Fidel Castro, que reiterou neste domingo que é um "soldado das ideias", deixará oficialmente a maior liderança do PCC (Jorge Rey/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 18 de abril de 2011 às 09h57.
Havana - A liderança máxima comunista de Cuba debatia neste domingo o futuro modelo econômico e político delineado por Raúl Castro com uma forte autocrítica: uma gradual reforma econômica e um regime rejuvenescido com limite de mandatos, sempre de partido único e sem ceder à oposição.
Os 1.000 delegados do VI Congresso do Partido Comunista (PCC) apoiaram como uma "plataforma de mudança" o relatório apresentado pelo presidente no sábado, no início do Congresso, marcado por medidas que se afastam do modelo ultracentralizado soviético e se aproximam de um mais moderno, como o chinês.
Modificando o estilo e a estrutura política do socialismo em Cuba, Raúl Castro - a quem seu irmão Fidel Castro cedeu o poder em 2006 após 48 anos no poder - propôs limitar a dois períodos consecutivos de cinco anos o mandato dos cargos do poder.
"Muito bem. Quando uma pessoa se eterniza em um cargo vêm as nomeações a dedo e não se veem os problemas", disse Roberto Garcia, economista aposentado de 74 anos. Yoelvis, informático de 32 anos, opina que "cedem porque já não resta muito tempo, mas deveriam ter feito isso há tempos".
O Congresso analisa também mais de 300 medidas econômicas, urgentes, segundo Raúl, "para garantir a irreversibilidade do socialismo": abertura ao setor privado, corte de empregos, descentralização da agricultura, eliminação de subsídios, autonomia empresarial.
Enérgico, o presidente cubano pediu a erradicação do "dogma", dos "slogans vazios", do "favorecimento", da "mentalidade de inércia" vigentes em meio século de socialismo, nos âmbitos político e econômico.
Falta uma "mudança de mentalidade (...). Se os quadros (internos) não conseguirem, não vamos conseguir com a população", disse a delegada Raquel Zalavarría, segundo a rede de televisão local.
Raúl Castro, que em junho completa 80 anos, criticou o "erro" e a "falta de rigor e visão" na seleção de líderes, já que prevaleceu a militância comunista em vez da capacidade.
"Hoje enfrentamos as consequências de não contar com uma reserva de substitutos devidamente preparados", admitiu, advertindo que nos próximos cinco anos deverá ser assegurado o "rejuvenescimento de todos os cargos", sem excluir o "atual presidente" ou "o primeiro secretário" do PCC que seja eleito no Congresso.
O analista cubano Arturo López-Levy estimou que "o limite de mandatos é um passo histórico em direção às reformas institucionais e coletivas de liderança. O modelo 'Fidel no leme' é substituído. Há uma crítica ao voluntarismo e à improvisação".
O Congresso, em sessão até terça-feira, elegerá uma nova cúpula do PCC, até agora encabeçada por Fidel, de 84 anos, como primeiro-secretário, e por Raúl, como segundo, desde que o partido foi criado, em 1965.
Fidel Castro, que reiterou neste domingo que é um "soldado das ideias", deixará oficialmente a maior liderança do PCC. Sua "liderança indiscutível" não depende "de cargo algum", disse Raúl no sábado.
Economicamente, ele explicou que o modelo "excessivamente centralizado" caminhará para "um sistema descentralizado", onde prevalecerá o planejamento do Estado socialista, mas que "não vai ignorar as tendências presentes no mercado".
Advertiu que é necessário eliminar os subsídios como a "libreta" (caderneta) para uma cesta básica e que continuará "sem pressa, mas sem pausa" com a reorganização da força de trabalho (demissões).
Apaziguando os temores, Raúl Castro afirmou que não serão aplicadas "terapias de choque" no estilo FMI, e que o fim da "libreta" não ocorrerá "subitamente". O presidente também deu a boa notícia para os cubanos de que em breve será autorizada a compra e venda de casas e carros, o que levantaria uma proibição de meio século.
A oposição cubana reagiu de forma pessimista. Raúl disse que "o povo revolucionário" não cederá as ruas aos "contrarrevolucionários", após explicar o recém "concluído" processo de libertação de mais de cem presos políticos.
"Nossa luta foi e continuará sendo pela liberdade dos presos políticos", disse a líder do grupo Damas de Branco, Laura Pollan.
O limite de mandato, "mais do que um anúncio, é uma ameaça, outra década de castrismo ineficiente será para arruinar o país ainda mais", disse à AFP o veterano ativista Elizardo Sanchez. O opositor Oscar Espinosa opinou que uma abertura real seria eliminar o "partido único", já que apenas o PCC é legal.
Raúl reiterou que não se curvará à dissidência ou aos Estados Unidos e à União Europeia. "A única coisa que pode derrotar a revolução e o socialismo (...) é a nossa incapacidade de superar os erros que cometemos por mais de 50 anos", afirmou.