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De fumaça branca a votos secretos: como funciona a eleição de um novo Papa?

Substituto de Francisco será escolhido em cerimônia tradicional, fechada e restrita por votos de segredo

Agência o Globo
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Publicado em 21 de abril de 2025 às 11h13.

Última atualização em 21 de abril de 2025 às 12h24.

Durante seus 2 mil anos de história, a Igreja Católica modificou várias vezes as modalidades para a designação de um Papa até chegar tardiamente à fórmula atual do conclave. O conclave, que vem do latim cum clave (“fechado”), foi instituído em 1271 pelo Papa Gregório X — a obrigação do voto secreto só surgiu a partir de 1621. Assim, quando o chefe da Igreja católica renuncia à função ou morre, seu sucessor é eleito pelos cardeais reunidos na Capela Sistina, onde ficam isolados do mundo exterior. O Papa Francisco morreu nesta segunda-feira, aos 88 anos.

Juramentos, cantos gregorianos e a promessa de segredo, sob pena de excomunhão, tudo acontece a portas fechadas na Capela Sistina. O conclave é um processo rico em rituais e tradições, que deixa o mundo em suspense, aguardando para saber a cor da fumaça que sairá da chaminé da capela. Nos últimos anos, a internacionalização crescente do colégio de cardeais tornou cada vez mais aleatória qualquer previsão sobre a escolha do conclave.

O Vaticano implementou medidas especiais para garantir o isolamento dos cardeais durante o conclave, ao mesmo tempo que busca oferecer condições minimamente confortáveis, especialmente para os mais idosos. O ritual, responsável por eleger o novo Papa, ocorre entre 15 e 20 dias após a morte ou renúncia do Pontífice.

Como acontece o conclave?

Os cardeais seguem em cortejo da Capela Paulina até a Capela Sistina, onde as portas são fechadas e as chaves retiradas. O isolamento é rigorosamente assegurado pelo cardeal camerlengo no interior e pelo prefeito da Casa Pontifícia, do lado de fora.

Feito o juramento, o condutor da cerimônia dá a ordem Extra omnes ("todos para fora") e aqueles que não fazem parte do conclave deixam a capela. Cabe a um cardeal ler sobre as qualidades necessárias e os desafios do novo Papa. Permanecem nos arredores apenas funcionários de segurança, mestres de cerimônia e outros funcionários essenciais para a logística do rito. O processo pode ter até 120 cardeais votantes e elegíveis — atualmente, a Igreja tem 252 cardeais, sendo 138 com direito a voto. Aqueles com mais de 80 anos não votam.

Durante a eleição, os cardeais devem jurar, um a um, que respeitarão o sigilo do voto e aceitarão o resultado. Além disso, comprometem-se a garantir que o eleito reivindicará integralmente os direitos do Pontífice romano.

A votação ocorre na Capela Sistina, com um escrutínio pela manhã e outro à tarde. As cédulas são queimadas após cada rodada, e o vencedor precisa obter ao menos dois terços dos votos. Cada um dos cardeais eleitores escreve sua escolha em um papel com os dizeres: Eligo in summen pontificem (“Elejo o Sumo Pontífice”). Eles se aproximam do altar, um a um, e dizem: "Convoco como minha testemunha Cristo, o Senhor, que será o meu juiz, de que meu voto é dado àquele que, diante de Deus, eu acredito que deva ser eleito".

Nove cardeais são sorteados para funções específicas: três para compor a mesa de votação, três para recolher votos (quando necessário) e outros três para supervisionar a mesa. Para contar os votos, as cédulas são perfuradas na palavra "eligo" com uma agulha e uma linha, formando uma espécie de cordão, e são queimadas com substâncias químicas específicas. É aí que são produzidas as fumaças — preta ou branca.

Caso os cardeais não elejam o novo Papa durante três dias de votações, estas serão suspensas durante um dia para uma pausa de oração, de livre colóquio entre os votantes e de uma breve exortação espiritual.

Assim que o resultado é definido, o decano dos cardeais pergunta ao eleito se ele aceita a nomeação. Caso concorde, ele se torna Papa imediatamente e assume a liderança da Igreja Católica. O novo Pontífice, então, escolhe o nome pelo qual será conhecido ao longo de seu papado, seguindo uma tradição secular.

A comunicação do resultado ao público segue um rito tradicional. Um fogareiro é instalado na Capela Sistina para informar os fiéis reunidos na Praça de São Pedro e a imprensa mundial. Se a fumaça que sai da chaminé é preta, significa que ainda não houve consenso. Quando a fumaça branca aparece, o mundo sabe que um novo Papa foi escolhido.

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