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Crise nuclear de Fukushima ameaça futuro energético do Japão

Queda no fluxo de energia pode ter graves implicações no setor manufatureiro, que está reduzindo sua produção

Fábrica da Nippon Steel: Japão perdeu cerca de 26 mil megawatts com desastres (Jiji Press/AFP)

Fábrica da Nippon Steel: Japão perdeu cerca de 26 mil megawatts com desastres (Jiji Press/AFP)

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Da Redação

Publicado em 28 de março de 2011 às 11h04.

Tóquio - O Japão tem pela frente um futuro energético incerto após o terremoto do último dia 11, que paralisou quatro usinas nucleares e provocou blecautes na região de Tóquio, colocando em risco o crescimento econômico do país.

O impacto do terremoto sobre o fluxo de energia que sustenta o estilo de vida consumista dos japoneses e sua potente indústria poderia ter graves implicações no setor manufatureiro, que sofre uma brusca detenção na produção e pode se ver forçado a reduzir significativamente sua atividade.

O forte terremoto de magnitude 9 na escala Richter de 17 dias atrás, além de tirar a vida de pelo menos 10.872 pessoas - cujas mortes já foram confirmadas -, revelou a vulnerável dependência da terceira maior economia mundial à energia nuclear e aos combustíveis fósseis procedentes do exterior.

Quando a terra tremeu há mais de duas semanas, quatro das usinas nucleares mais importantes do Japão - a maioria delas gerava energia para Tóquio - automaticamente suspenderam suas operações, e uma delas, a de Fukushima Daiichi, tem os dias contados após a crise que provocou instabilidade nos reatores.

Cerca de um terço da energia do Japão provém da fissão nuclear, e a detenção brusca nas centrais Fukushima Daiichi, Fukushima Daini, Tokai e Onagawa fez com que o norte do Japão e a região metropolitana de Tóquio tenham perdido cerca de 26 mil megawatts de eletricidade.

Desde o fatídico dia 11, a área metropolitana de Tóquio sofreu blecautes cíclicos que afetaram o horário de fechamento das empresas e estabelecimentos comerciais, dos serviços e do funcionamento das grandes fábricas manufatureiras da região.

O ministro da Economia do Japão, Kaoru Yosano, disse na semana passada que "o problema da energia é uma fonte de incerteza" e "provavelmente os cortes de luz terão um sério impacto" na economia do país.

O Governo considera que a crise atômica de Fukushima, que ainda não tem um fim previsto, somada à queda da capacidade de geração de energia da Tokyo Electric Power (Tepco) - maior empresa energética do país -, obrigarão as autoridades a ampliarem os blecautes.


A Tepco estima que não poderá satisfazer os picos de demanda a partir de julho e o Governo prevê novas medidas em sua recém-adotada política de austeridade econômica, que podem implicar o corte de horas na rotina de trabalho ou transferir algumas operações a outras zonas do país.

A empresa elétrica, alvo das críticas por sua gestão de Fukushima, pretende aumentar sua capacidade de geração em 20%, para 46,5 milhões de quilowatts até o fim de julho, abaixo dos 55 milhões da demanda esperada.

A Tepco se verá obrigada a reativar e aumentar as operações em usinas termelétricas que utilizam combustíveis fósseis, como o gás, enquanto prevê cortar os períodos de manutenção em que as instalações estão operacionais.

Essa mudança representará um revés para a ambiciosa política de corte de emissões do Governo e aumentará sua fatura de importações de hidrocarbonetos, combustíveis dos quais depende quase em sua totalidade de fontes externas.

O setor manufatureiro é um dos que mais sofre o impacto dos blecautes.

Grandes empresas do Japão poderiam transferir parte de sua produção a zonas do país mais estáveis ou para o exterior, como o caso da Nissan, que tem uma fábrica muito perto da central de Fukushima e cogita importar produtos de uma de suas fábricas nos Estados Unidos.

O presidente da Panasonic, Fumio Otsubo, reconheceu em entrevista publicada nesta segunda-feira pelo jornal "Nikkei" que o mais provável é que os impactos do terremoto acelerem os planos das grandes multinacionais de transferir sua produção ao exterior.

No entanto, Otsubo destacou que há algumas fases do processo de produção que permanecerão no Japão, na vanguarda tecnológica mundial, mostrando-se como um exemplo de recuperação de desastres.

"Os japoneses não verão com bons olhos a saída das grandes empresas japonesas do país. Devemos mostrar integridade e dignidade", ressaltou.

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