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Curdos se sentem traídos pelos EUA após ofensiva da Turquia

Donald Trump decidiu remover as tropas norte-americanas da região após a derrota do Estado Islâmico, dando espaço para que a Turquia atacasse os curdos

Curdos: "Costumavam compartilhar o pão juntos e combater o terrorismo juntos. É uma grande decepção", disse Bakr, falando sobre a decisão de Washington de ordenar a saída das tropas (Yiannis Kourtoglou/Reuters)

Curdos: "Costumavam compartilhar o pão juntos e combater o terrorismo juntos. É uma grande decepção", disse Bakr, falando sobre a decisão de Washington de ordenar a saída das tropas (Yiannis Kourtoglou/Reuters)

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AFP

Publicado em 15 de outubro de 2019 às 14h57.

Enquanto enterram seus mortos, a minoria curda na Síria denuncia a "traição" dos aliados Estados Unidos, a qual abriu o caminho para a ofensiva da Turquia em seu território.

Em um cemitério da cidade de Qamishli, de maioria curda, Basna Amin, 57 anos, observa como os mortos recentes são sepultados perto de companheiros perdidos na luta contra o grupo Estado Islâmico (EI).

"Estamos decepcionados porque (os americanos) nos traíram", disse Amin à AFP.

Pelo menos 135 combatentes curdos morreram em um ataque de Ancara, levando à retirada americana na semana passada das zonas fronteiriças do norte da Síria, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).

A medida de Washington, amplamente interpretada como um aval à invasão turca planejada há muito tempo, gerou ressentimento entre os curdos que já perderam 11.000 combatentes em batalhas contra o EI.

Sentada perto do túmulo de seu filho, que morreu lutando contra os jihadistas em 2014, Jawahir explica que os sacrifícios dos curdos da Síria compensarão o duro golpe dado por Washington.

"Fomos traídos antes. Todas as conquistas que conseguimos foram graças ao sangue desses mártires", acrescenta. "Seu sangue não será desperdiçado", garantiu.

Centenas de pessoas com retratos de seus "mártires" foram ao cemitério para enterrar os combatentes mortos nas recentes batalhas fronteiriças.

Pagar com nossos filhos

Vestida com uniforme militar, Farida Bakr, combatente curda, pressiona seu corpo contra um caixão colorido.

Na multidão, outra mulher sussurra palavras inaudíveis, enquanto acaricia um caixão parecido, decorado com fitas, flores e um lençol vermelho.

Em campanha pela reeleição, o presidente americano, Donald Trump, está disposto a cumprir a promessa de tirar as tropas americanas da Síria.

Mais de 1.000 soldados estão deixando o norte da Síria. Os Estados Unidos apenas manterão um contingente residual de aproximadamente 150 soldados no sul, na base de Al Tanf, perto das fronteiras com Jordânia e Iraque.

"Costumavam compartilhar o pão juntos e combater o terrorismo juntos. É uma grande decepção", disse Bakr, falando sobre a decisão de Washington de ordenar a saída das tropas.

"Ficaremos em nossa terra e lutaremos até sairmos vitoriosos, mesmo se tivermos que pagar com nossos filhos", diz a combatente de 50 anos.

Perto dela, outras mulheres levantam dois dedos em um gesto de vitória, olhando para o chão.

Para Suad Hussein, cujos filhos estão entre os que lutam contra as forças de Ancara, os curdos podem confiar somente em si mesmos.

"Só temos esperanças em nossas forças, porque os curdos não têm amigos", disse à AFP. "Seremos amigos de nós mesmos e enfrentaremos nossos inimigos", completou.

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