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Cuba cancela desfile de Dia dos Trabalhadores devido à falta de combustíveis

A marcha do Dia dos Trabalhadores costuma ser um evento grande na capital, que envolve uma mobilização de ônibus cheios de gente de toda a cidade em direção à Praça de Revolução

Cuba: país enfrenta maior escassez de combustíveis dos últimos anos (YAMIL LAGE / Colaborador/Getty Images)

Cuba: país enfrenta maior escassez de combustíveis dos últimos anos (YAMIL LAGE / Colaborador/Getty Images)

Estadão Conteúdo
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Agência de notícias

Publicado em 30 de abril de 2023 às 12h07.

Cuba não vai realizar nesta segunda-feira, 1º, seu tradicional desfile anual do Dia Internacional dos Trabalhadores, na Praça da Revolução, devido à crise de combustíveis que vem afetando o país há várias semanas, anunciaram fontes sindicais.

A marcha do Dia dos Trabalhadores costuma ser um evento grande na capital, que envolve uma mobilização de ônibus cheios de gente de toda a cidade em direção à emblemática Praça de Revolução, o ponto mais alto e central de Havana.

Em vez disso, este ano serão realizados eventos menores em comunidades, centros de trabalho e escolas durante vários dias e desfiles nos municípios do país. O evento principal vai acontecer na emblemática esplanada Malecón, em Havana, para onde serão convocados os moradores do centro da capital que puderem ir a pé.

“A situação dos combustíveis determina a modificação anunciada”, disse Ulises Guilarte, secretário-geral da Central de Trabalhadores de Cuba (CTC), o único sindicato cubano, de acordo com a imprensa oficial.

Essa é a primeira vez desde a revolução cubana, em 1959, que o desfile de primeiro de maio é suspenso por motivos econômicos. Em 2020 e 2021, a celebração foi cancelada por causa da pandemia de covid-19.

No ano passado, a maré humana se estendeu pelos quase cinco quilômetros que separam o calçadão da Praça da Revolução, onde a mais alta liderança comunista saudou os manifestantes de uma sacada do Palácio da Revolução.

“Trata-se de substituir aquela grande mobilização que fizemos com os meios de transporte, pela participação do povo em atos” nas comunidades e nos centros de trabalho e estudantil por toda a ilha”, disse Guilarte, que complementou dizendo que os atos serão “para denunciar os obstáculos aos programas de desenvolvimento devido ao férreo bloqueio econômico” dos EUA a Cuba.

Pior crise em anos

Na semana passada, o governo cubano disse que os problemas de abastecimento de combustível durariam pelo menos até maio e, portanto, daria prioridade aos serviços vitais de transporte.

A primeira declaração do governo sobre a falta de combustível foi feita uma semana antes pelo presidente Miguel Díaz-Canel, que disse que a situação se devia ao “não cumprimento” dos países fornecedores, que também estão passando por uma “situação energética complexa”.

“Isso é um inferno!”, exclama Lázaro Díaz, um mensageiro cubano de 59 anos que está passou mais de um dia na fila esperando ter a sorte de conseguir gasolina.

Cada vez menos carros circulam pelas ruas de Havana e longas filas de veículos se estendem por quilômetros em torno dos postos de gasolina desta capital.

As consequências desta crise são diretas na vida econômica e social do país. Cinco universidades, uma delas em Havana, suspenderam as aulas presenciais esta semana, enquanto com os transportes públicos afetados, muitas pessoas voltaram ao trabalho remoto.

A empresa de energia pediu aos usuários que enviassem pelo correio o cadastro de seus medidores de luz porque seus funcionários podem não “chegar a todos e cada um de seus clientes” para fazer a leitura, conforme mensagens enviadas aos seus assinantes.

Mas Lázaro Díaz é um trabalhador autônomo e diz que sem sua motocicleta não conseguiria gerar o dinheiro necessário para sustentar sua esposa, filhos e até netos. “Não tenho combustível não posso trabalhar. Anteontem não trabalhei, ontem não trabalhei”, diz ele, encostado em uma parede sob o sol do meio-dia. “Não posso viver na fila”, conclui.

Acostumados com a falta recorrente de gasolina, os cubanos afirmam que essa crise, iniciada no final de março, é a pior em anos.

“Tem sido a crise mais crítica”, diz Édgar Sánchez, um técnico de vôlei de 43 anos que não pôde ir ao trabalho porque ficou sem combustível. “Não somos produtores de petróleo, dependemos do mundo”, diz numa fila de sete horas, lamentando que Cuba seja um país “bloqueado financeiramente” pelos Estados Unidos há mais de 60 anos.

Versão oficial

Em meados de abril, o presidente Miguel Díaz-Canel admitiu que não estava “claro” como conseguiria “sair desta situação”. Segundo ele, atualmente Cuba consome menos de 400 toneladas de combustível das 500 a 600 de que necessita diariamente.

Ele disse que os países fornecedores de petróleo bruto a Cuba não cumpriram seus compromissos porque enfrentam “uma situação energética complexa”, sem mencionar a quais nações se refere.

“Vamos continuar retirando parcialmente o combustível para evitar zerar o abastecimento”, disse Vicente de la O Levy, ministro de Minas e Energia.

Para Jorge Piñón, especialista em política energética da Universidade do Texas, as reclamações do presidente são dirigidas à Venezuela, principal fornecedora de Cuba. “O problema é que Cuba não tem dinheiro, não pode pagar à vista esse petróleo” e o troca com Caracas por trabalhadores como professores e médicos, aponta.

A oferta de petróleo caiu em 2021 de 100.000 barris por dia para cerca de 57.000 em média, número que se manteve em 2022 e no primeiro trimestre de 2023, explica Piñón. Além disso, a ilha produz cerca de 40.000.

No ano passado, a Rússia também enviou “três ou quatro carregamentos de petróleo bruto” a crédito, enquanto a Argélia forneceu um pouco “de tempos em tempos”, acrescenta o especialista.

‘Fechar a torneira’

Diante deste cenário, Cuba tomou a decisão de fechar a torneira para ter combustível suficiente para os próximos meses, acrescenta Piñón.

As autoridades preservaram a disponibilidade para atividades prioritárias, entre as quais o setor de turismo, motor da economia cubana.

Ele deixou pelo menos um posto de gasolina em Havana para veículos com placa “T”, para turismo. Carros alugados ou ônibus para passeios são um pouco mais tranquilos, embora também não sejam poupados das filas.

Os cubanos criaram vários grupos de WhatsApp que explodem dia e noite com informações de todo tipo sobre a eterna espera.

Tem grupo para todos os gostos, para taxistas, particulares e empresas, e até diplomatas se comunicam para organizar sua fila.

Os motoristas têm radar em todas as direções. De Matanzas, importante porto de distribuição de combustíveis a 100 quilômetros de Havana, um taxista escreveu no sábado em seu grupo de WhatsApp: “Estou vendo três navios, dois descarregados e um descarregando agora. Vamos ver se isso nos ajuda”.

(Com agências internacionais)

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