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Cúpula pela Democracia pode se voltar contra Biden

Começa nesta quinta cúpula liderada pelo presidente americano em defesa da democracia e dos direitos humanos e na luta contra a corrupção. Oito países latino-americanos não foram convidados

Biden: Cúpula da Democracia organizada pelo governo americano marca um ano da invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro (Kevin Lamarque/Reuters)

Biden: Cúpula da Democracia organizada pelo governo americano marca um ano da invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro (Kevin Lamarque/Reuters)

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AFP

Publicado em 9 de dezembro de 2021 às 06h00.

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A ausência de oito países latino-americanos na Cúpula pela Democracia de Joe Biden pode criar um "clube dos bons" e outro dos maus, o que seria "contraproducente" para os interesses americanos e para a própria democracia na região, afirmam especialistas.

O presidente americano celebra nesta quinta (9) e na sexta-feira (10) uma Cúpula pela Democracia virtual, para a qual convidou representantes de mais de 100 representantes de governos, assim como ativistas, jornalistas, líderes do setor privado e outros membros de destaque da sociedade civil.

A ideia é que a cúpula sirva de plataforma para que os líderes "anunciem novos compromissos, reformas e iniciativas" com base em três pilares: a defesa da democracia contra o autoritarismo, a luta contra a corrupção e o respeito aos direitos humanos, afirmou na terça-feira (7) um funcionário do governo americano, que pediu anonimato.

Oito países das Américas foram excluídos da reunião, que será feita de forma remota devido à pandemia. Trata-se de Venezuela, Nicarágua, Cuba, Bolívia, El Salvador, Honduras, Guatemala e Haiti, que não foram convidados por Washington.

"É muito provável que essas ausências da cúpula sejam contraproducentes tanto para os interesses dos Estados Unidos como para a democracia na região", declarou à AFP Michael Shifter, presidente da ONG Diálogo Interamericano.

Os excluídos podem interpretar que os Estados Unidos aplicam a política do 'se não está comigo, está contra mim' e desembocar em dois grupos, "o das democracias e os demais", afirma Christopher Sabatini, pesquisador da organização Chatham House.

"Se não agir com cautela, [Biden] pode criar dois blocos", sem que cada um deles tenha necessariamente uma afinidade ideológica, de modo que "o clube dos bons obteria benefícios diplomáticos e reconhecimento na Casa Branca, e os outros ficariam para trás", explica.

No caso da América Latina, chama a atenção a ausência dos países do Triângulo Norte da América Central (Guatemala, Honduras e El Salvador), que são prioritários na política americana para abordar as causas principais da migração.

Shifter avalia que isso se deve ao fato de "Biden partir da base de que há muita corrupção e enfraquecimento das instituições democráticas" nesses países, mas ressalta que essa situação não é muito diferente da de outros países da região que foram convidados, como o Brasil.

Fonte de ressentimento?

Ao excluir os países do Triângulo Norte, "é de se esperar que os três governos passem a desafiar mais do que nunca os Estados Unidos e cooperem menos ainda em relação às pressões migratórias", opina Shifter.

Fora o provável "ressentimento" que fará com que esses países "resistam ainda mais a fazer reformas políticas e aumentem o seu interesse [...] em fortalecer alianças com a China", acrescenta.

Já sobre a Venezuela, Washington não convidou representantes do governo de Nicolás Maduro, que considera uma ditadura, mas sim o líder opositor Juan Guaidó. Este, por sua vez, incluiu opositores de outros países em sua delegação oficial, como a nicaraguense Berta Valle e a cubana Rosa María Payá, o que gerou fortes críticas de Cuba.

"A convocação seletiva para uma cúpula que diz ser sobre democracia é uma demonstração de fraqueza dos EUA, incapaz de encarar na ONU o desprestígio e isolamento de sua política externa", escreveu o chanceler cubano, Bruno Rodríguez, no Twitter.

Nesse sentido, Sabatini acredita que a cúpula seria mais útil se fosse um espaço aberto, "mais inclusivo e mais focado em dialogar sobre metas", como a redução das desigualdades, ao invés de priorizar o combate à corrupção, um dos requisitos exigidos por Biden.

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