Cristina Kirchner, presidente da Argentina (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 10 de dezembro de 2011 às 16h20.
Cristina Kirchner, a presidente argentina que tomou posse neste sábado para um segundo mandato, após a reeleição no primeiro turno, no dia 23 de outubro, é uma advogada de 58 anos, de personalidade complexa: frágil e autoritária, sedutora e frágil, coquete e cerebral, ao mesmo tempo.
"Cristina é muito racional", disse à AFP Alberto Fernandez, chefe de governo dos Kirchner entre 2003 e 2008. Seu marido e predecessor Nestor Kirchner (2003-2007) "era muito mais intuitivo", destacou. Nestor Kirchner gostava de impor suas decisões com base no próprio poder, mas Cristina Kirchner tem necessidade de se justificar. Ela é conhecida por sua facilidade oratória, sendo capaz de falar muito tempo sem ler nenhuma nota.
Esta capacidade, herdada de sua passagem pelo Senado, dá a ela, também, um ar "professoral" que irritava os argentinos, no começo. Sempre de sapatos de salto alto, com as unhas longas e pintadas e os cabelos castanhos longos sobre os ombros, ela sofre às vezes de crises de pressão que a obrigam a suspender suas atividades, mesmo os deslocamentos ao exterior.
Solitária, mantém seus colaboradores a distância. "Cristina não deixa nenhuma margem para uma aproximação maior de seus funcionários", explica um servidor da Casa Rosada, a sede da presidência.
É reprovada pelo gosto pelas grifes de luxo: Louis Vuitton, Hermès... Na televisão, um cômico imitador terminou sua fala com um jogo de palavras : "Até a Victoria... Secret !"
"Ela sempre foi muito coquete", comenta Alberto Fernandez, contando: "Nestor tinha que esperar uma hora, o tempo para ela se arrumar, antes de jantar". A obsessão pela aparência é um traço típico da classe média, à qual ela pertence, na Argentina.
Esta filha de La Plata, cidade universitária da província de Buenos Aires, conheceu Nestor Kirchner quando tinha 20 anos - ele era três anos mais velho, casando-se com ele seis meses depois.
Militaram na Juventude Peronistas e se refugiaram na cada dele, na Patagônia, durante a ditadura (1976-1983). Tiveram dois filhos, Maximo, 34 anos, e Florencia, de 21. "Ela não ouve ninguém, só a ela mesma", comenta Hermes Binner, seu principal adversário, da Frente Ampla Progressista (socialista).
Foi a grande crise com os agricultores, em 2008, que revelou esse traço de seu caráter. Recusa a negociação, pelo que perde pontos em termos de popularidade. Seu vice-presidente, Julio Cobos, votou contra ela no Senado e foi considerado inimigo. O enriquecimento pessoal dos Kirchner (+928% entre 2003 e 2010, segundo a declaração de renda) causa mais e mais furor.
A morte de seu marido, vitimado por uma crise cardíaca a seu lado, há um ano, no dia 27 de outubro, permitiu a ela criar uma outra imagem: a de mulher mais sensível que autoritária e menos frívola.
Um ano depois, Cristina Kirchner ainda usa luto fechado, mas isso trasnformou-se em arma política formidável.
"De noite, é a mulher que chora seu marido. De dia, é a presidente", resume Estela de Carlotto, líder do movimento das Avós da Praça de Maio.
Quando ela fala "dele" na televisão, a voz fica embargada, o que vai direto ao coração dos argentinos.
"Como todos imaginam hoje não é um dia fácil para esta presidente, apesar da alegria e da contundência do voto popular, falta algo, falta alguém", disse ao iniciar seu discurso de posse na Assembleia Legislativa, em alusão ao marido.
"Ele", como costuma dizer, é menção permanente em seus discursos, com os quais renovou o mandato com outro período de quatro anos. Foi reeleita com 54,11% dos votos no dia 23 de outubro.