Sanae Takaichi, premiê do Japão, que assumiu o cargo em outubro
Repórter
Publicado em 18 de novembro de 2025 às 14h15.
Última atualização em 18 de novembro de 2025 às 14h17.
Apesar de ser normalmente calma, a relação diplomática entre o Japão e a China entrou em uma crise nos últimos dias. Autoridades dos dois países fizeram pronunciamentos que geraram incômodo, e a situação evoluiu para recomendações de restrições de viagens, consultas diplomáticas e adiamento de filmes.
A China advertiu os seus cidadãos a evitar viagens ao Japão, o que prejudica muitos estabelecimentos e companhias que dependem do forte turismo chinês no país.
"Recentemente, os líderes japoneses fizeram declarações abertamente provocadoras sobre Taiwan, o que prejudicou gravemente o ambiente para os intercâmbios entre os povos", disse a embaixada chinesa, em uma rede social. A situação representa "riscos significativos para a segurança pessoal e a vida dos cidadãos chineses no Japão", acrescentou.
Do outro lado, o governo japonês enviou um alerta nessa semana aos seus cidadãos na China, para que tomem cuidado com sua segurança e evitem multidões.
Em meio à disputa, o índice de ações japonês Nikkei 225, índice que mede 225 das principais empresas de capital aberto no Japão, caiu mais de 3% nesta terça-feira.
Além disso, as estreias dos filmes japoneses "Crayon Shin-chan the Movie: Super Hot! The Spicy Kasukabe Dancers" e "Cells at Work!" foram adiadas na China devido às tensões bilaterais, informou a imprensa estatal.
As tensões originalmente se deram a comentários da premiê japonesa Sanae Takaichi, uma conservadora e a primeira mulher a ocupar o cargo, sobre possíveis escalações militares em Taiwan, uma ilha autogovernada que Pequim considera como uma província chinesa.
Especificamente, ao responder uma pergunta sobre as forças de autodefesa (JSDF, na sigla em inglês), exemplificou que em caso de uma invasão chinesa à ilha, o Japão poderia intervir militarmente argumentando que tal cenário “ameaçaria a sobrevivência do Japão”. Esse é um termo legal introduzido em 2015 que permite que o país mobilize suas forças, já que a constituição japonesa proíbe forças armadas no sentido clássico.
Depois disso, adicionou que até mesmo um ataque chinês a navios americanos patrulhando a região constituiria um motivo legal para enviar suas tropas, já que o Japão teria que defender não só a si mesmo como a um de seus mais importantes aliados, segundo apuração da Reuters.
Até então, premiês japoneses não traziam à tona o assunto de Taiwan em discussões parlamentares, especialmente quando debatiam cenários de possível ação militar. De maneira semelhante à posição americana, o Japão historicamente se manteve ambíguo em relação a ilha, devido em grande parte a um comunicado conjunto com a China de 1972 onde o país reconheceu que Taiwan é uma parte inalienável da China.
As observações originais de Takaichi, que ocorreram no começo da semana passada, se deram menos de um mês após ela chegar ao poder e poucas semanas depois de ter postado uma foto com um representante de Taiwan numa cúpula na Coréia do Sul, o que chamou a atenção de Pequim.
A premiê também ficou famosa por tentar formar fortes laços com os EUA de Trump, e se cometeu a investimentos intensos no setor de defesa nacional. Além disso, também é crítica do Artigo 9º da Constituição japonesa, que proíbe um exército no sentido clássico e limita o Japão às JSDF.
Por mais que tenha esclarecido na segunda-feira passada, 10, que os comentários eram meramente hipotéticos e que não faria mais observações semelhantes no parlamento, o estrago já havia sido causado, e as represálias chinesas não seriam impedidas pelo seu esclarecimento.
Em resposta a esses comentários, o cônsul-geral da China em Osaka, Xue Jian, ameaçou em uma publicação nas redes sociais, que apagou depois, "cortar aquela garganta imunda sem hesitar nenhum segundo", segundo apuração da AFP.
Por mais que não tenha mencionado explicitamente Takaichi, a postagem foi acompanhada da imagem de uma notícia com as falas da premiê japonesa.
O incidente causou forte reação do governo japonês, que considerou que os comentários foram “extremamente inapropriados”. A postagem foi deletada pouco tempo depois – mesmo assim, Pequim defendeu o que considerou uma “postagem pessoal”, e ambos os países convocaram representantes para debates; a China também submeteu uma reclamação formal.
O vice-ministro das Relações Exteriores chinês, Sun Weidong, convocou o embaixador japonês, Kenji Kanasugi. Segundo um comunicado do ministério chinês na última sexta-feira, dia 14, Sun apresentou uma queixa formal ao embaixador japonês "pelas declarações equivocadas da primeira-ministra japonesa".
"Se alguém se atrever a interferir de qualquer forma na causa da unificação da China, este país sem dúvida responderá com firmeza", acrescenta o comunicado.
O Japão também convocou seu embaixador na China para consultas.
A guerra de palavras rapidamente escalou para medidas que podem ter sérios impactos financeiros – a China, por exemplo, advertiu os seus cidadãos para que evitassem viagens ao Japão, o que prejudica muitos estabelecimentos e companhias que dependem do forte turismo chinês ao país.
Em uma publicação na plataforma de comunicação chinesa WeChat, a embaixada da China no Japão advertiu a seus cidadãos sobre as viagens ao arquipélago asiático.
"Recentemente, os líderes japoneses fizeram declarações abertamente provocadoras sobre Taiwan, o que prejudicou gravemente o ambiente para os intercâmbios entre os povos", assegurou a missão diplomática na plataforma de mensagens.
A situação representa "riscos significativos para a segurança pessoal e a vida dos cidadãos chineses no Japão", acrescentou.
"O Ministério das Relações Exteriores e a embaixada e os consulados chineses no Japão alertam solenemente os cidadãos chineses para que evitem viajar ao Japão em um futuro próximo."
Numa nota semelhante, o governo japonês enviou um alerta nessa semana aos seus nacionais na China. O Japão alertou seus cidadãos no país vizinho para que tomem cuidado com sua segurança e evitem multidões.
"Prestem atenção ao seu entorno e evitem, na medida do possível, praças onde se reúnem grandes multidões ou locais que possam ser frequentados por muitos japoneses", afirmou a embaixada do Japão na China em um comunicado publicado em seu site nessa segunda-feira, dia 17.
Minoru Kihara, porta-voz do governo japonês, acrescentou nesta terça-feira, 18, que a recomendação foi emitida "com base em uma avaliação exaustiva da situação política, incluindo a situação de segurança no país ou região em questão, assim como as condições sociais".
Com informações da AFP