O governo venezuelano costuma dizer que a falta de água é resultado da sabotagem de "terroristas da direita". (Marco Bello/Reuters)
Reuters
Publicado em 15 de agosto de 2018 às 13h53.
Caracas - Em um dos maiores hospitais públicos de Caracas, a maioria do banheiros está fechada. Pacientes enchem garrafas em uma torneira minúscula no térreo que às vezes só tem um fio de água. Operações são adiadas ou canceladas.
O hospital da Universidade Central da Venezuela, que chegou a ser um líder latino-americano, sofre com a falta de água nas torneiras.
"Fui ao bloco de operação e abri a torneira para lavar as mãos, como é preciso fazer antes de uma cirurgia, e não saiu nada", disse a ginecologista Lina Figueria.
Os cortes de água são o acréscimo mais recente a uma longa lista de aflições dos venezuelanos, que atravessam o quinto ano de uma crise econômica que desencadeou desnutrição, hiperinflação e emigração.
Os problemas da rede de abastecimento de água devidos à falta de manutenção se agravaram nos últimos meses, privando de água encanada constante muitos dos 3 milhões de habitantes da cidade.
Caracas se localiza em um vale verdejante cerca de 900 metros acima do nível do mar, e sua água é bombeada de fontes muito mais baixas --mas as bombas não estão sendo cuidadas, peças de reposição são raras e o governo do presidente Nicolás Maduro está com pouco dinheiro em caixa.
"Durante muitos anos esse processo de deterioração não foi perceptível. Mas agora os sistemas de transporte de água estão muito danificados", disse José De Viana, ex-presidente da Hidrocapital, prestadora de serviços estatal a cargo do abastecimento de água de Caracas.
O governo socialista da Venezuela costuma dizer que a falta de água é resultado da sabotagem de "terroristas da direita".
Em julho o ministro da Informação, Jorge Rodríguez, anunciou um "plano especial" para resolver os problemas, mas não deu detalhes. O Ministério da Informação e a Hidrocapital não responderam a um pedido para informações.
A falta de água e torneiras que às vezes liberam um líquido marrom têm provocado preocupações em relação à saúde em um país carente de vacinas e antibióticos básicos.
Cerca de 75 por cento dos moradores de Caracas não recebem água regularmente, segundo uma pesquisa publicada por duas organizações não-governamentais venezuelanas neste mês.
Cerca de 11 por cento disseram acreditar que a água suja lhes causou problemas estomacais e de pele. A pesquisa não tem cifras comparativas.