Refugiados na fronteira da Áustria: "Não há soluções nacionais, é preciso uma ação liderada pela UE. É um problema que necessita de soluções globais" (Reuters / Srdjan Zivulovic)
Da Redação
Publicado em 5 de novembro de 2015 às 08h16.
A atual crise migratória na Europa deve ser encarada como um problema global e não como um problema apenas da União Europeia (UE), defendeu o embaixador da UE na Organização das Nações Unidas (ONU), João Vale de Almeida.
"Não há soluções nacionais, é preciso uma ação liderada pela UE. É um problema que necessita de soluções globais. Os problemas que esta crise dos refugiados levanta são muito sérios. Se não forem respondidos com grande determinação podem se tornar ainda mais graves", alertou em entrevista à Lusa o diplomata português que, na terça-feira, apresentou credenciais como chefe da delegação da UE nas Nações Unidas.
Para Vale de Almeida, "os europeus têm que encontrar soluções no âmbito da UE para acolher decentemente pessoas e têm que encontrar soluções para garantir a segurança das suas fronteiras. São temas complexos e difíceis".
O problema migratório de famílias que fogem de conflitos no Oriente Médio é o tema mais sensível e mais importante que o embaixador da UE afirma enfrentar desde que começou a trabalhar em Nova York, em 16 de outubro.
Números
Até ao momento, a União Europeia recebeu 281,4 mil solicitações de asilo de cidadãos sírios. Em 26 de outubro, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, anunciou a criação de estruturas para acolher 100 mil refugiados ao longo da rota dos Balcãs e o financiamento de 62 milhões de euros para ajudar refugiados sírios.
João Vale de Almeida disse à Lusa que, além dessas medidas, será preciso mobilizar mais esforços dos países da região e da comunidade internacional.
"Tanto a Comissão Europeia quanto o Parlamento Europeu e o Conselho Europeu têm insistido muito claramente na necessidade de soluções europeias para esse problema. Temos uma combinação de uma logística complicada com um problema político difícil de gerir. É uma situação complexa e as soluções não são fáceis", adiantou o diplomata português.
Países-Membros da UE ainda insistem em dar respostas nacionais e isoladas como a construção de uma barreira na fronteira da Áustria com a Eslovênia para deter o fluxo de migrantes, a primeira dentro do espaço Schengen.
"Acredito que a Europa vai encontrar suas soluções. Não estou imaginando que a UE possa se desintegrar na sequência dessa crise", afirmou Vale de Almeida ao comentar o debate político interno na UE que a crise dos migrantes provoca.
O novo embaixador da UE nas Nações Unidas defendeu ainda que os líderes europeus devem responder à ansiedade da opinião pública, mas têm de ter em conta os direitos naturais dos cidadãos que procuram a UE como uma solução para suas vidas.
Turquia
Segundo o embaixador, a Turquia é um "parceiro indispensável" da UE para ajudar a conter a crise migratória das pessoas que fogem do conflito na Síria.
"Estamos esperançosos que haja entendimento com a Turquia que reforce a nossa cooperação e a capacidade de nos ajudar a resolver esta situação", disse à Lusa o diplomata português.
Uma década após a abertura das negociações de adesão da Turquia à UE, o processo mantém-se num impasse. Perguntado se a UE estaria disposta a flexibilizar as exigências de adesão da Turquia para tentar alcançar um acordo de maior cooperação em relação aos refugiados, Vale de Almeida afirmou que o país é um "parceiro incontornável" da União Europeia.
"A Turquia é um parceiro muito importante, é o nosso vizinho numa zona particularmente sensível quer por razões geoestratégicas, de segurança e energéticas", adiantou.
Vale de Almeida destacou que o Conselho Europeu tem feito uma série de propostas à Turquia no sentido de reforçar a cooperação no combate ao terrorismo, na gestão do fluxo de refugiados e na procura de soluções políticas para a Síria. A Turquia acolhe cerca de 2,5 milhões de refugiados do conflito.
A UE disponibilizou um pacote de ajuda à Turquia avaliado em 3 bilhões de euros, além de favorecer a reativação das negociações de adesão.
"Tudo isso faz parte de um conjunto de propostas que fizemos à Turquia no sentido de avançar, até com uma dimensão financeira de apoio, na gestão dos refugiados. E também com alguns sinais no sentido de facilitar o processo de negociação para adesão eventual e futura à UE", disse Vale de Almeida.
Para o diplomata português, é preciso, no entanto, que haja uma "vontade convergente" dos dois lados para avançar. "É isso o que esperamos das novas autoridades e do novo governo depois das eleições do domingo passado", ressaltou.
O partido do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, venceu as eleições com maioria absoluta.