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Da Redação
Publicado em 7 de março de 2011 às 15h22.
O mercado ainda avalia o estrago causado pela moratória do Dubai World, o conglomerado de empresas de Dubai responsável por investir no desenvolvimento de vários setores da região, como o de turismo, com recursos de investidores estrangeiros. Até o momento, os mais atingidos são os bancos europeus. Calcula-se que as instituições tenham 40 bilhões de dólares investidos nos Emirados Árabes. Somente o britânico HSBC teria 15,9 bilhões aplicados no país.
Os bancos afetados tendem a retrair a oferta de crédito, para compensar as perdas. Além disso, a crise de confiança gerada pelo episódio pode levar outras instituições a frear os empréstimos interbancários, enquanto procuram descobrir quais foram atingidas pelo problema. Mas uma eventual crise de liquidez deve afetar pouco o Brasil neste momento, segundo o economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central. “A crise de Dubai não está me tirando o sono”, afirmou em entrevista ao Portal EXAME. Veja, a seguir, os principais trechos da conversa:
Gustavo Loyola - Aparentemente, o Brasil não vai ser afetado de um modo muito forte. A questão é que ainda não se sabe qual é a extensão dos problemas decorrentes da moratória. Apesar disso, acho que o Brasil não vai ser muito afetado. Trata-se de uma questão muito específica dos investidores que apostaram em Dubai. E Dubai é um país distante do Brasil, tanto em termos geográficos quanto econômicos.
EXAME.com - O aumento da aversão ao risco, que sempre ocorre nesses casos, vai nos atingir?
Loyola - Há gente dizendo que esse caso vai retirar recursos dos países emergentes. Mas eu não acho que isso ocorrerá de modo indiscriminado. Esse não deve ser o caso dos investimentos que vêm para o Brasil.
EXAME.com- De qualquer modo, não pode haver um efeito indireto? Os bancos com exposição a Dubai não podem restringir a oferta de crédito, ou quem emprestou dinheiro para eles não pode conter empréstimos agora, gerando uma nova crise de liquidez?
Loyola - Os bancos que estão expostos a Dubai têm pouco a ver conosco. A exposição direta é pequena, nesse caso. A exposição indireta também. Agora, é preciso lembrar o que aconteceu com o subprime americano. Lá, havia muitas operações que não estavam nos livros dos bancos, porque estavam em outros veículos de investimento. Ninguém sabia, ao certo, quais seriam os desdobramentos. É preciso saber se isso também está acontecendo em Dubai.
EXAME.com - O senhor acredita que a moratória pode gerar uma forte correção das bolsas, como disse o megainvestidor americano Mark Mobius?
Loyola - No caso do Brasil, eu não acredito. Se passarmos por alguma correção, será menos acentuada. Acho que não vivemos uma bolha de ativos por aqui. A valorização dos ativos, no Brasil, ainda tem fundamentos. Mas é verdade que, no plano mundial, o ambiente está propenso a formação de bolhas.
EXAME.com - Os investidores brasileiros não precisam perder o sono, então?
Loyola - A crise de Dubai não está me tirando o sono. É claro que é um default importante. Não é um episódio no qual podemos ficar totalmente despreocupados.
EXAME.com - E o que isso tudo pode ensinar ao Brasil?
Loyola - Tudo isso é um exemplo de como o excesso de risco, a auto-ilusão de valorização e a aposta em investimentos que não tinham retorno garantido podem gerar uma bolha. A crise de Dubai pode ser vista como a crise do subprime do Oriente Médio, porque contém os mesmos elementos que levaram à bolha americana. De certa forma, esta é outra manifestação da bolha do subprime.