Mundo

Cuba cortará meio milhão de empregos públicos

Comunicado anuncia que o objetivo da ação é aumentar a quantidade de trabalhadores no setor privado

O presidente de Cuba, Raul Castro , disse que apesar da medida ´Ninguém ficará abandonado a sua própria sorte´ (Getty Images)

O presidente de Cuba, Raul Castro , disse que apesar da medida ´Ninguém ficará abandonado a sua própria sorte´ (Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 13 de setembro de 2010 às 17h02.

Havana - Mais de meio milhão de servidores públicos de Cuba perderão seus empregos nos próximos meses, ao mesmo tempo em que é anunciada uma transformação radical nos modelos salariais e de trabalho para atenuar a grave situação econômica.

O que há semanas corria como um rumor incessante pela ilha, se tornou público hoje em um comunicado divulgado pela Central de Trabalhadores de Cuba (CTC), que aprovou a medida para "manter o controle sistemático do andamento do processo".

O comunicado informa a "redução de mais de 500 mil postos de trabalho no setor estadual e, paralelamente, o aumento no setor privado", e detalha que este processo será realizado durante o próximo ano, mais precisamente "até o primeiro trimestre de 2011".

De acordo com o apurado pela Agência Efe, alguns órgãos do Partido Comunista de Cuba - único no país - já foram instruídos para que expliquem aos trabalhadores o que está por vir, enquanto outros já orientaram os funcionários a elaborarem "listas" de pessoas mais ou menos necessárias.

O economista Juan Triana, pesquisador do Centro de Estudos da Economia Cubana, reconheceu em conversa com a Efe que a medida de abrir mão de meio milhão de funcionários é difícil em um país onde a força de trabalho é de três milhões, mas lembrou que já existe meio milhão de trabalhadores no setor privado.

"As contas do Estado já estão saturadas e é muito duro para qualquer Governo, mas já não existe mais remédio", disse Triana, além de acrescentar que a absorção desses desempregados deverá ficar a cargo de "pequenas empresas, cooperativas e empresas familiares, pois não acho que Cuba possa inventar nada novo".

O comunicado da CTC não garante uma nova função aos desempregados, mas sugere um "horizonte de opções com novos tipos de empregos não estatais como arrendamento, usufruto, cooperativas e o trabalho por conta própria para onde se deslocarão milhares de trabalhadores nos próximos anos".

Em Cuba existem centenas de atividades e de negócios que fogem ao controle público, seja em transporte, alimentação, turismo ou quase todos os tipos de serviço, como pode ser comprovado por qualquer visitante "convidado" em plena rua a comprar vários tipos de produtos.

Mas se todas essas atividades não são legalizadas é pela enorme burocracia exigida da iniciativa privada, como lembra o economista dissidente Óscar Espinosa Chepe, que acredita que os problemas poderiam ser resolvidos através do desenvolvimento de um modelo tributário mais eficaz.

Paradoxalmente, o discurso de Chepe e de outros economistas contrários ao regime parece cada vez mais com o do próprio Governo: o comunicado da CTC reconhece hoje que há "mudanças necessárias e inadiáveis a serem introduzidas na economia e na sociedade para transformar e tornar mais eficiente o atual processo de trabalho".

Foi o presidente Raúl Castro que insistiu na necessidade de introduzir mudanças e enxugar o governo inchado, o que acabou sendo feito em excesso com mais de um milhão de pessoas.

O presidente, em discurso realizado no dia 1º de agosto, quis tranqüilizar a sociedade: "Ninguém ficará abandonado a sua própria sorte" porque "o Estado Socialista oferecerá o apoio necessário para uma vida digna".

Na semana passada, Fidel Castro surpreendeu o mundo ao declarar a uma revista americana que o modelo cubano não funciona mais nem para Cuba, e embora tenha explicado dois dias que não se referia ao sistema capitalista, muitos em Havana acham que não havia outra interpretação.

Pelo que foi analisado, Fidel Castro - considerado o ideólogo frente ao pragmático Raúl - dava um respaldo a seu irmão nesta nova readaptação do socialismo cubano cuja última atualização passa por dolorosos eufemismos tão frequentes em outros lugares como os "ajustes de emprego".

Leia mais sobre América Latina

Siga as últimas notícias de Mundo no Twitter

 

Acompanhe tudo sobre:América LatinaDemissõesDesempregoFuncionalismoGestão públicagestao-de-negocios

Mais de Mundo

Manifestação reúne milhares em Valencia contra gestão de inundações

Biden receberá Trump na Casa Branca para iniciar transição histórica

Incêndio devastador ameaça mais de 11 mil construções na Califórnia

Justiça dos EUA acusa Irã de conspirar assassinato de Trump; Teerã rebate: 'totalmente infundado'