Jens Stoltenberg, secretário-geral da Otan: tensões crescentes no leste europeu (Win McNamee/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 7 de janeiro de 2022 às 06h00.
Última atualização em 7 de janeiro de 2022 às 13h16.
Já há algumas semanas, as tensões entre Rússia e Ucrânia se tornaram a principal pauta na agenda externa das potências do Ocidente. E apesar de negociações recentes, o cenário pouco avançou. Até agora: o tema volta a ser discutido nesta sexta-feira, 7, em uma reunião extraordinária da Otan, aliança militar ocidental, que acontece antes de uma série de outros encontros previstos para a semana que vem.
A reunião (que será virtual) foi marcada dias antes, em meio à escalada das tensões desde o fim do ano passado. O encontro contará com a presença dos ministros das Relações Exteriores dos membros e da própria Ucrânia.
A base do confronto vem de disputas territoriais na região do leste europeu, incluindo outros países vizinhos, como a Geórgia. Na prática, as relações pioraram desde a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014, então parte do território ucraniano.
Criou-se uma tensão constante de que mais anexações poderiam ser feitas. Na outra ponta, a Rússia exige que a Otan deixe de se aproximar da Ucrânia, que por sua vez, visa há anos ingressar na organização e na própria União Europeia.
A aproximação dos países do leste europeu - antiga rota de influência da União Soviética - com a Europa Ocidental e a Otan é motivo principal da desavença com a Rússia há mais de uma década.
O governo do presidente Vladimir Putin nega que esteja planejando uma invasão à Ucrânia, e acusa a Otan de estar interferindo em seu território. Dos dois lados, demonstrações militares viraram comuns nas regiões de fronteiras.
O encontro de hoje entre os membros da Otan é uma preparação para uma agenda mais ampla. Estão marcadas reuniões no dia 10 e no dia 12, esta última com a presença de diplomatas russos, em mais uma tentativa de negociação entre as partes. Uma reunião entre o vice-chanceler de Rússia e EUA também está prevista em Genebra, na Suíça.
A disputa no leste europeu também foi um dos temas discutidos em conversas recentes entre o presidente americano, Joe Biden, e russo, Vladimir Putin, e deve seguir prioritário na pauta externa dos dois países. Apesar de Biden e Putin terem tido até mesmo um encontro presencial no ano passado, as relações seguem complexas, e o mandatário americano tem feito discursos frequentes em defesa da independência ucraniana.
Enquanto isso, à União Europeia a discussão também é crucial, uma vez que o bloco depende amplamente das exportações de gás da Rússia, além de ser mais impactado geograficamente com as tensões no leste europeu, com fluxo de imigrantes e riscos militares.
Desta vez, os líderes europeus, que por vezes foram mais cautelosos do que os EUA contra a Rússia, parecem estar subindo o tom. O principal diplomata da UE, Josep Borrell, foi à Ucrânia nesta semana para uma viagem de dois dias, de modo a demonstrar apoio ao país. "A UE não pode ser um espectador neutro nas negociações se a Rússia de fato quiser discutir a arquitetura da segurança da Europa", disse, conforme reportou a agência Reuters.
Outra mudança é a eleição de um novo governo na Alemanha, com partidos mais à esquerda (a ministra das Relações Exteriores é Annalena Baerbock, do Partido Verde). Ao menos na campanha, os partidos prometeram uma posição mais dura contra governos como de Hungria, Polônia, Rússia e China. A prática é outra história.
Assim, o objetivo da reunião desta sexta-feira na Otan será uma discussão entre os aliados sobre como proceder a partir de agora. Em nota, a Otan disse oficialmente que os membros irão "discutir o avanço militar da Rússia na Ucrânia e em seu entorno, além de questões mais amplas de segurança europeia". Ao fim do encontro, o secretário-geral, Jens Stoltenberg, fará comunicado à imprensa.
Se não bastassem os problemas entre Rússia e Ucrânia, a reunião acontece ainda em meio a protestos no Cazaquistão, outra ex-república soviética e aliado da Rússia. As manifestações começaram pelo preço do gás e já deixam mais de 1.000 feridos em confrontos com a polícia, e a Rússia enviará tropas para, segundo o governo, ajudar na estabilização da região - caso as tensões escalem, a repressão aos protestos também pode virar alvo de questionamentos por parte de líderes europeus.
A agenda nos próximos dias é extensa, mas a missão de equilibrar o jogo de forças no leste europeu segue tão difícil como sempre.