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Crise no mundo islâmico soma argumentos para entrada da Turquia na UE

País de 75 milhões de habitantes em uma região entre Europa e Ásia, seria o segundo mais povoado da União após Alemanha, onde já vivem vários milhões de turcos

Independentemente da postura europeia, Turquia prossegue seu ritmo de reformas e estará pronta para entrar em 2014 (Friedemann Vogel/Getty Images)

Independentemente da postura europeia, Turquia prossegue seu ritmo de reformas e estará pronta para entrar em 2014 (Friedemann Vogel/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 10 de março de 2011 às 19h30.

Madri - As revoltas no norte da África e no Oriente Médio levantaram mais argumentos para a Turquia ser um membro importante dentro da União Europeia (UE), onde as negociações para sua entrada estão cinco anos estagnadas.

"Turquia é muito influente em muitos países onde a UE não é e os fatos do norte da África fazem seu ingresso (na UE) inclusive mais importante", declarou o ministro de Assuntos Europeus turco, Egemen Bagis, em um encontro com jornalistas espanhóis na semana passada em Istambul.

Turquia, governada desde 2002 por islamitas moderados, ofereceu sua ajuda para guiar a transição política na Tunísia e Egito, países aliados do Ocidente cujos regimes foram derrubados nas últimas semanas pelos protestos populares.

Apesar da capital turca Ancara preferir não falar de um "modelo turco" de democracia, opina que pode ser "fonte de inspiração" para estes países islâmicos que compartilham os mesmos valores.

Bagis vai além e assinala que a Turquia também pode ser um exemplo de moderação para milhões de jovens muçulmanos nascidos em países da UE e evitar seu radicalismo.

"O que é melhor, que escutem a mensagem de Osama bin Laden ou o do (primeiro-ministro turco Recep Tayyip) Erdogan?" questiona o negociador-chefe turco com a UE, que lembra que em 2025 10% da população da União será de religião muçulmana.

Turquia pode "evitar que a juventude muçulmana na Europa se exalte", sentenciou.

Destes argumentos se desprende a grande frustração de Ancara com a União Europeia, um bloco no qual solicitou entrar pela primeira vez há 45 anos, e com o qual as negociações de adesão, abertas em 2005, levam mais de 5 anos bloqueadas.

Uma frustração que se faz patente em uma recente enquete segundo a qual 64% da população apoia a entrada na UE, mas 67% não acredita que se materialize.

Do total, 18 dos 35 capítulos que devem ser negociados sobre a base do acervo comunitário estão congelados politicamente por algum membro da União, muitos deles pelo conflito do Chipre.

Os gregos do Chipre, uma ilha cuja parte norte está ocupada desde 1974 por tropas turcas, rejeitaram em um plebiscito em abril de 2004 um plano da Organização das Nações Unidas (ONU) para a reunificação, que foi majoritariamente aprovada pela população da não reconhecida República Turca do Norte do Chipre.


Os responsáveis turcos não deixam de lembrar deste fato, que deixou o norte turco fora da UE quando Chipre se incorporou à União.

"Muitos países se escondem atrás de Chipre", diz Bagis em referência à oposição da França, Alemanha, Áustria, Dinamarca e Holanda ao ingresso turco na UE, e se lamenta que "Europa perdeu credibilidade na Turquia".

França e Alemanha defendem uma "relação privilegiada" com a Turquia em vez de uma adesão plena, um "plano B" que Ancara rejeita por já ter esse tipo de relação.

Esta inclui uma união comercial que permite a livre troca de bens com a UE, embora paradoxalmente os turcos necessitem de um visto para viajar à Europa.

Turquia, um país de 75 milhões de habitantes em uma região entre Europa e Ásia, seria o segundo país mais povoado da União após Alemanha, onde já vivem vários milhões de turcos.

A candidatura turca não se vê favorecida por algumas posturas do primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, que na semana passada disse em Berlim que os turcos da Alemanha não devem perder sua identidade e devem falar turco antes da língua alemã.

Também não são bem-vistas na Europa as detenções de jornalistas turcos, 68 dos quais se encontram presos - muitos acusados de laços com o grupo rebelde curdo PKK e com tramas golpistas - e a proibição de mais de 9 mil páginas na internet - supostamente por conteúdo pornográfico ou pedófilo.

Outros elementos preocupantes são a recente aproximação da Turquia com o Irã e as relações tensas com Israel desde o ataque israelense em águas internacionais quando tentava levar ajuda à bloqueada Gaza e no qual morreram nove turcos.

O principal partido turco de oposição, o Partido Republicano do Povo (CHP), acusou Erdogan e seu Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) de ter uma "agenda secreta islâmica" para o país, onde tradicionalmente o Exército foi o fiador da Constituição laica.

"A Turquia de hoje é muito mais democrática, próspera e transparente que quando começamos as negociações de adesão à UE", assinalou Bagis.

Independentemente da postura europeia, Turquia prossegue seu ritmo de reformas e estará pronta para entrar na UE no dia 1º de janeiro de 2014, afirma o ministro.

O AKP, que transformou o país na sexta economia da Europa e na décima sexta do mundo nos últimos nove anos - o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) foi de 8% no ano passado -, desponta como o favorito nas eleições gerais do dia 12 de junho.

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