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Curdos se afastam do Iraque apesar de gestos conciliadores

Presidente do Curdistão iraquiano pediu ao Parlamento da região autônoma a organização de um referendo de independência


	Integrantes do EI: jihadistas do Estado Islâmico já controlavam quase toda a província petroleira de Deir Ezor
 (AFP)

Integrantes do EI: jihadistas do Estado Islâmico já controlavam quase toda a província petroleira de Deir Ezor (AFP)

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Da Redação

Publicado em 8 de julho de 2014 às 08h54.

São Paulo - O presidente do Curdistão iraquiano, Massud Barzani, pediu nesta quinta-feira ao Parlamento da região autônoma a organização de um referendo de independência, apesar dos gestos conciliadores do primeiro-ministro, Nuri al-Maliki, e em plena ofensiva jihadista no Iraque, que ameaça implodir o país.

No terreno, os jihadistas do Estado Islâmico (EI) já controlavam quase a totalidade da província petroleira de Deir Ezor, no leste da Síria e na fronteira com o Iraque, e assumiram o controle de Al Omar, um dos maiores campos de petróleo da Síria.

"Os deputados deveriam preparar um referendo sobre o direito à autodeterminação desta região, que aspira à independência há décadas", declarou Barzani. "Isto reforçaria nossa posição e será uma arma potente a nosso favor", completou.

Barzani alertou em entrevista à BBC no começo da semana que o Curdistão pretendia organizar, nos próximos meses, um referendo de independência, ao assegurar que era o melhor momento, pois o Iraque já estava dividido.

Desde o início, em 9 de junho, de uma ofensiva dos insurgentes sunitas, grandes partes do país estão fora do controle de Bagdá. Muitas estão sob o domínio do Estado Islâmico (EI), que lidera a rebelião.

Mas a ofensiva dos insurgentes também permitiu aos curdos assumir o controle de setores que Bagdá não permitia, especialmente a cidade multiétnica rica em petróleo de Kirkuk.

Neste contexto, a possibilidade de continuar à frente do Executivo iraquiano se complica para Maliki, vencedor das legislativas de 30 de abril sem maioria absoluta.

Maliki, acusado de concentrar o poder e de marginalizar a comunidade sunita, decretou uma anistia para as pessoas que não estiverem envolvidas em atos contra o Estado, incluindo os oficiais do ditador falecido Saddam Husein, com o objetivo de se manter no poder.

Ele insistiu em que está trabalhando seriamente pela unificação de todas as tribos, intelectuais e políticos que acreditam na integridade do Iraque, em sua soberania e sua força.

No controle dos dois lados da fronteira

O Estado Islâmico (EI) já controla quase a totalidade da província petroleira de Deir Ezor, no leste da Síria e na fronteira com o Iraque, e assumiu o controle de Al Omar, um dos maiores campos de petróleo da Síria.

Mayadin, uma das principais cidades da província, caiu em mãos do EI depois da retirada da Frente Al Nosra (facção síria da Al-Qaeda), e o EI hasteou sua bandeira na cidade, informou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

Nas últimas horas, os combates também cessaram na localidade de Shuheil, na cidade de Ashara e nos povoados vizinhos, segundo a ONG.

Em Shuheil, os rebeldes islamitas, inclusive, uniram-se ao EI, assim como os rebeldes e combatentes da Al Nosra em Ashara.

Na terça-feira, o EI tomou Bukamal, a principal cidade de Deir Ezzor, fronteira com o Iraque.

O EI também tomou a cidade iraquiana de Qaem e, por isso, controla os dois lados da fronteira.

O EI se apoderou de territórios na Síria e no Iraque e anunciou em 30 de junho a criação de um califado, antiga forma de governo islamita.

Na Síria, este grupo extremista está em guerra com os rebeldes e os adversários jihadistas da Al-Nosra.

No entanto, desde a tomada de Bukamal, rebeldes e jihadistas se uniram ao Estado Islâmico e ao proclamado califa, o líder do grupo, Abu Bakr al-Baghdadi.

Mas oficialmente, a Al-Nosra e o conjunto da rebelião continuam em guerra com o EI, um grupo acusado das piores atrocidades, como execuções sumárias e crucificações.

Além disso, os combates prosseguem perto de Tikrit, capital da província de Saladino, em mãos dos insurgentes sunitas. As forças governamentais tentam retomar seu controle desde domingo, mas avançam lentamente.

Negociações americanas

Na frente diplomática, os Estados Unidos, cujas tropas se retiraram do Iraque no final de 2011, depois de oito anos de ocupação, realizam negociações com figuras-chave da região para tentar obter um governo de unidade.

O parlamento iraquiano deve reunir-se novamente no próximo dia 8 para tentar lançar o processo de criação de um governo de unidade, depois do fracasso da primeira sessão, na terça-feira.

O presidente Barack Obama entrou em contato com o rei Abdullah, da Arábia Saudita, para pedir que use sua influência, e o secretário de Estado americano, John Kerry insistiu junto a Barzani no importante papel dos curdos na formação do novo governo.

O chefe militar máximo dos Estados Unidos afirmou nesta quinta-feira que as forças iraquianas fortaleceram sua defesa em torno de Bagdá, mas que, provavelmente, vão precisar de ajuda para recuperar o território perdido para os jihadistas.

"Provavelmente, não sozinhas", indicou o general Martin Dempsey, ao ser consultado se o Exército iraquiano seria capaz de recuperar o terreno perdido.

Por fim, o ministro turco das Relações Exteriores, Ahmet Davutoglu, anunciou que os 32 caminhoneiros turcos sequestrados em junho por jihadistas no Iraque foram libertados nesta quinta-feira e entregues às autoridades turcas no país.

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