Ataque: a polícia perdeu muito tempo antes de concentrar a investigação no tunisiano (Hannibal Hanschke/Reuters)
AFP
Publicado em 22 de dezembro de 2016 às 11h44.
As autoridades da Alemanha enfrentam uma grande polêmica pelas falhas que permitiram a fuga do tunisiano suspeito de atacar com um caminhão uma feira de Natal de Berlim, apesar dele ter sido fichado como um islamita perigoso.
"Não é desta maneira que vamos garantir a segurança da Alemanha", criticou Armin Laschet, um dos líderes da CDU, o partido conservador da chanceler Angela Merkel, sobre as falhas que impediram a detenção ou expulsão de Anis Amri.
"As informações que temos sobre a forma como as autoridades trabalharam são chocantes", completou, em entrevista à rádio pública.
Amri, um homem de 24 anos cujo pedido de asilo foi rejeitado, é objeto de uma ordem de prisão europeia emitida pela justiça alemã após o ataque de segunda-feira que deixou 12 mortos em uma feira de Natal de Berlim. O atentado foi reivindicado pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI).
Seis vítimas são alemãs. Uma sétima foi identificada como israelense, informaram as autoridades deste país na quinta-feira.
Além das críticas recorrentes sobre sua política de recepção aos refugiados, Merkel terá que enfrentar a controvérsia provocada pela falta de coordenação das autoridades no momento de vigiar o principal suspeito.
O caso de Amri evidencia as falhas do sistema "como se os observássemos com uma lupa", disse outro integrante da CDU, Stephan Mayer.
Em um primeiro momento, a polícia perdeu muito tempo antes de concentrar a investigação no tunisiano, apesar de ter encontrado um documento de identidade do suspeito no caminhão utilizado no ataque.
Os investigadores priorizaram um suspeito paquistanês que terminou liberado.
Além disso, Amri era conhecido pela polícia. Ele foi vigiado durante grande parte de 2016, principalmente em Berlim, onde se suspeitava que poderia estar preparando um atentado e um roubo para obter armas automáticas. Mas em setembro o MP abandonou a investigação por falta de provas.
Apesar do pedido de asilo ter sido rejeitado, a Tunísia bloqueou a expulsão de Amri.
De acordo com o jornal New York Times, o suspeito também era monitorado pelas autoridades americanas por ter entrado em contato, ao menos uma vez, com o grupo EI e por ter pesquisado na internet como fabricar explosivos.
Apesar de todas as informações, o tunisiano foi deixado em liberdade por falta de provas ou, ao que parece, por uma falta de coordenação entre as diferentes esferas do governo. Ele foi vinculado durante meses ao movimento salafista e a conhecidos pregadores da jihad (guerra santa).
"Um fracasso no procedimento de expulsão", afirma na primeira página o jornal alemão Bild nesta quinta-feira, enquanto o conservador Die Welt cita uma "falha" das autoridades.
"As autoridades tinham ele na mira e, mesmo assim, conseguiu desaparecer", afirma o site da revista Der Spiegel.
Para o jornal Darmstädter Echo, um dos problemas é a grande quantidade de níveis de poder e de autoridades do Estado federal.
"Por quê uma pessoa como ele conseguiu brincar de gato e rato com as autoridades responsáveis pela expulsão?", questiona o jornal. "O federalismo, embora não tenha consciência de seus problemas inerentes, representa um risco para a segurança".
A polícia ofereceu uma recompensa de 100.000 euros para quem ajudar a encontrar o suspeito.
Nesta quinta-feira, mais de 100 policiais realizaram uma segunda operação de busca e apreensão em um centro de refugiados de Emmerich (oeste), onde Anis Amri morou por alguns meses, informou a agência DPA.
Na quarta-feira à noite, dois apartamentos de Berlim também foram alvos de buscas, em vão.
Apesar da tensão, Berlim tenta voltar à normalidade. A polícia autorizou a reabertura da feira de Natal que foi atacada na segunda-feira, uma "decisão que não foi fácil de tomar em uma situação assim", afirma a administração do local em um comunicado.