Acabou a festa para 007: nada de martinis, diárias em hotéis de luxo e carros superpotentes (Greg Williams/Divulgação)
Rafael Kato
Publicado em 31 de agosto de 2012 às 10h30.
São Paulo - A crise financeira que assola a Europa e ainda dá seus sinais de vida nos Estados Unidos obrigou as agências de espionagem a baixarem novas ordens: nada de martinis, diárias em hotéis de luxo e carros superpotentes. É bom deixar tudo isso para os filmes de James Bond, que, é bem verdade, sempre estiveram longe do dia a dia de um agente secreto.
Na Suécia, por exemplo, o comando de apertar o cinto veio do primeiro-ministro Fredrik Reinfeldt, pois um jornal local revelou esta semana que o Serviço Secreto Sueco (conhecido pela sigla SAPO) deu, em 2011, uma festa para mil funcionários. Os agentes puderam apreciar uma orquestra tocando temas de 007, apostar em roletas iguais a de Cassino Royale, beber champanhe e ver a apresentação de artistas famosos. O custo para os cofres públicos? 650 mil dólares.
Reinfeldt disse que “todos os chefes da agência são bem pagos, portanto deveriam saber melhor o que fazer”. A SAPO alega que se tratou de uma atividade recreativa, cujo intuito era reforçar o conhecimento e a solidariedade entre os espiões. A resposta, obviamente, não colou. A agência terá seu orçamento revisto para o próximo ano.
Mas quem já teve o orçamento revisto para baixo foram o MI6 e a CIA. No Reino Unido, há um corte previsto de 10% no pessoal do serviço secreto. Nos EUA, a situação é pior. A economia a ser feita, em 2012, é de dois dígitos no orçamento de US$ 80 bilhões. Países menores também precisaram cortar seus gastos com espiões, como Austrália e República Tcheca. No país eslavo, a redução de orçamento ameaça o próprio funcionamento da agência conhecida como STB. Não há contratação de pessoal e o equipamento é obsoleto.
Os serviços secretos estão pagando um preço alto pelos altos gastos nos últimos 10 anos. Desde 2001, ano do atentado contra o World Trade Center, o orçamento da área de inteligência aumentou em todo o mundo. Para evitar novos ataques, a meta era descobrir células terroristas. No entanto, como pouco resultado foi obtido — além do aumento dos procedimentos de segurança em aeroportos — os governos decidiram eliminar despesas com pessoal, informantes e operações. A esperança é que hackers, drones e outras tecnologias possam suprir o trabalho de campo.
Mas há uma questão ainda não resolvida nessa história: o que irão fazer os espiões demitidos? Só existe uma recolocação profissional para esse tipo de gente: trabalhar para o inimigo. Isso, é claro, se houver grana.