalk, AOL, Skype e YouTube.

Os provedores de serviço negam ter dado ao governo acesso aos dados de seus clientes e insistem em que só os forneceram quando obrigados por lei.

A polêmica nos Estados Unidos ocorre em um momento em que outros países, especialmente a China, usam tecnologia online para espionar seus cidadãos, o que ressalta preocupações de que os governos estejam subvertendo a internet.

"A vigilância governamental injustificada é uma intrusão nos direitos humanos básicos que ameaça os próprios fundamentos de uma sociedade democrática", escreveu Tim Berners-Lee, o inventor da web, em um comunicado publicado no jornal Financial Times.

"Peço a todos os usuários da web que solicitem mais proteção legal e processos devidos de salvaguarda da privacidade de suas comunicações online, inclusive seu direito de ser informado quando alguém solicita ou armazena seus dados", acrescentou.


Lee e outros pioneiros da internet sempre viram a rede como um meio de aumentar a liberdade pessoal. Sua Fundação World Wide Web se dedica a "um mundo em que todas as pessoas possam utilizar a web para se comunicar, colaborar e inovar livremente, construir pontes entre as divisões que ameaçam nosso futuro comum".

Hall, do CTD, afirmou que "a síntese do idealismo são duas pessoas que criam grandes serviços em suas garagens", mas quando as empresas crescem, "fica mais complicado".

Estas companhias "aparecem muito como Big Brother, mas para sermos justos, não sabemos muito bem o que ocorre sem termos os arquivos censurados", acrescentou.

O especialista destacou, no entanto, que "seu êxito contínuo depende da proteção da privacidade do usuário". Ele considera que é necessário assegurar aos clientes que seus dados estão protegidos.

Kay destacou que os clientes das gigantes da tecnologia "sempre sentiram que podem confiar nas companhias" e que existe um risco de que "os clientes se tornem cínicos".

Segundo Kay, muitas facetas do PRISM permanecem pouco claras, como porque algumas companhias ficaram à margem do sistema e porque a Apple não participou até 2012, após a morte de Steve Jobs.

"Imagino que Steve Jobs tenha dito ao governo para se esquecer disso", afirmou Kay.

Embora a tecnologia de acompanhamento esteja disponível há muito tempo, as revelações do PRISM sugerem "uma mudança radical".

"Apesar de isto estar acontecendo há muito tempo, o mundo da 'consciência da informação total' já está entre nós e chegou de forma bastante repentina", afirmou.

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