Mundo

Cúpula do Mercosul começa em meio a tensões sobre flexibilização do bloco

O presidente Jair Bolsonaro não estará presente na cúpula, como fez em julho durante o encontro em Assunção

Mercosul: Representantes dos Estados-membros e Estados Associados começam a se encontrar nesta segunda-feira (AFP/AFP Photo)

Mercosul: Representantes dos Estados-membros e Estados Associados começam a se encontrar nesta segunda-feira (AFP/AFP Photo)

A

AFP

Publicado em 5 de dezembro de 2022 às 13h14.

A cúpula do Mercosul aquece os motores nesta segunda-feira (5), véspera da reunião de chefes de Estado, com a flexibilização do bloco novamente sobre a mesa e um clima renovado de tensão, após a ameaça de represálias contra o Uruguai por seu interesse em assinar acordos com terceiros países.

Representantes dos Estados-membros e Estados Associados começam a se encontrar nesta segunda-feira na reunião do Conselho do Mercado Comum, em preparação para a cúpula de presidentes de terça-feira (6), que contará com a presença do argentino Alberto Fernández e do paraguaio Mario Abdo, além do anfitrião, o uruguaio Luis Lacalle Pou. 

Receba as notícias mais relevantes do Brasil e do mundo na newsletter gratuita EXAME Desperta.

O presidente Jair Bolsonaro não estará presente na cúpula, como fez em julho durante o encontro em Assunção.

O argentino Fernández receberá a presidência provisória do bloco do uruguaio Luis Lacalle Pou.

O presidente uruguaio espera uma reunião "entretida", em declarações na última quarta-feira, ao saber de uma nota divulgada por Brasil, Argentina e Paraguai, em que os três levantam a possibilidade de "possíveis medidas" contra Montevidéu por seu pedido de adesão ao Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífica (CPTPP).

"Os três países se reservam o direito de adotar as medidas que considerem necessárias para defender seus interesses no campo jurídico e comercial", alertaram Buenos Aires, Brasília e Assunção em declaração conjunta, que critica a posição uruguaia de buscar acordos com países de fora da zona sem o consentimento dos demais sócios.

Horas depois, o governo uruguaio finalizou seu pedido de adesão ao acordo comercial formado por Austrália, Japão, Canadá, Nova Zelândia, Brunei, Chile, Malásia, México, Peru, Singapura e Vietnã, por meio de uma carta entregue por seu ministro das Relações Exteriores, Francisco Bustillo.

Este é um novo capítulo que se soma à disputa que o menor país do bloco, com 3,5 milhões de habitantes, mantém com seus sócios há décadas.

De fato, o governo de Lacalle Pou também tenta negociar um Tratado de Livre-Comércio (TLC) com a China sem a aprovação dos outros membros do Mercosul, o que irritou particularmente a Argentina e o Paraguai.

Uma resolução conjunta do ano 2000 e o tratado fundador de 1991 sugerem que os acordos do Mercosul devem ser alcançados em conjunto pelos sócios, uma interpretação da regulamentação que o Uruguai não compartilha.

Jogada política

A declaração das três chancelarias, e a decisão de divulgá-la simultaneamente, "é uma mensagem, um movimento mais político do que concreto, um alerta que o Mercosul dá ao Uruguai sobre algo que já sabíamos que eles não compartilhavam", disse o especialista em Relações Internacionais, Ignacio Bartesaghi, em declarações à AFP.

Para o analista, "o Uruguai não pode voltar atrás em algo que ainda não começou".

"O que se iniciou até agora são anúncios e ações que não têm qualquer tipo de possibilidade de reclamação judicial", ponderou sobre o pedido de adesão ao CPTPP, bem como sobre o caminho percorrido para negociar um acordo de livre-comércio com a China.

"O Uruguai ainda não está negociando. Fechar um estudo de viabilidade com a China é considerado um primeiro elo da negociação, sim, mas tecnicamente não está negociando nada ainda. E muito menos com o CPTPP, para o qual acabou de apresentar a nota", resumiu.

Neste contexto, Bartesaghi considera que na cúpula "não haverá nada para apresentar" e se repetirá o cenário das reuniões anteriores, sem progressos concretos.

"A discordância do Mercosul em questões mínimas de consenso ficará evidente mais uma vez", afirmou.

Além disso, o especialista destacou que a ausência do Brasil, "a potência" da região, pela segunda vez consecutiva em uma cúpula, é um claro indicador do atual estado de fragilidade do bloco.

LEIA TAMBÉM:

Acompanhe tudo sobre:DiplomaciaMercosul

Mais de Mundo

Controle do Congresso dos EUA continua no ar três dias depois das eleições

China reforça internacionalização de eletrodomésticos para crescimento global do setor

Xiaomi SU7 atinge recorde de vendas em outubro e lidera mercado de carros elétricos

China amplia isenção de visto para turistas de nove países, incluindo Coreia do Sul e Noruega