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ONU: Crises e pandemia empurraram mais 122 milhões de pessoas para fome no mundo

Segundo relatório da ONU, resultado coloca em xeque o objetivo de acabar com a fome até 2030

ONU: A fome foi intensificada na Ásia Ocidental, no Caribe e em todas as sub-regiões da África em 2022 (Leandro Fonseca/Exame)

ONU: A fome foi intensificada na Ásia Ocidental, no Caribe e em todas as sub-regiões da África em 2022 (Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 12 de julho de 2023 às 11h01.

Última atualização em 12 de julho de 2023 às 15h01.

Mais 122 milhões de pessoas estão passando fome no mundo desde 2019. Pandemia e diferentes conflitos, incluindo a guerra na Ucrânia, foram os fatores que mais contribuíram para esse número, de acordo com o relatório “O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo (SOFI)”, publicado nesta quarta-feira, 12, por cinco agências especializadas das Nações Unidas.

Com esse resultado, as agências internacionais temem que o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável de acabar com a fome até 2030 não seja alcançado.

“Sem dúvida, atingir a meta do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável de Fome Zero até 2030 representa um desafio assustador. De fato, projeta-se que quase 600 milhões de pessoas ainda passarão fome em 2030”, afirmam os chefes das 5 agências da ONU (FAO, FIDA, UNICEF, WFP, OMS).

Quais dados o relatório traz sobre a insegurança alimentar global?

Em 2022, a situação da segurança alimentar e da nutrição permaneceu desafiadora. O relatório constata que aproximadamente 29,6% da população global, equivalente a 2,4 bilhões de pessoas, não tinha acesso constante a alimentos, medido pela prevalência de insegurança alimentar moderada ou grave. Entre eles, cerca de 900 milhões de indivíduos enfrentavam insegurança alimentar grave.

Outro dado mostra que milhões de crianças menores de cinco anos continuam sofrendo de má nutrição em 2022:

- 148 milhões de crianças menores de cinco anos (22,3%) tinham baixa estatura;

- 45 milhões (6,8%) sofriam de emaciação;

- 37 milhões (5,6%) tinham excesso de peso.

Há mais pessoas passando fome hoje do que antes da pandemia?

A fome global, medida pela prevalência da desnutrição, permaneceu relativamente inalterada de 2021 a 2022, mas ainda está muito acima dos níveis pré-pandêmicos da COVID-19, afetando cerca de 9,2% da população mundial em 2022 em comparação com 7,9% em 2019.

Quais regiões foram as mais afetadas?

Apesar dos números globais de fome terem reduzido na Ásia e na América Latina, a fome foi intensificada na Ásia Ocidental, no Caribe e em todas as sub-regiões da África em 2022.

A África, inclusive, continua sendo a região mais afetada, com uma a cada cinco pessoas passando fome no continente, mais que o dobro da média global.

“Há raios de esperança, porque algumas regiões estão a caminho de atingir algumas metas nutricionais até 2030. Mas, no geral, precisamos de um esforço global intenso e imediato para resgatar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, por meio de uma mensagem de vídeo durante o lançamento do relatório na sede da ONU em Nova York.

Como a urbanização afeta o combate à fome?

Quase 7 em cada 10 pessoas são projetadas para viver nas cidades até 2050. Diante desse número, o relatório reforça que os governos e outros atores que trabalham para combater a fome devem procurar entender essas tendências de urbanização e considerá-las em sua formulação de políticas, até porque as desigualdades espaciais permanecem.

Segundo a pesquisa, a insegurança alimentar moderada ou grave afetou 33% dos adultos que vivem em áreas rurais e 26% em áreas urbanas.

Outro dado mostra que a prevalência de déficit de crescimento infantil é maior nas áreas rurais (35,8%) do que nas urbanas (22,4%), enquanto o excesso de peso é ligeiramente mais prevalente nas áreas urbanas (5,4%) em comparação com as áreas rurais (3,5%).

“Um mundo sem fome é possível. O que nos falta são investimentos e vontade política para implementar soluções em escala. Podemos erradicar a fome se fizermos dela uma prioridade global. Investimentos em pequenos agricultores e em sua adaptação às mudanças climáticas, acesso a insumos e tecnologias e acesso a financiamento para montar pequenos agronegócios podem fazer a diferença”, disse Alvaro Lario, Presidente do FIDA.

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