Mundo

Cuba: congresso comunista discute reformas e sucessão de Fidel

Atual líder do país, Raúl Castro já manifestou a intenção de abrir espaço no poder para uma nova geração

As reformas iniciadas por Raúl Castro devem ser intensificadas em Cuba (Str/AFP)

As reformas iniciadas por Raúl Castro devem ser intensificadas em Cuba (Str/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 14 de abril de 2011 às 16h27.

Havana - Cuba preparou uma mudança histórica do modelo econômico com a adoção das reformas anunciadas em 2010 por Raúl Castro e um rejuvenescimento da direção do Partido Comunista de Cuba (PCC), que realiza a partir de sábado e até terça-feira seu primeiro congresso em 14 anos.

"Ou mudamos o curso ou afundamos", alertou, em dezembro, o presidente Raúl Castro, que se esforça, depois que sucedeu seu irmão Fidel em 2006, para preparar os 11,2 milhões de cubanos para uma mudança do modelo econômico da ilha.

"Temos o dever essencial de corrigir os erros que cometemos durante essas cinco décadas de construção do socialismo em Cuba", explicou Raúl Castro, de 79 anos.

O mais jovem dos Castro sabe também que chegou a hora de a geração histórica da Revolução passar o bastão. A exemplo de Fidel Castro (84 anos), que anunciou em março sua intenção de renunciar em ocasião do congresso ao posto de primeiro secretário do PCC que ocupa desde a fundação do partido, em 1965.

Para realizar esta "atualização" do modelo cubano, calcado na URSS dos anos 70, o 6º congresso do PCC deverá oficialmente efetuar uma série de reformas econômicas lançadas em 2010 pelo governo.

Redução em cerca de 20% dos postos de trabalho no funcionalismo público, abertura para o setor privado de 178 pequenas empresas, criação de uma rede de cooperativas urbanas, maior autonomia das empresas estatais, descentralização do setor agro-alimentar, abertura ao capital estrangeiro, redução dos subsídios e estabelecimento de um sistema fiscal.

A lista é longa de reformas que devem salvar Cuba do naufrágio, mantendo as conquistas sociais -educação e saúde gratuitas principalmente- e os fundamentos igualitários do sistema cubano.

A evolução se faz também entre duas culturas: a do Estado providencial que atende às necessidades de todos e a do trabalho e da iniciativa privada.

Os milhares de cubanos que perdem seu trabalho no setor público são ainda estimulados a trabalhar por conta própria. Cerca de 300.000 "cuentapropistas" são registrados, sendo que a metade se inscreveu depois da abertura de novas condições de trabalho em outubro.

Os funcionários do Estado que se tornam "disponíveis" são estimulados também a integrar cooperativas de construção ou cooperativas agrícolas: 40% das áreas de terras cultiváveis ainda não são utilizadas, apesar das distribuição de terra em usufruto que o governo realizou a partir de 2008.

Até 2015, metade dos cinco milhões de funcionários públicos deverão passar para o setor privado, espera o governo.

Mas se livrar de um modelo estático paternalista de meio século não é um processo tranquilo.

Mais de sete milhões de cubanos participaram neste inverno de debates de comunidades e associações sobre as reformas. Suas preocupações: o fim da "libreta" - uma lista de racionamento que assegura a todo cubano uma cesta de produtos a preços subsidiados-, o baixo nível dos salários -15 a 20 euros mensais -, a circulação da moeda dupla -o peso "nacional" e o peso "convertível"- que condena aquele que não tem acesso às divisas a uma dura sobrevivência cotidiana.

Há também as preocupações com o capitalismo: enriquecimento pessoal, concentração de riquezas, dificuldades de habitação, qualidade dos serviços.

Paralelamente à economia, o 6º Congresso do PCC deverá eleger também cerca de cem membros de seu comitê central, que designarão em seguida o seu birô político (19 membros hoje) e seu secretariado (10).

Fidel Castro deverá deixar suas últimas funções oficiais, mas manterá toda a sua influência, como bom "soldado de ideias", como gosta de se apresentar.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaComunismoCubaPolítica

Mais de Mundo

Votação antecipada para eleições presidenciais nos EUA começa em três estados do país

ONU repreende 'objetos inofensivos' sendo usados como explosivos após ataque no Líbano

EUA diz que guerra entre Israel e Hezbollah ainda pode ser evitada

Kamala Harris diz que tem arma de fogo e que quem invadir sua casa será baleado