Problemas com a dívida pública são "tremores menores", depois do terremoto principal (Wikimedia Commons/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 16 de novembro de 2010 às 17h13.
São Paulo - A preocupação da Zona do Euro em solucionar a crise da dívida irlandesa é legitima. Entretanto, o problema ainda não é visto como o anúncio de uma catástrofe. Para o economista Alcides Leite, professor da Trevisan Escola de Negócios, a instabilidade é parte de um processo natural de acomodação.
"Acontece de forma semelhante a um terremoto. O tremor mais forte já aconteceu em 2008, com a crise mundial. Agora estão surgindo pequenas réplicas, que devem se resolver sem consequências desastrosas", afirma.
Segundo o economista-chefe da corretora SLW, Pedro Galdi, o caráter momentâneo destes impactos se deve à prontidão dos países da União Europeia (EU) em ajudar as economias em risco, como é o caso da Irlanda e de Portugal.
À época da deflagração da crise grega, no começo do ano, a EU anunciou a criação de um fundo emergencial de 750 bilhões de euros para auxiliar o país. "Se esse fundo não tivesse sido criado, haveria uma nova crise. Os países não conseguiriam sustentar uma situação de dívida pública elevada", diz Galdi.
Com a criação do fundo, segundo o economista, o continente está preparado para conter os efeitos do elevado endividamento dos Piigs (sigla em inglês para designar o grupo de países formado por Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha).
Nos últimos dias, o ministro irlandês de Assuntos Europeus, Dick Roche, tem sido pressionado a aceitar ajuda externa. Ele chegou a afirmar que não havia razão para engatilhar um resgate por parte da União Europeia, ou do Fundo Monetário Internacional.
Segundo o professor Alcides Leite, da Trevisan, a opinião do político irlandês vai ficar "apenas na retórica. Todo mundo sabe que é preciso intervir naquele país. A situação se impõe, não há discurso que altere isso."
Problemas maiores
A crise da dívida pública na Irlanda e em outros países, como Portugal, gera efeitos preocupantes, como uma alta recorde nos juros. Apesar disso, a situação não é vista como a maior dor de cabeça para a economia mundial.
A projeção da relação dívida/PIB da Irlanda para 2010 é de 77%. Isto significa que apenas cerca de 20% da renda do país não está comprometida com dívidas. "No caso da Itália, esta relação chega a 118%. Em Portugal, é de 86%", diz Pedro Galdi, da SLW.
O economista diz que há situações muito mais próximas de fazer acender a luz de alerta no mundo. "Uma inflação de 4,5% na China é bem mais preocupante", afirma. Neste caso, o problema é que uma alta desenfreada de preços na economia chinesa obrigaria o governo do país a fazer ajustes que impactariam na demanda. Considerando que a China é a maior importadora do mundo, os efeitos de uma queda no consumo ameaçariam a recuperação global.
Leia matéria da revista EXAME sobre a crise na Europa: O Mundo no Vermelho