Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro: Maduro rejeitou as principais propostas da oposição (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)
Da Redação
Publicado em 11 de abril de 2014 às 14h13.
Caracas - Governo e oposição da Venezuela, com seus irreconciliáveis líderes à frente, trocaram acusações durante quase seis horas, sem nenhum avanço em qualquer proposta, durante um primeiro encontro, exibido pela televisão, para tentar acabar com dois meses de protestos violentos.
O presidente Nicolás Maduro, acompanhado por seu Estado-Maior, recebeu na quinta-feira no Palácio de Miraflores o duas vezes derrotado candidato da aliança Mesa de Unidade Democrática (MUD), Henrique Capriles, em um encontro que não contou com a presença da ala radical da oposição, que pretende forçar a renúncia presidencial com protestos nas ruas.
O encontro, que aconteceu após intensas negociações dos chanceleres da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), teve como "testemunhas de boa-fé" os ministros das Relações Exteriores do Equador, Brasil e Colômbia, além do núncio apostólico, que leu uma mensagem do papa Francisco.
Maduro rejeitou as principais propostas da oposição - anistia de presos, desarmamento de grupos civis ligados ao governo -, propôs aos opositores que se integrem a mesas e comissões, além de ter convocado uma nova reunião para terça-feira com representantes do governo.
O presidente "perde uma grande oportunidade de realizar uma cessão estratégica à oposição para aumentar a esperança no diálogo", disse o cientista político Luis Vicente León, diretor da empresa Datanálisis.
Maduro, em uma introdução de quase uma hora, apresentou uma lista de críticas aos opositores, entre elas os apelos dos setores radicais por sua derrubada, e pediu "uma condenação da violência como forma de fazer política, como forma e estratégia para mudar governos".
O presidente apresentou o encontro como "coexistência pacífica dos dois modelos que existem na Venezuela: o socialismo bolivariano e humanista e que representam eles na oposição".
Mas Capriles respondeu que a "Venezuela está em uma situação extremamente crítica".
"Não queremos um golpe de Estado nem queremos uma explosão social. Queremos que este problema seja resolvido, mas para isto respeitemos a Constituição, deixemos a repressão", disse Capriles.
Há nove semanas os protestos afetam a Venezuela, alguns deles violentos. Quarenta pessoas morreram, 600 ficaram feridas e mais de 100 denúncias foram apresentadas por violações aos direitos humanos, sem que governo e oposição tenham sentado a uma mesa de discussão até quinta-feira.
"Em uma democracia, o diálogo deve ser a regra, não a exceção", disse o secretário executivo da MUD, Ramón Aveledo, que levou para a mesa dois temas que o governo se recusa inclusive a mencionar: anistia aos detidos e o desarmamento dos grupos civis armados próximos ao governo.
"Há tempo para a justiça e há tempo para o perdão. É tempo para a justiça", respondeu Maduro.
O encontro foi exibido na íntegra em cadeia de rádio e televisão a pedido da oposição, uma demanda aceita pelo governo.
A Venezuela enfrenta protestos desde 4 de fevereiro contra crise econômica e a falta de segurança. Setores radicais da oposição entraram no movimento e estimularam a estratégia batizada de "A saída", que pretende ocupar as ruas para forçar a renúncia de Maduro, eleito em abril de 2013, o que levou o presidente a chamar o movimento como "golpe de Estado em desenvolvimento".
O detido Leopoldo López, da ala radical da MUD, assim como María Corina Machado, deputada opositora destituída durante os protestos, defenderam a tática de ocupação das ruas, que provocaram muitos confrontos nas ruas.