Evo Morales: governo boliviano achou em seus aliados bolivarianos um respaldo incondicional para aplicar suas políticas e superar conflitos internos (Getty Images/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 8 de outubro de 2014 às 16h46.
La Paz - A Bolívia, que tinha uma relação prioritária com o bloco bolivariano Alba, passou a buscar mais protagonismo internacional durante o segundo mandato de Evo Morales, mas aguçou sua distância de Chile e Estados Unidos e esfriou laços com seus vizinhos Brasil e Peru.
Na primeira gestão de Morales (2006-2009), a aproximação com os países da Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), sobretudo com Cuba e Venezuela, foi prioritária para o governo boliviano.
Ele achou em seus aliados bolivarianos um respaldo incondicional para aplicar suas políticas e superar conflitos internos. Esta relação com a Alba se manteve firme durante o segundo mandato de Morales, mas perdeu protagonismo na medida em que o bloco bolivariano se enfraquecia.
A morte do presidente venezuelano Hugo Chávez, por exemplo, significou a perda do líder mais visível da aliança, sem um sucessor claro. Mas, além disso, a Bolívia ampliou seus alvos multilaterais com conquistas como a aprovação de documentos nas Nações Unidas que declararam o acesso à água como um direito humano, a declaração de 2013 como ano internacional da quinoa e o reconhecimento de mascar a folha de coca como tradição cultural no país andino.
O maior protagonismo multilateral de Morales aconteceu neste ano, quando a Bolívia assumiu a presidência rotativa do Grupo dos 77 países em desenvolvimento mais a China (G77).
Em junho, ele foi anfitrião de uma cúpula do bloco que contou com a participação de cem delegações que aprovaram uma declaração para impulsionar reformas globais, entre elas a erradicação da pobreza extrema até 2030.
Assim como o multilateralismo de Morales rendeu elogios, também provocou críticas.
Ele viveu um mau momento na Europa em julho de 2013, quando seu avião presidencial retornava da Bolívia vindo de uma reunião na Rússia, e teve negado o sobrevoo e aterrissagem na França, na Itália e em Portugal, porque estes governos suspeitaram que o ex-analista da CIA, Edward Snowden, pudesse estar a bordo.
Morales ficou preso por 13 horas em Viena, e o incidente prejudicou, embora por pouco tempo, as relações com esses países e também com a Espanha, com quem Morales se estranhou porque o embaixador espanhol na Áustria quis revistar seu avião para checar se Snowden viajava ou não com ele.
A Alba, a União de Nações Sul-americanas (Unasul) e a Organização dos Estados Americanos (OEA) cerraram fileiras com o líder e condenaram o incidente.
Se a ação de Morales 'foi bem-sucedida no campo multilateral, no bilateral nem tanto, pois há problemas e distanciamentos não resolvidos com quatro países', disse à Agência Efe o analista e diplomata Gustavo Aliaga.
Nos últimos cinco anos, a Bolívia se aproximou de Rússia, França, China, Irã e Palestina enquanto as relações com seus vizinhos Brasil, Peru e Chile esfriaram, e com os Estados Unidos se deterioraram enormemente.
O problema com o Brasil foram os refúgios temporários dados ao opositor boliviano Roger Pinto e ao promotor Marcelo Soza.
Pinto, que diz ser perseguido político, ficou por mais de um ano abrigado na embaixada brasileira em La Paz e fugiu para o Brasil em agosto de 2013 com ajuda de diplomatas brasileiros, caso que provocou a queda do então ministro do Itamaraty, Antonio Patriota.
Soza, que dirigiu a investigação de um suposto complô contra Morales divulgado em 2009, renunciou após ser acusado de corrupção e também fugiu.
Segundo Aliaga, a tensão com o Brasil não está resolvida, pois os respectivos embaixadores encerraram suas funções há meses e até agora não foram designados seus sucessores.
As relações com o Chile também não passam por seu melhor momento, por causa da decisão de Morales de levar a centenária reivindicação marítima boliviana à Corte Internacional de Justiça de Haia.
A ação, formalizada em abril de 2013, elevou a tensão entre os dois países, e a relação não melhorou nem com o retorno ao poder de Michele Bachelet, com a qual Morales manteve um 'idílio diplomático' no mandato anterior dela.
Com o Peru o trato é cordial, mas distante, e com os Estados Unidos não há relação em nível de embaixadores desde 2008, quando Morales expulsou o então representante diplomático e a agência antidrogas americana, acusando-os de conspirar contra seu governo.
O presidente garantiu várias vezes querer uma relação de respeito mútuo com Washington, embora sistematicamente acuse os Estados Unidos de estarem por trás de todos os conflitos e supostos planos de conspiração contra a Bolívia e outros países 'anti-imperialistas'.
Se Morales for reeleito, Aliaga considera que a primeira coisa que deverá fazer é 'começar em casa e reordenar as relações bilaterais' com seus vizinhos, pela fronteira que compartilham e porque estes devem ser seus principais aliados na luta antidrogas.