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Cristina Kirchner deixa o poder depois de 12 anos

Na última década, as políticas sociais foram mais de esquerda e na economia de defesa de um capitalismo de Estado


	Cristina Kirchner: a presidente está convencida de que, junto ao falecido marido Néstor Kirchner (2003-2007), liderou uma "renovação patriótica"
 (Argentine Presidency/Handout via Reuters)

Cristina Kirchner: a presidente está convencida de que, junto ao falecido marido Néstor Kirchner (2003-2007), liderou uma "renovação patriótica" (Argentine Presidency/Handout via Reuters)

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Da Redação

Publicado em 23 de outubro de 2015 às 13h42.

Aguerrida e indomável, Cristina Kirchner deixa o poder após 12 anos de um projeto iniciado por seu falecido marido e que representou uma ruptura na história política da argentina com o ressurgimento da reivindicação social.

Na última década, as políticas sociais foram mais de esquerda e na economia de defesa de um capitalismo de Estado.

Com um discurso soberanista, reivindicou as Ilhas Malvinas - que a Argentina disputa com a Grã-Bretanha -, e lutou com unhas e dentes contra os "abutres", os fundos especulativos dos Estados Unidos.

A presidente está convencida de que, junto ao falecido marido Néstor Kirchner (2003-2007), liderou uma "renovação patriótica", enfrentando poderosos donos de meios de comunicação, juízes e empresários.

Progresso para alguns, decadência para outros, Cristina Kirchner entregará, aos 62 anos, a Casa Rosada no dia 10 de dezembro ao vencedor das eleições de domingo, mas com certeza deixa uma marca indelével.

"Esta transformação não se deterá porque Daniel será presidente", afirmou Kirchner ao lado de Daniel Scioli, o candidato da governista Frente para a Vitória (FpV, peronista e aliados).

Scioli é visto como um político mais à direita da chefe de Estado. MasKirchner, com personalidade implacável, olhou em seus olhos e desafiou, ante seguidores: "Você vai aprofundar esse processo".

Na diplomacia, a presidente defendeu a aproximação do chamado eixo bolivariano, proposto pelo falecido presidente venezuelano Hugo Chávez, cortando assim os laços Buenos Aires com a Europa e dos Estados Unidos nos anos 1990, quando liderava o presidente peronista de direita Carlos Menem.

Amor ou ódio

"Arrogante e mentirosa. A única coisa que eu quero é que ela vá embora. Eu a odeio, simples assim", declarou à AFP a secretária de um consultório médico, Mónica Gurfinkel, 48 anos, acrescentando que "é o pior governo que já viveu".

Na contramão, Juan Bertone, bancário, afirma que "o maior passo que a Argentina já deu foi com Cristina".

"Uma mulher corajosa, que melhorou nossas condições paritárias (ajustes salariais com empresas), defendeu os verdadeiros interesses do país contra os "abutres". Ela deve ser amada", insistiu.

O ódio de Gurfinkel e o amor de Bertone se expressam com a mesma paixão. Quase ninguém em oito anos de governo consegue manter-se isento quando começa uma discussão como essa.

Segundo Gurfinkel, "ela deixa a economia extremamente complicada". E está segura de seu candidato, Maurício Macri, da aliança de direita Cambiemos, será eleito.

Bertone não mostra tanta convicção por Scioli, mas está confiante de que "Cristina deixa as bases para evitar que o país perca seu rumo, que o país siga a trilha dela com direitos sociais e uma economia em favor do trabalhador e da produção nacional".

Ruiva e maquiada

Cristina Kirchner ficou viúva em 2010. Seus dois filhos, Máximo e Florencia, a transformaram em avó.

A advogada exibe uma cabeleira ruiva e está sempre impecável. "Eu me pinto desde os 15 anos. Adoro ser mulher!", afirma. Católica, se fez íntima do Papa Francisco e deixaram para trás as divergências de quando Jorge Bergoglio era arcebispo de Buenos Aires.

Acusações de corrupção mancharam seu vice-presidente Amado Boudou e alcançaram seu filho Máximo e empresários amigos.

Os tribunais acumulam mais de 700 denúncias de corrupção, incluindo quase 300 contra ela. Porém, Kirchner as qualifica de "falácias" e mantém batalhas judiciais contra juízes, apesar de ter buscado uma justiça independente.

O enriquecimento pessoal dos Kirchner em mais de 928% entre 2003 e 2010, segundo sua declaração fiscal, gera indignação e indiferença na mesma medida. "Há tolerância para a corrupção", disse à AFP o consultor Juan Germano de Isomía.

Nada de rosas

Seu estilo combativo é carregado de retórica peronista lastreada pela justiça social. "Honra ao peronismo, com os direitos aos pobres e a reconstrução da indústria", afirma à AFP a sobrinha-neta de Eva Perón, Cristina Álvarez Rodríguez.

"Não deixem que roubem novamente seu futuro", costumam dizer os jovens que a adoram em comícios. Criou a La Cámpora, movimento estudantil dirigido pelo primogênito Máximo.

As ajudas sociais e a defesa dos direitos humanos asseguram a Sciole 30% dos votos kirchneristas. Porém, o que fará Cristina no futuro? Voltará em 2019? Ela deixa a presidência com uma popularidade de mais de 50%, segundo pesquisas.

"Ela não terminará seus dias cortando rosas ou cuidando dos neto", garantiu seu chefe de Gabinete, Aníbal Fernández.

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